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A Radio Sociedade Record está na ordem do dia. Ou pela sua
campanha de socios, que esta alcançando um exito superior
a todas as expectativas, ou por ter iniciado uma éra nova
para a radio-telephonia em S. Paulo, a verdade é que a estação
da Praça da Republica é assumpto permanente de palestras.
Principalmente quando se aproxima alguem ligado á popular
estação transmissora. Foi esse o caso de Origines
Lessa, o "conteur" de "Garçon, Garçonnette,
Garçonniére" e de "A Cidade que o Diabo
esqueceu". Um encontro casual com o homem que faz a publicidade
dos artistas da Record encaminhou naturalmente a palestra para as
ultimas actividades da operosa estação.
- Então, Origenes, o que é que se faz?
A resposta - chapa:
- Trabalha-se.
- Novos livros?
- Não, eu não. Trabalha a Record. Venho de lá
agora. Quando se fala em trabalho, neste tempo, é sempre
em referencia á Record. Vocês não têm
visto?
E Origenes Lessa conta-nos o que se faz naquella casa. Fala mais
uma vez na já famosa companha dos 5.000, refere-se aos constantes
melhoramentos nos programmas da PRAR.
- E quanto aos artistas? Coisa boa?
- Quem tem radio em casa responderia melhor do que eu. A Record
tem apresentado, nos seus programmas, que se prolongam por nove
horas diarias, os melhores artistas que é possivel encontrar
em S. Paulo. Você deve ter ouvido, através do nosso
microphone. Alonso Annibal, uma das nossas glorias artisticas, Frank
Smit, genio de importação, que fez primeiro nome na
Europa, e até no Japão, para vir ancorar na Record,
Clarisse Leite, Virginia Leoni, e muita gente mais de valor. Por
estes dias o violinista Torquato Amore deverá executar um
concerto magnifico de musicas modernas, em que serão apresentadas
pelo menos tres peças ineditas para S. Paulo. Em materia
de cantores, a Record tem incluido nos seus programmas artistas
de valor excepcional. Abigail Alessio, Herminia Russo, Giradelli,
Ardenia Pacchini, Mathilde Russo, Branca Caldeira de Barros e Armando
Bertazzoni, não são nomes regionaes. Estão
consagrados pelas platéas de fóra. Uns na Italia,
outros na França, outros nos Estados Unidos, como Abigail
Parecis, já tinham uma longa carreira artistica quando se
apresentaram deante do nosso microphone. Mesmo sem fama internacional,
muito difficil de controlar, aliás, outros artistas de valor
são constantemente incluidos nos programmas da Record: Emma
da Rocha Brito, Lindomar Torre, Annita Gonçalves, Irene Cunha
Bueno, Julita Perez são nomes bastante conhecidos. Foi a
Record que lançou uma das cantoras mais interessantes que
possuimos: Alma Cunha de Miranda. Ainda ha pouco despediu-se de
S. Paulo, pelo microphone da PRAR, a cantora Julieta Azevedo. Foi
para Roma, cantou o "Rigoletto", no Theatro Adriano, e
os telegrammas e criticas que chegam são para a nossa artista
uma verdadeira consagração bem documentada. E ha mais:
Abruzzini, Antonio Alliegro, João Girardeli, gente e mais
gente que não havia tempo para enumerar nem espaço
para conter, se é que você vae pôr tudo isso
no jornal. ...
- Sugerindo uma entrevista, não é?
- E com retrato, se possivel. Você compreende... Contanto
que não me ponha entre os cantores, e muito menos entre as
cantoras, apesar da amabilidade da companhia...
- E os programmas regionaes? Perguntámos, para conter em
tempo a maré de cabotinismo pessoal do escriptor.
- Alguns nomes e basta; Pescuma que faz tambem regionalismo argentino
lançando constantemente novidades em materia de tango; Januario
de Oliveira, estylizador da malandragem cantada e vivida ; Barreto,
Heleno Pinto de Carvalho, Rachel de Freitas, e essa garotinha extraordinaria
que é a Elyy Barreiros...
- Uma verdadeira artista...
- Eu ia dizer isso. Se sahir a entrevista, diga que a phrase é
minha...
Depois de uma pausa, em que nos offerece um cigarro nacional ("mas
não diga isso, fale em Abdulla, que é mais chic...")
Origenes accrescenta:
- Mario de Andrade e o nosso Torre, maestro José Torre, para
effeitos de publicidade, estão cuidando de uma coisa interessantissima:
a estylização das nossas musicas regionaes. O microphofone
da Record dirá logo o que vae ser a coisa...
- E a parte falada?
- É com Ladeira dos jaquetões para effeito literario,
o homem que mais soffre com a falta de televisão. Elle e
o Nobre falariam de cadeira sobre o assumpto. São elles que
têm os "Radio-Picles", fabricados pelo Genolino
Amado, pelo Cesar Ladeira, o - chronista, não o "speaker",
- e alguns por mim. A Record tem feito o possivel para amenizar
a onda de annuncios que recebe. Sketches humoristicos, alguns realmente
interessantes (alguns são feitos por mim...)
- Os interessantes?
- Oh! bondade sua. ... Mas o facto é que a Record tem introduzido
uma série de innovações muito curiosas. Espere
pela Hora X, do Ladeira e do Marcellino de Carvalho, e verá
... O programma infantil aos domingos, tem sido outro sucesso. Quem
deve falar sobre elle é o Nobre, que o organiza, auxiliado
por Alma Cunha de Miranda. Por tudo isso, você vê o
que tem feito a Record, desde que Jorge Alves de Lima, Paulo M.
de Carvalho, J. B. Amaral e A. C. Mesquita, amparados pelos conhecimentos
technicos do dr. Leonardo Jones, pisaram, ha menos de um anno, dentro
do então pardieiro da Praça da Republica...
Offerecimento de cigarros, fumarada ociosa.
- E de literatura? Como vamos? Algum livro novo?
Origenes Lessa, já francamente entrevistado, faz um gesto
vago:
- Ora... Nós estamos falando sobre a Record...
Mas não póde resistir muito tempo:
- Por signal que a Record vae tambem editar livros ...
- Livros?
- Sim, um meu. As "Aventuras e Desventuras de um cavallo de
pau", que foram lidas na Hora Infantil. Cincoenta ilustrações
do Villin. Uma bella capa...
E fazendo força por parecer modesto...
- Os ouvintes insistiram tanto... |
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