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E' grande o numero de reis que em toda a sua vida jamais falaram
com tanta sinceridade como nos seus ultimos momentos: em todos os
paizes ha existido um monarcha que esperou essa solemne ocasião
para reconhecer seus erros ou suas faltas. Felippe III, em seu leito
de morte, voltou-se para um dos seus ministros e lhe disse: - "Boa
conta vamos dar a Deus de nosso governo!" As ultimas palavras
de Carlos IX da França, atormentado pela recordação
de Saint Barthelemy, foram estas: - "Quanto sangue! Quantos
crimes! Que Deus me perdoe o mal que fiz!"
A história da Inglaterra conserva as ultimas phrases pronunciadas
por alguns de seus reis, que tambem não deviam ter a consciencia
muito tranquila. A rainha Isabel morreu exclamando: - "Todos
os meus bens por um momento de vida!" Guilherme II perguntava,
ao morrer: - "Isto póde durar ainda?" e Ricardo
III gritou, na sua agonia: - "Traição! Traição!"
Estas palavras contrastam com as do grande Carlos V, que ao expirar,
em Juste, com serenidade e resignação commovedoras,
estirou a mão para tomar um crucifixo, murmurando: - "Já
é tempo, Jesus!" E exhalou o ultimo suspiro.
Outro rei da Hespanha, Fernando, o Santo, teve uma morte egualmente
christã: considerando que morrer era o acto mais glorioso
de sua vida, ordena em seu último instante aos sacerdotes
que entoassem um "Tedeum", e, ao começar o canto,
expirou. E' tambem digna de menção a resignação
de Luiz XV da França, que ao ver os seus cortezões
chorando, junto ao seu leito de morte, lhes perguntou: - "Porque
choraes? Suppunheis que eu ia viver eternamente? e logo acrescentou:
"Pensei que era mais dificil morrer!" - "Um rei deve
morrer de pé", exclamou, ao deixar a vida, Luiz XVIII,
da França. Jacob V, da Inglaterra, que recebeu, quando agonizava,
noticias do nascimento de sua filha Maria, a famosa Maria Stuart,
disse propheticamente: - "A coroa veiu por uma mulher e se
irá por uma mulher".
Muitos soberamos se têm preocupado mais com os outros do que
comsigo mesmos, em seus ultimos momentos. Exemplo: Alexandre I,
da Russia, que, depois de excusar-se da sua servidão com
os incomodos causados pela sua longa enfermidade, dedicou suas ultimas
phrases á sua esposa, dizendo com profunda ternura: - "Deves
estar cansada, Izabel!" Taes palavras recordam a phrase "Pobre
Carlota!" que pronunciou o imperador Maximiliano, no momento
de ser fuzilado.
Outros monarchas se têm sentido inclinados ao perdão
das ofensas e suas phrases derradeiras respiraram a mais nobre generosidade.
O grande Carlos III, ao perguntar-lhe o patriarca das Indias si
perdoava a seus inimigos, respondeu: - "Pois havia de esperar
este transe para perdoal-os? Todos foram perdoados no acto da offensa".
Ricardo I, da Inglaterra, tambem morreu perdoando: acabava de ser
ferido por uma flecha de Bertrand de Gourdon e ao vêr que
este havia cahido prisioneiro, disse, nos estertores de agonia:
"Jovem, eu vos perdôo"; e, voltando-se para os creados,
ordenou-lhes: - "Tirae-o das correntes, dae-lhe cem shilings
e deixae-o ir livremente".
Luiz XIV, rei da França, não viveu o bastante para
terminar sua ultima phrase: - "Francezes, (gritou do cadafalso)
morro innocente dos crimes que me imputam: pedi a Deus que o meu
sangue não caia sobre a França. Si ..."
Um rumor de tambores o interrompeu e embora tivesse pedido em gritos
que o deixassem continuar, foi impossivel ouvir-lhe uma palavra
mais.
As ultimas palavras de alguns reis contemporaneos tambem se fizeram
celebres. Alberto, esposo da rainha Victoria de Inglaterra, disse:
- "Tive riquezas e dignidades, e poder; porém, si tivesse
tido apenas isto, quão infeliz teria sido!" E as palavras
com que Affonso XII passou desta para melhor foram: "Que conflicto!
Que conflicto!". |
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