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Perante a Sociedade Real de Edinburgo, L.J.F. Brimble um dos diretores
da famosa revista cientifica "Nature", que desde de 1869
se edita na Inglaterra, teve a oportunidade de dizer algumas coisas
interessantes e verdadeiras a respeito das relações
entre os cientistas e a imprensa. Em primeiro lugar referiu-se à
propria revista "Nature", que embora editada por uma casa
editora, a Macmillan, jamais sofreu qualquer especie de interferencia
da parte dos donos dessa firma. Nem os proprios livros editados
pela Macmillan gozam de qualquer tratamento especial por parte dos
criticos, dos rigorosos criticos da revista. E' justa, pois, a afirmação
de Brimble de que nem todos os cientistas percebem a divida que
têm para com os donos da Macmillan. A revista, lançada
para contribuir para o progresso da ciencia, embora custeada por
uma instituição privada, continua sua antiga politica.
Durante muitos anos deu sensiveis prejuízos, mas isso não
impediu que continuasse viva.
Passando a tratar dos cientistas, Brimble, com sua longa autoridade
de homem que há tantos anos lê e analisa tantos originais
destinados à publicação, lamenta que os cientistas
modernos se mostrem tão afoitos em enviar seus trabalhos
à publicidade. É comum hoje verificar que alguns cientistas,
depois de enviar um trabalho à revista, correm a retirá-lo
ou modificá-lo, por haverem descoberto um erro qualquer,
ou por terem descoberto que a mesma experiencia ou a mesma descoberta
já foi feita por outrem. Essa tendencia tambem se verifica
nas provas que devem corrigir e que retornam inçadas de observações
que de modo algum se achavam no texto primitivo.
Lamenta igualmente que a pressa acima muitas vezes se deva à
mania da prioridade. Não raro o editor da revista recebe
pedido de publicação urgente porque o autor soube
que a mesma experiencia está sendo feita alhures. Quão
melhor seria que os grupos de pesquisadores, ao saber que outros
estão trabalhando no mesmo assunto, tratassem de se pôr
em contacto para acertar seus trabalhos e deles tirar um artigo
ou uma comunicação comum!
Outro mal é o excesso de literatura cientifica de menor interesse,
que impede de "ver a mata por causa das arvores", como
os ingleses gostam de dizer. Lembra ele o dito de Rutherford, segundo
o qual, quando o cientista não pudesse dizer em 500 palavras
o que devesse comunicar de origem em suas "cartas" à
revista "Nature", deveria concluir que algo de errado
devia existir em seu trabalho (para governo dos leitores: as comunicações
originais na famosa revista inglesa aparecem sob a forma de cartas
dirigidas à redação). O mais interessante é
que Brimble não se recorda de, em toda sua carreira de editor
cientifico, ter devolvido aos autores um artigo com o pedido de
reduzi-lo de dois terços, sem ter sido eficientemente atendido.
Só umas duas ou três vezes tal não se deu. E'
que os autores de fato escrevem demais. Convida, ele, pois os cientistas
a formular a si mesmos as seguintes três perguntas: 1) Está
certo de ter dito o que queria? 2) Está certo de que o disse
com o menor numero de palavras possivel? 3) Afinal vale a pena dizê-lo?
Alguns cientistas, especialmente os novos, parecem acreditar que
o valor de um artigo cientifico dependa de seu tamanho. "Eu
recomendaria encarecidamente aos cientistas que mantivessem a boca
fechada e as canetas secas até o momento de conhecer realmente
bem os fatos ou ter certeza do que realmente desejam dizer".
Passou depois Brimble a considerar a imprensa leiga, em seus esforços
de divulgação. Reclama maior apoio dos cientistas
aos divulgadores e aos interpretes da ciencia para o publico. Já
passou tempo em que o cientista que ousasse escrever um artigo de
divulgação nos diarios populares se sentisse olhado
de soslaio e com suspeita pelos colegas. Parecia-se admitir que
se uma pessoa fosse capaz de escrever bem, sua ciencia deveria ser
de segunda classe. Mas tal não é verdade, e nem deve
nem pode ser. Muitos dos nossos cientistas, diz ele, nem sabem se
são capazes, ou não de escrever para o grande publico,
porque jamais o tentaram. Se maior numero desses homens tentasse
a empresa, poderiamos ter a certeza de que a verdade cientifica
atingiria integralmente o publico, da melhor forma possivel. "Há
todavia muitos cientistas que se afundam tanto em seu proprio jargão,
que se torna praticamente impossivel interpretá-lo para o
grande publico. Esse aspecto da questão, é claro,
como muitos outros problemas, resume-se afinal numa questão
de educação".
Da parte da imprensa nota-se uma tendencia para melhorar sempre
a qualidade das informações cientificas, pelo contrato
de redatores cientificos especializados. Essa melhora data de uns
vinte anos. Muitos cientistas, apesar disso, ainda procuram fechar-se
à imprensa leiga, por medo de serem mal interpretados. Essa
atitude, que talvez tivesse fundamento em outros tempos, não
mais se justificaria hoje. E termina o experimentado Brimble:
"O cientista compreensivo, ativo no campo da pesquisa, tratará
de aproximar-se da imprensa e colaborar com ela. É um dever não
apenas para consigo mesmo mas para com a ciencia, pois enquanto
o grande publico que lê os diarios mas não lê
os jornais cientificos, permanecer mal informado sobre as coisas
da ciencia, continuaremos a ouvir a queixa de que a ciencia é
a causa de muitos do males do mundo e a opinião de que os
cientistas devam ser postos a ferros." |
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