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Sucedem-se,
às terças-feiras, junto ao microfone da Excelsior,
os debates versando temas de interesse feminino. Esta semana continuaram
os depoimentos sobre o tipo ideal do companheiro para a mulher
de hoje. Chamamos a depor três moças solteiras -
duas estudantes e outra assistente na Faculdade de Filosofia.
Em primeiro lugar, faltou Rosalia Simonian, jovem romancista,
que publicou não faz um mês seu livro de estréia:
"O Outro Homem", que ainda na lista dos "best sellers".
A moça escritora expandiu assim, as sua idéias:
- "Todos nós sabemos que, atualmente, os motivos que
conduzem a mulher ao trabalho fora do lar não são
os mesmos de outros tempos. Alguns anos atrás, ainda, as
poucas, mulheres que se dedicavam a outro trabalho que não
fosse o do lar geralmente o faziam para suprir suas necessidades
pessoais, "para os alfinetes", como se costumava dizer.
Atualmente, as mulheres que trabalham, em numero infinitivamente
maior, assim procedem por estarem arcando com responsabilidade
tão grandes quanto às dos homens. A mulher compreendeu
que a civilização não poderá atingir
seu verdadeiro florescimento enquanto ela não se colocar
ao lado do homem para a luta na conquista dos elementos indispensaveis
à vida. A evolução que a mulher atingindo
se acha no seu momento historico. Todavia, muito terá de
lutar ainda para criar condições que lhe permitam
conciliar a maternidade com o trabalho fora do lar. Obstaculos
de toda ordem atingem as mulheres trabalhadoras de todas as classes
sociais. Tomemos como exemplo o numero reduzido de creches e parques
infantis. Por outro lado, a escassez de ocupação
de meio dia. Enquanto não houver condições
de completo amparo à infancia, a mãe não
poderá deixar seu filho aos cuidados de terceiros, a não
ser durante algumas horas por dia. Concordemos que a posição
da mulher é de transição e, como tal, dificil.
Alguém deverá auxiliá-la; este não
será outro sendo seu companheiro. Portanto, o tipo ideal
de companheiro para a mulher atual é aquele que superou
preconceitos e supostos direitos caducos; é aquele que
não cria obstaculos de ordem particular quando os de ordem
social sobejam; é aquele que, como verdadeiro companheiro,
dá-lhe sua ajuda no sentido de integrá-la na sua
devida posição, que é a de marchar ombro
a ombro com ele, na direção de uma vida melhor,
da qual ele proprio usufruirá."
Celina Cristiano de Sousa, assistente da Faculdade de Filosofia,
foi a segunda a ocupar o microfone. Passemos-lhe pois, a palavra:
- "Não podemos ao falar em mulher de hoje, nos restringir
a uma mulher determinada, de uma classe social definida. E' necessaria
uma generalização desde as menos favorecidas às
mais elevadas camadas da sociedade. Desta maneira, seria mesmo
um absurdo procurar estabelecer um ideal masculino que satisfizesse
a todas as mulheres. Pois há tantos ideais quantas são
as mulheres que existem. Mesmo dentro de uma classe social há
divergencias e profundas. Creio que é tudo uma questão
de mentalidade; a mulher procura hoje, como ontem, e como amanhã
certamente procurará, um companheiro que tenha uma mentalidade
de acordo com a sua para que ele possa compreendê-lo e respeitá-lo.
Todos os outros pormenores que compõem a personalidade
do homem são acessorias e ela os tolerará conforme
se ajustem mais ou menos ao seu ideal..."
Nesse ponto. Hilda Hilst, a terceira depoente, não esperou
pela hora dos debates e entrou com sua palavra, discordando. Em
sua opinião, se os tipos femininos diferem muito, existem
certas caracteristicas feminis que não diferem, que são
de todas as epocas, norteando mulheres de todos os tempos. Uma
dessas características, decide a moça poetisa e
aluna de nossa Faculdade de Direito , é a que faz com que
a mulher necessite de um homem mais forte que ela e que a domine
psicologicamente. Julga que, sentimentalmente, emancipação
feminina é coisa bonita apenas no terreno teorico. Nem
Rosalia Simonian, nem Celina Cristiano de Sousa estão de
acordo. Ambas protestam veementemente. Celina prossegue na exposição
de suas idéias:
- "De um modo geral, a mulher tem o homem que quer ter, isto
é, procura inconscientemente um tipo adaptado à
sua maneira de pensar, agir e sentir. A mulher independente, acostumada
a trabalhar e a decidir sozinha seus proprios problemas, dificilmente
suportará a existencia ao lado de um marido autoritario,
ciumento, "mandão", como se diz. Ela pode amá-lo,
mas nunca verá nele o companheiro ideal de sua vida."
Temos nova interrupção de Hilda Hilst, nesse momento.
Decididamente, a idéia da poetisa faz com que a suponhamos
bastante mazoquista, tal aquela senhora da anedota que, apanhando
uma surra do marido e sendo defendida por um vizinho, voltou-se
contra este, admoestando-o de que o esposo "batia no que
era dele" ... Reafirma Hilda sua opinião de que a
mulher gosta do homem de pulso forte, seja ela emancipada ou não
e que para a harmonia conjugal é imprescindivel que ela
o admire e o considere superior a ela sob os mais diversos aspectos.
Entretanto, Celina Cristiano de Sousa retoma a palavra:
- "Todo individuo é essencialmente criatura do momento.
A mulher não foge a essa regra. Num momento de romantismo
ela quer um companheiro terno, meigo, que saiba falar a linguagem
dos namorados. Mas quando há visitas de cerimonia e a torneira
da cozinha está estragada, ela quer um homem que saiba
consertá-la e não alguem que lhe diga que seus olhos
são duas estrelas num céu escuro. O ideal não
tem nada a ver com o amor. Pode uma mulher amar um homem que não
represente apenas remotamente o seu ideal. Mas certamente será
muito mais feliz se encontrar no companheiro mentalidade adaptada
à sua, e que ela possa, antes de tudo, admirar e respeitar
e que tambem a respeite e admire e a trate com dignidade e amor."
Cabendo, por ultimo, a palavra a Hilda Hilst, ela reafirma os
conceitos expendidos quanto à sujeição da
mulher ao homem para perfeito equilibrio social. Quanto à
referencia ao casamento, ela encara a vida conjugal um pouco como
Albert Camus pensa que se deva desenrolar as relações
entre os povos: através do dialogo. E a fim de que o dialogo
entre conjuges seja deleitavel, a moça Hilda pede antes
de mais nada que o esposo possua qualidades humoristicas. Marido
e mulher encontrarão muitos percalços existentes
afora, de modo que uma das qualidades essenciais do companheiro,
será a de ter a par do "braço forte",
animo esportivo, cara alegre, saude mental.
Terça-feira proxima, as 21 horas, Debates Sobre a Mulher
cuidará do tema "A Mulher e a carreira teatral",
tendo sido convidadas para essa ocasião as artistas Maria
Della Costa, Madalena Nicoll e Lucilia Simões. Ouçam,
pois amigas leitoras a Radio Excelsior, terça-feira, às
21 horas.
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