A gente tem de ser brasileiro até a medula do vão
do dedo, dê no que dér. Esse negocio de extrangeiro
se metter na vida do proximo, mesmo com os seus capitaes, não
póde ir assim de arrastão. Talvez os senhores se lembrem
de que ha já alguns annos o governo cogitou de encampar a
City de Santos, empresa respeitabilissima que explora agua e bonde
na terra de Braz Cubas.
Houve até um deposito judiciario de cerca de 500 mil libras
feito pelo Estado, afim de se iniciarem as negociações
para encampação daquella Empresa. Mas politica vae,
politica vem, advogados brasileiros a serviço de interesses
extrangeiros, impediram que se realisasse a independencia santista
do jugo bretão da poderosa companhia.
Juca Pato, em Santos, deante do poderio da City, que faz o que
quer sem a menor satisfação ao governo, nem à
letra do contracto de 1897, soffre o diabo com os gadanhos da gerencia
ingleza.
Alli não se admitte a minima intervenção dos
poderes publicos do Estado, e até a uma commissão
de S.Paulo, que ia inspeccionar certas coisas da companhia, foi
negada a propria recepção, levando esta na "lata"
que a empresa não recebia ninguem do governo.
Tudo isto é muito sabido pelo Juca da visinha cidade.
Como ninguem ignora, pois foi quasi publico e notorio, o grande
engenheiro que foi Saturnino de Brito, em relatorio sobre as obras
de encanamento de agua daquella companhia, accentuou que não
se cumpria o dispositivo do contracto, collocando-se na rêde
do serviço canos até de meia pollegada, quando o estipulado
era no minimo de quatro.
Si ha um assumpto de natureza nacionalista, patriotica e profundamente
brasileira, é esse de se dar um geito na City de Santos,
proclamando a independencia da cidade contra a "metropole"
da poderosa empresa.
O contracto de 30 annos vence-se agora, em abril de 1930, e no
momento psychologico em que temos um governo, sobretudo paulista
e cioso da nacionalidade, é opportuno se botar mãos
á obra da encampação, estrangulando-se os correntões
que prendem o Juca santista ao Caucaso da City. A gente não
póde ser molle nessas coisas. É preciso entezar o
negocio, arregalar bem os olhos pra elles, não permittir
que a pestana se mexa e, firme na passoca, sacudir com os taes,
sinão botam em cima do proximo, cangalha, freio, barrigueira,
lóro rabicho, com espora por contrapeso.
Não tem disso não, pessoal, porque afinal de contas
nem todos têm Bancos Mineiros de Credito, Mil Contos para
encher o gargalo...
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