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Neste
texto foi mantida a grafia original
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"AS
POSSIBILIDADES DA GRAVURA NÃO FORAM SUFICIENTEMENTE EXPLORADAS"
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Ouvindo
o artista Livio Abramo, que expõe presentemente seus trabalhos
nesta Capital - As experiencias de Thomas Bewick - Atrasada a
gravura européia
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Velhos equivocos afetam a compreensão das obras artisticas contemporaneas.
A escassissima difusão - reduzida, em geral, à literatura facil
ou a demagogicos empreendimentos - aliada à frustada participação
dos diferentes generos artisticos na nossa vida social, escavaram
profundo sulco entre as criações plasticas e o "gosto" comum. A
causa de tal fato reside, talvez, nos numerosos preconceitos que
o publico ainda mantem sobre a qualidade constante da linguagem
artistica. Nessas condições, impõe-se a necessidade de rever nossas
opiniões à luz das experiencias do artista, para verificar e diferenciar
os elementos que realmente dão conta da beleza plástica. Nesse sentido,
a entrevista com Livio Abramo poderá fornecer ao leitor elementos
fundamentais para a descoberta da estrutura intima da linguagem
da gravura.
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O
desenvolvimento da gravura
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Livio Abramo, que está expondo seus trabalhos no Museu de Arte Moderna,
é dos pouquissimos que no Brasil promove (há trinta anos) constante
indagação, aliás amplamente reconhecida, no domínio da gravura,
particularmente para a eficiencia da xilografia. -"O desenvolvimento
da gravura levou à explicação do significado de seus elementos,
fixando e distinguindo os que lhe são peculiares como genero artistico"
-declarou-nos o entrevistado, traçando breve historico da gravura.
E acrescentou: -"Antigamente a gravura era auxiliar do desenho,
e teve que esperar até à Renascença para encontrar sua liberdade
e independencia. O gravador era um operario que entalhava o desenho
fornecido pelo artista. Quando, porem, Alberto Durer, para ilustrar
a "Divina Comedia" passou do primarismo linear a desenhar com meias
tintas aquareladas, os gravadores tiveram que recorrer a processos
mais complexos, aliás precedentemente experimentados pelo inglês
Thomas Bewick, processos esses caracterizados pela descoberta e
aproveitamento de materiais adequados. Soube-se, assim, que a gravação
sobre madeira de topo permitiria qualquer direção ao instrumento
e que somente o buril de determinada forma poderia dar o corte desejado.
De outro lado, no exercicio cotidiano, os gravadores começaram a
apreciar certos efeitos graficos e chegaram à conclusão de que os
golpes negativos sobre o preto eram tão valiosos quanto os pretos
sobre o branco. Desenvolveram o ensinamento de Thomas Bewick, deixando
de gravar em fac-simile para finalidades artisticas. "Estas, em
substancia, as origens da gravura moderna, que nada mais tem a partilhar
com aquela arte mecanica. A luz desprendida dos cortes ia encontrando
uma beleza sistematica, os requisitos plasticos suficientes. Nascida
para reproduzir e difundir as obras pictoricas, a gravura tornou-se
novo genero, às vezes, pelo rigor de sua linguagem, mais plastico
do que certas pinturas".
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Relações
entre pintura e gravura
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A proposito das relações entre pintura e gravura assim se expressou
Livio Abramo: -Pessoalmente, sou dos que se batem contra o erro
de confundir gravura com pintura e a injustiça de torná-la um atributo
desta. Quando se fala ou se escreve sobre gravura não se deveria
sequer usar os mesmos termos empregados para a pintura. Há uma concepção
tradicional da gravura, como o há da pintura, que dirige os meios
expressivos para a reprodução do objeto fisico; abusa de claro-escuro,
modelado, e deturpa a beleza grafica para a documentação otica da
natureza. Diversamente, a nova concepção, caracterizada pela grafia
bidimencional, dosa os entalhes para conjuntos harmonicos subtraindo
do plano preto elementos cuja beleza nada deve à figura que reproduzem.
Nesse sentido, a gravura participa dos problemas artisticos de nosso
periodo historico. Sendo sua tarefa essencialmente mecanica, a gravura
tradicionalista tende a imitar a pintura. Pode-se dizer que em suas
formas passadas a gravura tornou-se uma modalidade da pintura, chegando
até a usar de coloridos, como se dá com a gravura japonesa (1)".
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Posssibilidades
no futuro
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Fazendo ligeiro prognostico sobre o futuro da gravura, diz-nos Livio
Abramo: -"Acho que as possibilidade da gravura não foram suficientemente
exploradas. Atualmente, estou conduzindo pesquisas que poderiam
resultar num conhecimento mais profundo da materia gravada, seja
no seu aspecto natural, seja no artistico. Basta pensar que se podem
estampar as gravações do tronco, tirar copias das materias das paredes,
pois toda superficie grava e imprime, e infinitos são os aspectos
obtiveis, os quais, pelo aproveitamento estetico, muito concorreriam
para o progresso artistico, para a compreensão da gravura moderna.
"Julgo a gravura européia atrasada - continuou - presa ainda a formulas
e interpretações tradicionalistas. Interessa-me pela gravura inglesa
contemporanea e a de alguns mexicanos. No Brasil, a gravura é pouco
cultivada e nada apreciada. Osvaldo Goeldi, entre nós, honra este
genero; dos jovens, desejo lembrar Marcelo Grassman, entre alguns
mais que atuam dentro do principios da xilografia moderna. Não temos
escolas adequadas; a única que conheço e a da Casa da Moeda, cujo
ensinamento artesanal é otimo mas carece totalmente de orientação
estetica.
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(1)
- Na verdade, é dos elementos particulares que provem o sentido
da gravura moderna. O golpe sobre a madeira é inimitavel. A mão
armada de buril e guiada pelo sentido estetico, estribilha brancos
e pretos em ordens variadas e inventivas. A relação geral de todos
os elementos dará a estrutura da gravura. As diferentes formas da
gravura são sugeridas pelos diferentes materiais empregados, os
quais requerem novos instrumentos e diversas maneira de trabalhar.
Publicado na Folha da Manhã |
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Data
de publicação |
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08.out.1950 |
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