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Quatro
anos depois da irrupção da Revolução
Francesa, no tempo em que Robespierre define sua liderança
como "o despotismos da liberdade". Condorcet sumarizou
um conceito universal: "A palavra 'revolucionário' só
pode ser aplicada a movimentos cujo objetivo é a liberdade".
Crucial à compreensão das revoluções
é a justaposição do conceito da liberdade com
a noção de que algo inteiramente novo está
começando. E a partir do fato de que, no novo critério
para avaliar constituições, tanto nossa compreensão
de revoluções como nossa concepção de
liberdade são profundamente revolucionárias na origem.
A palavra "revolução" não pode ser
encontrada justamente onde se esperaria que estivesse mais presente
- na Renascença italiana. É surpreendente que Maquiavel
utiliza o conceito de "mutazioni del stato" nas suas descrições
de trocas de poder. O interesse de Maquiavel nas inumeráveis
"mutazioni", "variazoni" e "alterazioni"
pode induzir alguns analistas a confundir suas doutrinas por uma
"teoria de troca de poder". Na realidade estava interessado
no imutável, no invariável e no inalterável.
O que o torna importante na história das revoluções
é o fato de que foi o primeiro a pensar na possibilidade
de fundar um corpo politico, permanente e sólido. O que principalmente
distinguiu Maquiavel dos revolucionários da sua época
foi o fato de que compreendeu o conceito de "rinovazione"
que, para ele, resumia-se na única alteração
benéfica a ser saudada. Em suma, o "pathos" revolucionário
da busca da liberdade e do absolutamente novo, do início
verdadeiro de uma página nova, era totalmente desconhecido
para Maquiavel.
A palavra "revolução" originou-se provavelmente
da astronomia a partir da teoria de Copérnico, "De Revolutionibus
Orbium Celestium". No seu uso científico o termo reteve
o seu significado original latino, designando o movimento rotativo,
regular e inexorável dos astros. Por ser infenso aos desígnios
do homem e, portanto, irresistível, jamais se caracterizou
pela novidade ou pela violência. Ao contrário, a palavra
claramente indica uma tendência à recorrência,
ao movimento cíclico. Se transferido para a linguagem dos
negócios dos homens na terra, o termo "revolução"
poderia apenas significar que as poucas e conhecidas formas de governo
revolvem-se como opções aos mortais numa oferta permanente
e com a mesma força que os astros obedecem nas suas precisas
órbitas no espaço.
Quando a palavra "revolução" desceu dos
céus e foi introduzida para descrever os acontecimentos humanos,
apareceu primeiramente como uma metáfora, substituindo aquela
noção do imutável e oferecendo, em troca, a
noção dos altos e baixos dos destinos humanos. No
século dezessete encontramos pela primeira vez a utilização
política da palavra, mas o conteúdo metafórico
ainda estava ligado ao sentido original, o movimento de retornar
a um ponto préestabelecido. A palavra foi primeiramente usada
na Inglaterra não para designar a assunção
de Cromwell ao poder (a primeira ditadura revolucionária),
mas ao contrário, depois da queda do déspota por ocasião
da restauração da monarquia.
Podemos precisar o exato instante em que a palavra "revolução"
foi utilizada no sentido de mudança irresistível e
não mais como um movimento recorrente. Foi durante a noite
de 14 de julho de 1789 em Paris, quando Luís XVI ouviu de
um emissário que a Bastilha havia caído. "É
uma revolta", disse o rei. Ao que o mensageiro retrucou: "Não,
majestade, é uma revolução".
Nas décadas seguintes conformou-se um quadro de que as revoluções
não são feitas de homens isolados, mas resultado de
um processo incontrolável do qual os homens são parte.
E foi somente na metade do século dezenove que Proudhon cunhou
a expressão "revolução permanente"
e com ela trouxe o conceito de que não existem revoluções,
mas uma só, total e perpétua. Teoricamente, a consequência
mais ampla da Revolução Francesa foi o nascimento
da noção de História e do processo dialético,
da filosofia de Hegel. Foi a Revolução Francesa e
não a Americana que incendiou o mundo e foi consequentemente
dela e não do curso dos acontecimentos na América
que a presente conotação da palavra ganhou o formato
atual. Neste nosso século as ocorrências revolucionárias
passaram a ser examinadas dentro dos padrões franceses e
em termos de necessidades históricas.
O que os revolucionários russos aprenderam dos franceses
foi História e não ação. Eles captaram
a habilidade de desempenhar qualquer papel que o grande drama da
História estava prestes a lhes confiar e se nenhum outro
estava disponível a não ser o de vilão, como
aconteceu, eles o aceitaram como meio de não ficarem fora
do enredo.
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Hannah Arendt (1906-1975), pensadora nascida na Alemanha
que emigrou para os EUA quando começaram as perseguições
nazistas contra os judeus. Foi uma precursora da moderna ciência
política mas enfatizando sempre suas preocupações
em torno dos valores humanos, notadamente a liberdade e os direitos
civis. Sua mais famosa obra é "Origens do Totalitarismo"
(editada em português pela Ed. Documentário). O texto
acima foi extraído de seu trabalho "Sobre as Revoluções"
(Vicking Press, N.I.). |
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