São Paulo, domingo, 22 de julho de 1973
Neste texto foi mantida a grafia original

DIARIO DE CAMUS

Os cadernos, de Albert Camus, foram escritos de maio de 1937 a abril de 1948. Reproduzimos em seguida alguns trechos que mostram varios aspectos da personalidade do escritor, sobre quem recaiu acusação de ter defendido a Argelia francesa contra os anseios libertarios do seu pais de origem.

"Céu de trovoada em agosto. Aragem escaldante. Nuvens negras. No entanto, do lado do nascente, uma faixa azul, delicada, transparente. Impossivel fixá-la. Sua presença é uma tortura para os olhos e para a alma. Porque a beleza é insuportavel."

"Só se pensa através de imagens. Se você quer ser filosofo, escreva romances."

"Questão social em ordem. Equilibrio restabelecido. Faço o balanço dentro de 15 dias. O meu livro, pensar nele constantemente. O meu trabalho, organizá-lo sem demora a partir de domingo. Reedificar novamente, depois deste longo periodo de vida trepidante e desesperada. Por fim o sol e o meu corpo ofegante. Calar-me. Ter confiança em mim proprio."

"Comprometer-me totalmente. Depois aceitar com identica coragem o sim ou não."

"Obra filosofica: o absurdo. Obra literaria: força, amor e morte sob o signo da conquista."

"A tentação mais perigosa: não se assemelhar a nada."

"A necessidade de ter razão: marca do espirito vulgar."

"Escrever é desinteressar-se. Uma certa renuncia em arte. Reescrever. O esforço que traz sempre um lucro, seja ele qual for. Questão de preguiça para aqueles que não obtêm exito."

"O Cristianismo, como Gide, pede ao homem para refrear o seu desejo. Mas o escritor vê nisso um prazo a mais. Quanto ao Cristianismo, que acha-o mortificante."

"Rana Krishna, a proposito do comercio de mercadorias: O homem verdadeiramente sabio é aquele que não despreza coisa nenhuma."

"Há uma psicologia justa nos romances-folhetins. Mas é uma psicologia generosa. Não dá atenção aos pormenores. Tem confiança. E nisso que é falsa."

"A verdadeira obra de arte é aquela que menos diz."

"A morte de Le Poittevin, amigo de Flaubert: Feche a janela. É belo demais."

"Cada vez mais, no mundo dos homens, a unica reação é o individualismo. O homem é por si seu proprio fim."

"O problema em arte é um problema de tradução. Os maus escritores: aqueles que escrevem de acordo com um contexto interior que o leitor desconhece. É preciso ser duas pessoas quando se escreve. A primeira coisa, uma vez mais, é aprender a dominar-se."

"Conforme Marco Aurelio: aquilo que barra o caminho faz avançar."

"É detestável o escritor que fala, explora o que nunca viveu. Mas atenção, um assassino não é o homem mais indicado para falar do crime."

"Flaubert: A inepcia consiste em querer concluir."

"Flaubert: Se tivesse sido amado aos 17 anos, que grande artista poderia ser hoje."

"Há sempre uma filosofia para a falta de coragem".

"Da Critica. Três anos para escrever um livro, cinco linhas para o ridicularizar - e citações falsas".

"Três personagens entraram na composição de O Estrangeiro: dois homens (um dos quais eu) e uma mulher".

"O empolgante em Joyce não é a obra, é o fato de ele a ter empreendido".

"A sexualidade desenfreada conduz a uma filosofia de não significação do mundo. A castidade restitui-lhe pelo contrário um sentido (ao mundo)."

"Fora do amor, a mulher é maçante. Não sabe. É preciso viver com uma e calar-se. Ou dormir com todas e atuar. O mais importante é outra coisa".

"Nenhum povo pode viver fora da beleza. Pode sobreviver durante algum tempo e é tudo".

"O consolo do mundo é não haver sofrimentos continuos".

"Os que amam a verdade devem procurar o amor no casamento, isto é, o amor sem ilusões".

"Aquele que se desespera com os acontecimentos é um covarde, mas aquele que tem esperança na condição humana é um louco".
"Apesar das ilusões racionalistas, mesmo marxistas, toda a história do mundo é a história da liberdade".

"Gosto mais dos homens que tomam um partido do que das literaturas que tomam partido. Coragem na vida e talento nas obras já não é nada mau".

"Escrever tudo, o que vier".

"Literatura contemporânea: Mais facil chocar do que convencer".

"Enquanto o homem não domina o desejo, nada dominou. E não o domina quase nunca."

"Henry Miller: Sinto-me deslumbrado com grandioso desmoronamento do mundo".

"Para a maior parte dos homens, a guerra é o fim da solidão. Para mim, ela é a solidão definitiva".

"Os intelectuais fazem a teoria, as massas a economia".

"Toda a realização pessoal é uma servidão, porque obriga a uma realização mais alta".

"Amigo de C.: Morreremos aos 40 anos de uma bala que metemos no coração aos 20".
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