JUCA PATO CONTRA A PRIVATIZAÇÃO

Publicado na Folha da Manhã, quinta-feira, 20 de Junho de 1929

Neste texto foi mantida a grafia original


A gente tem de ser brasileiro até a medula do vão do dedo, dê no que dér. Esse negocio de extrangeiro se metter na vida do proximo, mesmo com os seus capitaes, não póde ir assim de arrastão. Talvez os senhores se lembrem de que ha já alguns annos o governo cogitou de encampar a City de Santos, empresa respeitabilissima que explora agua e bonde na terra de Braz Cubas.

Houve até um deposito judiciario de cerca de 500 mil libras feito pelo Estado, afim de se iniciarem as negociações para encampação daquella Empresa. Mas politica vae, politica vem, advogados brasileiros a serviço de interesses extrangeiros, impediram que se realisasse a independencia santista do jugo bretão da poderosa companhia.

Juca Pato, em Santos, deante do poderio da City, que faz o que quer sem a menor satisfação ao governo, nem à letra do contracto de 1897, soffre o diabo com os gadanhos da gerencia ingleza.

Alli não se admitte a minima intervenção dos poderes publicos do Estado, e até a uma commissão de S.Paulo, que ia inspeccionar certas coisas da companhia, foi negada a propria recepção, levando esta na "lata" que a empresa não recebia ninguem do governo.

Tudo isto é muito sabido pelo Juca da visinha cidade.

Como ninguem ignora, pois foi quasi publico e notorio, o grande engenheiro que foi Saturnino de Brito, em relatorio sobre as obras de encanamento de agua daquella companhia, accentuou que não se cumpria o dispositivo do contracto, collocando-se na rêde do serviço canos até de meia pollegada, quando o estipulado era no minimo de quatro.

Si ha um assumpto de natureza nacionalista, patriotica e profundamente brasileira, é esse de se dar um geito na City de Santos, proclamando a independencia da cidade contra a "metropole" da poderosa empresa.

O contracto de 30 annos vence-se agora, em abril de 1930, e no momento psychologico em que temos um governo, sobretudo paulista e cioso da nacionalidade, é opportuno se botar mãos á obra da encampação, estrangulando-se os correntões que prendem o Juca santista ao Caucaso da City. A gente não póde ser molle nessas coisas. É preciso entezar o negocio, arregalar bem os olhos pra elles, não permittir que a pestana se mexa e, firme na passoca, sacudir com os taes, sinão botam em cima do proximo, cangalha, freio, barrigueira, lóro rabicho, com espora por contrapeso.

Não tem disso não, pessoal, porque afinal de contas nem todos têm Bancos Mineiros de Credito, Mil Contos para encher o gargalo...


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