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A
falta de escrúpulos na obtenção de ganhos pessoais
tem sido uma característica específica daqueles países
cujo desenvolvimento burguês-capitalista, comparado com os
padrões ocidentais, permaneceu atrasado. Como qualquer empregador
sabe, a falta de conscientização dos trabalhadores
nestes países tem sido um dos principais obstáculos
para seu desenvolvimento capitalista.
Capitalismo não pode utilizar-se do trabalho das vítimas
de um indisciplinado livre arbítrio, da mesma forma que não
pode utilizar-se do empresário que parece totalmente inescrupuloso
nos seus negócios com outros. A diferença (no grau
de desenvolvimento capitalista) não reside no grau de desenvolvimento
do impulso de obter lucros. O espírito de "auri sacra
fames" é tão velho quanto a história do
homem. Mas veremos que aqueles que se submetem a ele sem reserva
alguma, como um impulso incontrolável, não são
absolutamente os representantes daquele estado de espírito
do qual deriva o capitalismo moderno.
Em todos os períodos da História, sempre que foi possível,
ocorreram brutais aquisições de valores, desligados
de qualquer norma ética. Como na guerra ou na pirataria,
os negócios eram, via de regra, praticados de forma incontrolável
quando se tratasse de estrangeiros ou de elementos estranhos ao
grupo. Uma ética dupla permitia aqui o que era proibido entre
amigos.
A aquisição capitalista, como uma aventura, tem coexistido
com todos os tipos de estruturas econômicas que conheceram
o comércio e o dinheiro. Da mesma forma, a atitude íntima
do aventureiro que ri das considerações éticas
tem sido universal. Uma brutalidade consciente e absoluta no processo
de aquisição esteve sempre ajustada à tradição.
O mais importante oponente que o espírito capitalista teve
que enfrentar foi a atitude e a reação a novas situações,
que poderíamos designar como "tradicionalismo".
Um homem, por natureza, não deseja ganhar mais e mais dinheiro.
Mas simplesmente viver como está acostumado a viver, ganhando
o dinheiro necessário para isto.
Mas a idéia de que salários baixos significam altos
lucros tem sido uma constante, caminho trilhado pelo capitalismo
inúmeras vezes. A política de salários baixos
falha, inclusive, sob o ponto de vista estritamente empresarial,
sempre que se trate da produção de bens mais elaborados
ou de equipamento mais caro para produzi-los. Nestes casos, a política
de salários baixos não paga, servindo até contraproducentemente.
O trabalho, para ser produtivo, tem que ser desempenhado como se
fosse um fim em si mesmo, um apelo. Esta atitude, porém,
não é de forma alguma um produto da natureza. Não
pode ser evocada por políticas salariais desestimulantes
ou estimulantes, mas pode ser um produto de um longo processo educativo.
O desenvolvimento do capitalismo pode ser melhor compreendido como
parte do desenvolvimento do racionalismo como um todo, diante dos
problemas da vida.
Se considerarmos como "racionalismo prático" este
tipo de atitude que julga o mundo em termos de interesses mundanos
do ego individual, então esta visão de vida passa
a ser peculiar aos povos adeptos do "liberum arbitrium",
como os italianos e franceses. Já nos convencemos de que
este não foi o terreno no qual a relação do
homem com os seus apelos, tão necessária ao capitalismo,
tenha crescido.
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Max
Weber (1864-1920), sociólogo e economista político
alemão. Acreditava que os fatos econômicos e sociais
tinham um "sentido" e necessitavam uma "compreensão".
Dentro desta visão, fez estudos sobre a autoridade e sobre
a sociologia das religiões. "A Ética Protestante
e o Espírito do Capitalismo" é um de seus mais
famosos trabalhos. O texto acima foi extraído e adaptado
de capítulo dessa obra, utilizando-se a versão americana
(Scribnners). |
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