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A
imprensa democratica virá hoje furibunda contra o governo
por ter permitido que chovesse... Ás poucas gotas d'agua
que cahiram atribuirão elles a frieza com que a nossa capital
recebeu hontem o sr. Getulio Vargas, candidato de quatro gatos pingados
á presidencia da Republica. E, mais uma vez, faltarão
á verdade. Os democraticos sabem que todas as tardes, nesta
época, cae rapido aguaceiro. A isso estamos habituados, e,
porque estamos, raro é o cidadão que deixa em casa
o impermeavel ou o guarda-chuva. Eis, porque, intencionalmente,
deliberaram fazer viajar de dia o sr. Getulio e forçal-o
a chegar depois das dezoito horas. Assim, poderiam attribuir ao
tempo a ausencia de enthusiasmo, - pois quem gritou e applaudiu
foram apenas os promotores da passeata. A desculpa, entretanto,
não pegará. São Paulo em peso sabe, por ter
visto, que o centro da cidade, como o Braz, apresentava, hontem,
o mesmo movimento de todos os sabbados, dia da semana em que o transito
de pedestres é sempre mais intenso.
Faltariamos, porém, á verdade se negassemos que na
estação do Norte e no largo fronteiro, assim como
pelas ruas por onde passou o cortejo democratico se encontravam
muitas pessoas que não pertencem ao agrupamento político
hoje chefiado pelo sr. Antonio Carlos, inimigo rancoroso de S. Paulo.
Essa presença, entretanto, explica-se. Tambem nós,
que não somos filiados a nenhum dos partidos em lucta, comparecemos
ao desembarque do politico gaucho. Não comparecemos para
levar-lhe o nosso applauso nem com o intuito de augmentar o numero
de admiradores das suas qualidades negativas. Fomos, - como foram
todos os que nenhuma ligação têm com o alliancismo
manchado de sangue ou com a democracia de escabeche - movidos pelo
instincto da curiosidade. Desejavamos, como os demais desejaram,
ver de perto a figura do autor da celebre carta de 10 de Maio dirigida
ao sr. presidente Washington Luis.
Nesse documento, engulido dois mezes mais tarde, o sr. Getulio Vargas,
sem que fosse solicitado, dizia, referindo-se ao problema successorio,
que o eminente chefe da nação poderia contar com o
apoio decidido do P. R. R. e com o seu proprio. O Rio Grande não
tinha aspirações e o sr. Getulio nada ambicionava.
Ao passo, porém, que assim escrevia, os seus agentes manobravam
ás occultas para, de accôrdo com o sr. Antonio Carlos,
decorridos sessenta dias, lançar, contra a vontade de dezesete
Estados, que a repudiaram, a sua candidatura.
A divulgação do triste documento, revelador da insinceridade
e da felonia do presidente de um grande Estado, chocou profundamente
o Brasil. De extremo a extremo do Paiz os homens de bem, os homens
que não estão acostumados a fugir aos compromissos
assumidos, não puderam conter a sua repulsa. O sr. Getulio
appareceu como a nota dissonante no concerto da lealdade nacional.
E todos queriam conhecer de perto essa personalidade rara. Dahi,
a presença da gente a que alludimos e que para vel-o não
se importou com a chuva.
Mas, não interessava apenas o epistolographo. Interessava
tambem o autor da lamentavel chatafórma, no outro dia lida
ao ar livre. O escriptor fracassado desse documento vasio, sem idéas,
sem estylo e sem concatenação tambem merecia ser visto.
Era indispensavel que um punhado de paulistas deitasse o olhar sobre
o plagiador incapaz, sobre o candidato de mentalidade chula que,
sem preambulos, traçou o programma da ruina da lavoura de
São Paulo, sobre o candidato infeliz que esboçou o
plano de ataque contra o café, plano que prometteu executar
se a inconsciencia o elevasse ás culminancias do Poder.
Desconhecendo o trabalho cyclopico dos nossos fazendeiros, desconhecendo
o vulto dos capitaes que investiram na terra, desconhecendo a nossa
vida, as nossas possibilidades e as necessidades, - desconhecendo
isso tudo, o sr. Getulio Vargas, ôco como uma bola de celluloide,
sem preparo nem autoridade para falar em café, pois em materia
de producção não logra transpôr as fronteiras
do mate e do churrasco, cavalgou a carta ha nove annos escripta
pelo conselheiro Antonio Prado ao sr. Nilo Peçanha, endossando-a.
Estribando-se nas idéas já fossilissadas dessa carta
morta, o impagavel sr. Getulio entende que para salvar o café
- defendido e amparado pelo governo paulista e pelas organisações
por elle creadas ou remodeladas - devemos cogitar do seu barateamento.
Se a isso se limitasse está claro que se poderia ainda conversar
com a sua profunda ignorancia no assumpto. O idolo dos democraticos
de S. Paulo, porém, foi mais longe. Quer baratear até
descer aos preços vis, aos preços que importariam
na desmoralisação do producto e na ruina da lavoura.
O ridiculo sr. Getulio Vargas deseja o café vendido a 10$
e 15$ por arroba. A sacca da rubiacea não deve ultrapassar
os sessenta mil réis. Não é phantasia nossa.
Está escripto na colcha de retalhos a que deu o nome indevido
de platafórma. Dirão as folhas democraticas que não
nos devemos impressionar com isso, pois o sr. Getulio não
é homem capaz de cumprir o que promette, verbalmente ou por
escripto. Mas, á observação responde-se com
outra. Se o sr. Getulio, como os seus partidarios reconhecem, fugiu
indecorosamente ao compromisso tomado na carta de 10 de Maio, no
tocante ao café não deixaria de observar a chatafórma
porque a riqueza e a prosperidade de S. Paulo são o seu constante
pesadelo. E tanto são que com a sua presença em terra
paulista veiu emprestar solidariedade á campanha movida ao
café pelos democraticos, seus adeptos.
Está pois explicada a presença dos curiosos que, não
pertencendo ao partido do sr. dr. Paulo de Moraes Barros, compareceram
á estação do Norte ou assistiram accidentalmente
á sua pasagem pelas ruas do centro. Elles estavam empenhados
em lobrigar a figurasinha inexpressiva do celebrado epistolographo
e apaixonado inimigo do café.
Não acredite, pois, o sr. Getulio Vargas nas palinodias democraticas.
Os que foram á estação foram vel-o para a 1.o
de Março votar no candidato nacional.
Uma impressão exacta, porém, levará o bochechudo
Sr. Getulio para o Sul: em S. Paulo, terra de liberdade, os democraticos,
garantidos pelas autoridades, podem fazer manifestações
aos inimigos da nossa terra, aos inimigos da nossa producção
- cousa que no Rio Grande não é permittido. |
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