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BELMONTE, O CRIADOR DO JUCA PATO
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Folha
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"O artista tem que viver entre o povo, embora não
deva fazer concessões à popularidade. Ser popular
não é o mesmo que ser vulgar. O "xis"
da questão está em tomar um assunto complicado e
difícil, digerí-lo, simplificá-lo e torná-lo
acessível ao grande público. Resumir numa charge,
por exemplo, um problema econômico ou financeiro, eis o
ideal(...) fazer arte para ser entendido por algumas pessoas é
criar uma aristocracia artística."
Belmonte
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Vítima
de tanto levar na cabeça, Juca Pato tinha que conformar-se,
pois sempre "podia ser pior" |
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Se nas
décadas de 30 e 40 perguntássemos a qualquer paulistano
qual era a figura mais popular na cidade, ele com boa dose de certeza
diria que era o Juca Pato. A popularidade podia ser comprovada nas
ruas: havia nome de bar e restaurante, marca de cigarro, graxa de
sapato, vinho, água sanitária, pacote de café,
aperitivo de bar e até letra de samba com o nome Juca Pato...
Contudo, Juca Pato nunca teve uma existência de carne e osso.
Foi um personagem criado pelo jornalista e caricaturista Belmonte
-nascido a 15 de maio de 1896 com o nome de Benedito Bastos Barreto,
na Liberdade, bairro de São Paulo.
Pobre, nunca aprendeu desenho. Rabiscava por intuição.
Belmonte conseguiu publicar seu primeiro desenho aos 17 anos, em
1914, na revista "Rio Branco". No mesmo ano começou
a desenhar para a revista "Alvorada", mas como era desconhecido
e tímido, somente em 1919 recebeu dinheiro por um desenho
-cinco mil réis, para a revista "Miscellanea".
Nesse período passou a colaborar em várias revistas,
como "Zig-Zag" e "D.Quixote". Sem ter decidido
pela carreira de caricaturista, conciliou por algum tempo a atividade
com a de estudante de medicina. No dia do exame final, quando deveria
ingressar definitivamente na carreira, saiu para remar no lago do
atual Parque da Aclimação e optou pelo jornalismo.
Em 1921, surgia na capital paulista a "Folha da Noite",
hoje o jornal "Folha de S.Paulo". O cartunista foi contratado
para ilustrar as páginas do periódico. E foi nas páginas
da "Folha da Noite" que, em 1925, Belmonte criou o Juca
Pato. Concebido careca, "de tanto levar na cabeça",
adotou o lema "podia ser pior", encarregando-se, assim,
de traduzir as críticas e aspirações da classe
média paulistana. Concentrava seus ataques sobre a corrupção
e a arrogância dos ricos, apresentando-se como defensor dos
fracos.
Não era um chargista que apelasse para o primarismo, a grosseria
crua, o deboche. Ao contrário, tudo nele revelava nítida
preocupação intelectual, claro pendor ao refinamento
das leituras, do estudo, da erudição.
Além de criar personagens, Belmonte também ilustrou
livros de Monteiro Lobato e uma edição brasileira
de "Primo Basílio", de Eça de Queirós.
Atuando como pesquisador, fez as ilustrações do livro
"Povos e Trajes da América Latina", de Egon Schaden.
Também foi autor vários volumes, entre eles "No
tempo dos Bandeirantes". Mantinha no jornal uma crônica,
na qual criticava os costumes, a política nacional (Vargas
e o Estado Novo) e internacional (o nazismo e o fascismo). Revistas
como a "Rire" (França), "ABC" (Portugal),
"Caras y Caretas" (Argentina), "Judge" (EUA)
e "Kladeradtsch" (Alemanha) publicaram desenhos seus.
Suas charges ferinas sobre a Segunda Guerra correram o mundo. Tanto
é que, às vésperas da rendição
alemã, em 1945, o ministro da Propaganda, Goebbels, em uma
transmissão radiofônica, fez críticas a Belmonte
por um álbum seu de caricaturas em que ridicularizava os
nazistas. "Certamente", disse Goebbels, "o artista
foi pago pelos aliados ingleses e norte-americanos".
Ignorava que Belmonte nunca acumulou riqueza pessoal e que jamais
se rendeu a ameaças ou bajulações, nem mesmo
às ofertas dos políticos brasileiros que o temiam
e, por isso, queriam seu apoio.
Apesar de toda a fama e reconhecimento público, o chargista
deixou para sua esposa e casal de filhos, ao morrer, apenas a sua
obra como herança. Morreu tuberculoso no dia 19 de abril
de 1947, num dos quartos do Hospital São Lucas, em São
Paulo.
Em 1962, A União Brasileira dos Escritores criou o prêmio
Juca Pato de Intelectual do Ano. Seu idealizador, o escritor Marcos
Rey, foi quem propôs utilizar o nome do personagem de Belmonte:
"O Juca Pato, a grande vítima dos tubarões, pisado
pelos homens da lei e pelos poderosos, e que nunca teve um amigo,
o terá agora na pessoa do intelectual". O prêmio
já foi concedido a San Thiago Dantas, Alceu de Amoroso Lima,
Cassiano Ricardo, Érico Veríssimo, Jorge Amado e Cora
Coralina, entre outros.
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