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O
problema colonial concentra-se, hoje em dia, na Africa e nas Indias
Orientaes. O resto do mundo está em mãos firmes. Paizes
e continentes que, ha uma decada de annos, não passavam de
colonias ou protectorados mais ou menos disfarçados, tornaram-se
dominios autonomos e estados independentes. Porções
importantes do Imperio Britannico consideram-se seus alliados, com
direitos iguaes. A America do Norte e a do Sul perderam as suas
caracteristicas coloniaes.
Assim, o nó do problema colonial está no Oceano Indico,
num vasto semi-circulo que encerra a costa oriental da Africa, a
Arabia, as Indias Orientaes e a Australia. Dessas terras, as que
ficam em zonas temperadas, no sul - a União Sul-Africana
e a sua contrapartida oriental, no outro lado do Oceano, a Australia
- tornaram-se membros autonomos do Imperio Britannico.
O futuro da França, na Indochina, e da Hollanda, nas Indias
Orientaes, depende de saber se a Inglaterra conseguirá sustentar
a sua posição na India. Se estas tres potencias se
mostrarem incapazes de manter-se na Asia, o Japão, inevitavelmente,
pretenderá a herança. Somente o Imperio do Sol Nascente
possue meios de construir outro imperio, nas margens do Oceano Indico.
É duvidoso que o Japão tenha capacidade para colonizar,
em grau igual ao dos "diabos brancos". Nem é certo
que os povos da Indochina e das Indias Orientaes, acceitem de boa
vontade uma mudança de senhores. O seu odio pelo Japão
não é menos intenso do que pelos chinezes. Ultimamente,
a India está tão afastada do Japão como da
Europa, e a Inglaterra possue uma forte posição de
flanco na Australia.
Mesmo as nações européas, que não se
acham directamente interessadas na India e nas Indias Orientaes,
têm interesse - uma verdadeira obrigação moral
- de auxiliar os inglezes, os hollandezes e os francezes. Exigem-no
os interesses da raça branca. A posição da
Grã-Bretanha, na India, deve ser auxiliada em todas as circumstancias.
A fronteira da Europa está em Singapura. O problema colonial
asiatico só pode ter uma significação para
a Europa.
A situação é muito differente na Africa, embora
mesmo ahi a propaganda contra os brancos importada da Asia, desempenhe
papel muito sério. Indianos, chinezes, arabes e japonezes
encontram-se por toda a parte, entregues ao commercio, desde Aden
à Cidade do Cabo, não raro em alta escala. O sonho
do Japão do dominio do mundo, à moda britannica, estendeu-se
por toda a Africa.
As concessões japonezas para plantação de algodão
na Abyssinia mostram o que se pode esperar de tal infiltração.
Entretanto, de uma maneira geral, os interesses europeus na Africa
correm menos perigo do que em qualquer outro continente. Mas, se
o Japão conseguir avançar as suas sentinellas para
além da India e das Indias Neerlandezas, à custa dos
brancos, a Africa ficará em posição extremamente
critica.
Mas, ao falar da communidade dos interesses europeus na India e
nas Indias Neerlandezas, é claro que esta communidade de
interesses só pode permanecer effectiva, se os direitos,
tanto quanto os deveres das nações européas,
forem distribuidos por igual. A superficie da Africa é superior
a onze milhões de milhas quadradas. Quase 40 por cento dessa
área enorme pertence á Inglaterra, 30 por cento á
França, 8 por cento a Belgica e mais ou menos 7 por cento
a Portugal. É impossivel afirmar que tal distribuição
corresponda, de qualquer forma, á importancia dos varios
paizes europeus nos destinos da Europa, tomados em conjunto.
Uma coisa é certa. A Inglaterra, a França, e a Hollanda
têm tudo a perder na Asia, a menos que tenham por trás
as nações européas a defender ali as suas possessões.
Se o Japão conseguir expulsar os hollandezes das Indias Neerlandezas,
toda a Asia ficará perdida para os europeus. Pode a Hollanda
defender sozinha as Indias? Que acontecerá se rebentarem
simultaneamente rebeliões na India e no Egypto contra a Inglaterra,
nas Indias Neerlandezas contra os holandezes, e na Indochina contra
a França? Que acontecerá no dia em que toda a China
cahir nas mãos dos japonezes? Appellará Londres, na
hora da afflicção, para a Europa, em seu auxilio?
E conseguirá a Europa afastar e dominar a tempestade de propaganda
que se manifestará nas plagas africanas? Em Moçambique
(Africa oriental portugueza) ha apenas 15.000 brancos para dois
milhões e meio de pretos. Na Africa oriental britanica e
franceza a proporção não é muito differente.
Cerca de 1.500 asiaticos foram recentemente expulsos de Moçambique
por serem considerados fermento de perturbação anti-européa.
No Tanganika, 8.500 brancos estão completamente perdidos
no meio de cinco milhões de pretos e 33.000 asiáticos.
Qual é hoje o problema da Africa? As duas grandes potencias,
a Inglaterra e a França, devem compreender que, a menos de
fazerem concessões satisfatorias, ao restante da Europa,
terão de combater sozinhos as suas batalhas, em outras partes
do mundo. A assistencia da Europa e de outras grandes potencias
na Asia não pode ser alcançada livre de encargos.
O papel da Inglaterra em 1914, não detendo a guerra, com
a sua determinação ferrea, foi indubitavelmente uma
falta de visão do ponto de vista dos interesses da raça
branca. Os accordos coloniaes de 1919 foram verdadeiras loucuras.
Devemos agora recomeçar no ponto em que estavamos em 1914.
Devemos passar para mãos fortes aquelles territorios africanos
que, ao presente, estão em fracas mãos, isso á
parte qualquer revisão do estatuto colonial corporificado
nos tratados de paz. Ninguem razoavelmente deve oppôr-se á
idéa de um condominio na Africa. Tambem ninguem pensa em
despojar os belgas ou os portuguezes dos seus dominios da Africa.
Mas, deve compreender-se que o principio da porta aberta não
é apenas um principio commercial, no que diz respeito á
Africa. O vigoroso desenvolvimento do continente negro depende da
participação de todos os povos europeus, o que dará
maiores facilidades de vida á propria Europa. O facto da
Italia ter perdido a paciencia e começado a agir por conta
propria, independentemente, mostra que chegou a hora de encarar
estes problemas num espirito racional.
Ápparte a Africa do Norte franceza que é bem administrada
e goza de um commercio activo, áparte a Africa do Sul que
é por si mesma um Estado, e áparte ainda o Egypto
cuja posição geographica é particularmente
favoravel, o desenvolvimento economico da Africa caminha muito devagar.
Ha falta de europeus empreendedores e audazes. Não se trata
de apoderar-se de um boccado da Africa, mas sim de resolver o problema
africano. Se esperarmos que comece a inevitavel luta na Asia, será
tarde demais. A supermacia dos brancos na Africa estará em
perigo. |
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