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Na Escola Livre de Sociologia e Politica, o deputado Roberto Simonsen,
lente cathedratico daquelle estabelecimento de ensino, levou a
effeito, ante-hontem, á noite a segunda conferencia da série que
ali vem realizando, sobre a "Historia Economica do Brasil". Inicialmente
salientou o sr. Roberto Simonsen que a historia economica do Brasil
se processou atravez da formação evolutiva de um organismo social
em um ambiente inteiramente novo, permitindo que se percebam,
nitidamente, as reacções reciprocas do homem e do meio, no desenvolvimento
das actividades economicas. Era natural! - frisou - que no limiar
de sua critica fosse, desde logo, dispensada especial attenção
ás condições de Portugal na época do descobrimento e ao tempo
em que tivemos ligados os nossos destinos. Alludiu, depois, á
organização politica do governo monarchico portuguez, na época
de sua fundação. Referiu-se, tambem, ás condições economicas então
predominantes, fazendo a respeito, largas considerações. Em seguida,
passou a estudar o periodo da expansão maritima portuguesa. Assegurou
que essa politica expansionista não resultou de uma necessidade
emigratoria escassamente povoado como era o paiz, por pouco mais
de um milhão de habitantes. Era um plano de governo que visava,
a um só tempo a conquista de riquezas, a expansão da fé e a opportunidade
de satisfazer uma nobreza irrequieta e turbulenta. A organização
desse commercio maritimo trouxe ao paiz innumeras riquezas, que
os mercadores portugueses iam buscar na India e na Africa. O orador
referiu-se, então, minuciosamente, á maneira por que se fazia
esse commercio, em barcos primitivos e frageis. Todas as mercadorias
importadas da India, naquella época não sommavam a mais de duas
mil toneladas annuaes, cifra que representa, nos tempos modernos,
a carga commum de um pequeno navio. Logo a seguir, o sr. Roberto
Simonsen passou a estudar as repercurssões sociaes da revolução
economica que se processou em Portugal, em virtude do commercio
maritimo. O reino foi se despovoando, pois muito poucos regressavam
dessas expedições. Os campos foram abandonados. E como Portugal
não possuia nem industria, nem artigos de maior procura, para
permuta na India, ora de fora que vinha a maioria desses artigos.
Portugal passou a importar até artigos de alimentação. Nos primeiros
tempos, foram lucrativas as importações da India, mercê, principalmente
dos tributos e das presas de guerra, que se juntavam aos lucros
das especiarias. Com o tempo, entretanto se verificou que o commercio
normal se tornara um monopolio deficitario a coroa. Nessa altura
o orador passou a estudar as condições economicas na Hespanha.
Observou que no século IX, sob a influencia da civilização mourisca,
a Hespanha constituia uma das regiões mais adiantadas na época.
Ao contrario do que acontecera em Portugal, onde a expansão maritima
obedeceu a um plano preconcebido e maduramente reflectido, a Hespanha
entrou para a grande navegação, por acaso. Este povo de sete milhões
de almas, dividido por fortes rivalidades locaes, mas politicamente
unido, pode, em curto prazo, tornar-se a maior potencia maritima
do mundo. Em principios do seculo XVI a Hespanha possuia cerca
de mil navios. Sua metropole, entretanto, não se constituira por
uma adequada evolução, uma solida base politica, economica e social,
reclamada por um tal imperio. Dahi a ausa fundamental da transitoriedade
do seu poderio. Referiu-se, então o orador á causa fundamental
da transitoriedencia do poderio da Hespanha e que foram de ordem
economica, moral e politica. O paiz era dominado por um despotismo
religioso sem parallelo. As ordens religiosas absorviam, nos conventos
um trinta avos da população. A expulsão dos mouros, que constituiam
uma parte laboriosissima da população, desorganizou a producção
industrial e agricola. A expulsão dos judeus, levou para a França,
e para a Hollanda, capitaes e apreciaveis actividades. Ao mesmo
tempo que se expulsavam classes laboriosas, augmentava assombosamente
a classe dos nobres que, no século XVIII chegava a seiscentas
mil pessoas. Depois de alludir pormenorizadamente a todas as causas
da desagregação e ruina economica da Hespanha, o orador affirmou,
textualmente: "Portugal com sua diminuta população, não estava
preparado, assim como a Hespanha, para a manutenção de seus dominios
coloniaes, por falta de uma base solida, com estructura economica
apropriada ás suas novas condições". A ultima parte de sua prelecção
dedicou-se o sr. Roberto Simonsen ao estudo dos transportes maritmos,
no periodo colonial. Poz em relevo a formidavel contribulção que
deram ao progresso da arte nautica, os portuguezes. Alludiu ás
caravellas de invenção portugueza, accentuando que constituim
ellas um factor de importancia extraordinaria, para a segurança
e rapidez do commercio maritimo. Analisou, tambem o custo dos
transportes, naquella época demonstrando que o mesmo era necessariamente,
caro. E explicou que esse alto custo, era motivado pelos frequentes
naufragios pelas perdas, pelo corso e accidentes de toda ordem,
pequena capacidade dos barcos e altos salarios pagos. Depois de
outras considerações sobre o valor dos transportes na economia
mundial, o sr. Roberto Simonsen annunciou que, na proxima prelecção
tratará do primeiro cyclo da historia economica do Brasil.
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