São Paulo, quarta-feira, 9 de junho de 1982


HOJE SE COMEMORA O "DIA DE ANCHIETA", O JESUÍTA QUE TEVE UMA ATUAÇÃO MARCANTE NA VIDA BRASILEIRA


De mestre-escola a estrategista militar


Pesquisa do
BANCO DE DADOS - "FOLHA"


Evangelizador, mestre-escola, enfermeiro, literato, comediógrafo, guerreiro, refém, herói e estrategista. Em 25 anos de trabalho no Brasil, o jesuíta José de Anchieta deixou a marca da sua presença em quase tudo: ajudou a fundar São Paulo e o Rio de Janeiro, foi precursor da literatura brasileira e por duas vezes foi combatente. Na primeira, defendeu São Paulo de Piratininga de ataques tamoios e na segunda combateu os franceses ao lado de Estácio de Sá. Nessa guerra, para evitar perdas de vida, ofereceu-se como refém aos índios tamoios (aliados dos franceses) e conseguiu que os ajustes de paz chegassem a bom termo.

Nasceu a 19 de março de 1534, em São Cristovão de Laguna, na ilha de Tenerife, Canárias. Era filho de família nobre e estudou humanidades na Universidade de Coimbra. Aos 19 anos, já na Companhia de Jesus, chegou no Brasil. Viveu em Itanhaém, em São Paulo, no Rio, na Bahia e Espírito Santo. Assistiu em 1554, na companhia de Manuel da Nóbrega, a primeira missa celebrada no Pátio do Colégio, local do Colégio do Planalto de Piratininga, fundado por ele.

Exerceu o cargo de provincial da Ordem dos Jesuítas de 1578 a 1595. Em 1554, depois de fundar o Colégio do Planalto, verificou que não havia mestres na quantidade necessária. Resolveu o problema lecionando, ao mesmo tempo, latim, castelhano, doutrina cristã e língua brasílica.

No Rio de Janeiro foi paciente enfermeiro dos primeiro internados no hospital da Santa Casa de Misericórdia, fundado por ele. Também aí supria com seus préstimo a falta de mão-de-obra. Mais tarde tomou a direção da Bahia, de onde voltou para o Sul, ficando no Espírito Santo. Nas duas províncias continuou o trabalho de catequese e foi na aldeia espírito-santense de Rerigtibá que faleceu, a 9 de junho de 1597. 9 de junho é o "Dia de Anchieta".

Deixou para conhecimento dos seus sucessores duas obras especializadas: "Gramática da Língua Brasílica" e "Vocabulário Tupi-Guarani". Escreveu mais de quatro mil versos nas areias de Iperoig, em louvor à Virgem Santíssima e compôs cantigas e diálogos. Seus métodos de ensino foram adotados por muitos anos nos estabelecimento de ensino dos jesuítas brasileiros . Por seu trabalho de catequese, de educação, na fundação de hospitais e muitos serviços prestados à população, José de Anchieta recebeu dos historiadores o título de "Apóstolo do Brasil".

Beatificação veio em 1980

1597 - Morte de Anchieta.

1617 - Vinte anos depois de sua morte, os jesuítas da Bahia já pediram à Santa Sé sua beatificação e canonização. Em consequência, o padre geral da Companhia de Jesus ordenou que se realizassem os primeiros processos informativos sobre ele em todas as prelazias do Brasil. Nessa época, já havia duas biografias conhecidas sobre Anchieta, sendo uma delas, "A Vida do Padre Anchieta", em latim, de autoria do padre Sebastião Berettari, foi editada simultaneamente em Coletânea (Alemanha) e Lyon (França).

1624 - A Santa Sé aceitou a causa de sua beatificação e por sua autoridade se realizaram outros processos sobre sua vida e milagres a ele atribuídos, em Lisboa, Évora, Olinda, Rio de Janeiro e São Paulo.

1736 - A Santa Sé, por decreto do papa Clemente 12, declarou que o padre Anchieta era um modelo de virtudes cristãs, praticadas em grau heróico e lhe atribuiu o título de venerável, depois do exame pormenorizado de sua vida e seus escritos. Era o primeiro passo para a beatificação. A seguir, foram realizados alguns processos sobre possíveis milagres, posteriores à sua morte. Sua beatificação era esperada para breve, pois, na própria igreja do Pátio do Colégio, havia um altar preparado para receber a imagem.

1760 - O marquês de Pombal expulsou os jesuítas de todos os territórios da coroa portuguesa.

1773 - A Companhia de Jesus foi suprimida durante o pontificado de Clemente 14 e todos os processos de beatificação e canonização de jesuítas foram suspensos.

1814 - Foi restabelecida a Companhia de Jesus no pontificado de Clemente 7.º, mas nessa época não havia jesuítas no Brasil.

1842 - Chegaram ao Brasil os primeiros jesuítas após o restabelecimento de sua ordem, mas os primeiros que voltaram, estavam muito ocupados com sua reorganização, para poderem dar atenção ao processo de Anchieta.

1875 - A reabertura do processo de beatificação de Anchieta foi uma iniciativa de d. Vital Maria Gonçalves de Oliveira, bispo de Olinda e Recife, que se celebrizou por sua polêmica com o imperador Pedro 2.º, que ficou conhecida como "questão religiosa". Considerou-se na época que a beatificação de Anchieta seria uma boa medida diplomática para pôr fim ao conflito entre as autoridades eclesiásticas e as civis no Brasil.

1897 - Houve um pedido encaminhado por numerosos bispos brasileiros.

1899 - Houve outro pedido encaminhado por bispos latino-americanos. No começo do século 20, foi realizado outro processo sobre milagres posteriores à morte, que também não satisfez à Congregação dos Ritos. Na década de 60, foram feitos inúmeros pedidos, não só de bispos, mas também de entidades culturais brasileiras. Na época de João Goulart, foi encaminhado um pedido oficial do governo brasileiro num pergaminho que continha as assinaturas das principais autoridades dos três Poderes do País.

1969 - Houve um pedido da maioria do episcopado do País.

1974 - Outro pedido também da maioria do episcopado do País.

1977 - Registrou-se um pedido unânime de todo o episcopado brasileiro, que é um dos mais numerosos do mundo, dirigido ao papa Paulo 6.º. A causa de Anchieta foi então reativada, mas o Papa morreu antes que a questão fosse resolvida. O papa João Paulo 1.º acolheu a idéia com benevolência, mas em seu curtíssimo pontificado nada foi possível fazer.

1980 - A 28 de março, fontes do Vaticano e da Companhia de Jesus confirmaram extra-oficialmente a beatificação de Anchieta.

1980 - A 22 de junho, Anchieta é oficialmente beatificado pelo papa João Paulo 2.º, às vésperas de sua visita ao Brasil.

(M.C.C.)
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