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Capa
da primeira edição do Folhetim de 23 de
janeiro de 1977 |
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O polêmico
suplemento dominical de cultura da Folha de S.Paulo,
Folhetim, publicado no final dos anos 70 e durante quase
todo os anos 80, foi criado e dirigido por um dos fundadores
do também polêmico Pasquim, o jornalista Tarso de Castro.
O Folhetim teve início em 23 de janeiro de 1977. No dia
anterior a seu lançamento (22.01.77), o caderno foi anunciado
com um pequeno texto na primeira página do jornal como sendo
uma "revista a cores na Folha aos domingos", mas não foram
só as cores as novidades que esta publicação trouxe, também
eram anunciadas outras atrações como as "atualidades internacionais
por Paulo Francis (Nova York) e J.B. Natali (de Paris)"
além do humor em "novos quadrinhos nacionais" coloridos,
e, sempre, uma grande reportagem como assunto de capa. O
assunto da primeira capa foi: "50 anos no tom dos Jobim"
-uma grande reportagem com Tom Jobim feita por Tarso de
Castro. A "revista em cores" Folhetim que a Folha então
passara a publicar tinha como objetivo ser um "novo caderno
de leitura e humor" que também mostraria como seriam as
programações da próxima semana, com o "melhor da televisão,
cinema, shows, músicas e outras atrações". O traço mais
marcante no início do Folhetim foi -seguindo os passos do
Pasquim- criar o primeiro caderno cultural "alternativo"
dentro da grande imprensa no Brasil, recheado de humor,
irreverência e uma certa "marginalidade".
Deram continuidade a essa linha editorial definida por Tarso
de Castro os editores que o sucederam: Aldo Pereira, num
período intermediário, e Nelson Merlin, durante o ano de
1978.
A partir de 1979, sob o comando de Oswaldo Mendes, o Folhetim
ganhou uma comissão editorial e passou por uma fase mais
voltada a temas sociais, promovendo uma ligação mais estreita
com a universidade. Faziam parte dessa comissão Rogério
Cerqueira Leite, Carlos Guilherme Mota, José A. Guilhon
Albuquerque, Tércio Sampaio Ferraz Jr., Joelmir Beting,
Severo Gomes, Eunice Duhran, José P. da Santa Cruz, Miguel
Reale Jr. e Paulo Archia Mendes da Rocha.
Os números que se seguiram trouxeram então a noção de uma
imprensa não apenas informativa, mas, também, formadora.
Foram produzidos números que hoje são muitos importantes
como "Sociedade Civil" e "Por Que São Bernardo?" nos quais
importantes personalidades como Fernando Henrique Cardoso,
Luís Inácio Lula da Silva, Severo Gomes e Eduardo Matarazzo
Suplicy discutiam assuntos de grande interesse para a sociedade.
Nos anos seguintes, o Folhetim, sob o camando de Jaime Klintowitz
e Maria Carneiro da Cunha deu-se sequência a esse direcionamento.
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Capa
da última edição do Folhetim
de 25 de março de 1989
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O
caderno continuou produzindo grandes debates e mesas redondas
a respeito de assuntos mais sociais, porém, sempre contanto
com as opiniões daqueles que representavam as idéias do
meio acadêmico.
A grande mudança dos rumos editoriais do Folhetim aconteceu
em 1982, com Mário Sergio Conti e, definitivamente, com
Rodrigo Naves, quando o caderno abandonou seu o caráter
social acadêmico e optou por uma apreensão mais refinada
da cultura. O editor seguinte, João Moura, também manteve
a mesma linha que Rodrigo adotara. Em seguida vieram Marília
Pacheco e Nelson Ascher, todos com a mesma preocupação de
tentar fazer um caderno mais teórico, sem ser puramente
descritivo, mas também sem ser acadêmico. Em 14 de novembro
de 1986, o Folhetim passou a circular sexta-feira. No ano
seguinte, comemorou os seus dez anos de existência com o
lançamento do livro "Folhetim - Poemas Traduzidos". Em 23
de julho de 1988 passou a circular aos sábados. A sua última
edição foi em 25 de março de 1989. Nos 13 anos de existência
do Folhetim, muitos trabalhos importantes foram produzidos
sob a força exercida pelo equilíbrio tênue que separa o
jornalismo da erudição. O Almanaque tenta resgatar os melhores
trabalhos desta publicação que marcou época e que agora
serve como apoio para uma leitura mais coerente de uma época
onde a liberdade de imprensa era arbitrariamente controlada
pelo regime militar.
Renato Roschel
do Banco
de Dados
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