COLUNA DO JUCA PATO

Publicado na Folha de S.Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 1926

Neste texto foi mantida a grafia original

Marinetti chegará amanhã. E, como elle mesmo diz, que a “vaia é a suprema consagração do genio”, Imagem publicada na Folha da Manhã, 9 de maio de 1926estão-lhe preparando uma recepção de assobios e ovos pôdres.
Plinio Salgado, grande admirador de Marinetti, propõe, para externar tão grande admiração, que se o receba a pedradas.
E Juca Pato, maior admirador ainda, alvitra que, para exteriorizar tão formidável admiração, se amarre Marinetti num poste e se o espanque delirantemente, até que o Genio se consagre na Santa Casa ou no Necroterio!


“Juca Pato” e o futurismo de Marinetti
A senhora Marinetti rompeu lindamente contra a moda actual, achando que, segundo as idéas futuristas, as mulheres devem se vestir como bem lhes parecer. Nada de fazer o que os outros fazem. O futurismo, em summa, é isso. Tudo ao contrario, tudo às avessas. Peior a emenda que o soneto… Si a moda contemporanea já é essa cousa semi-núa que o Juca vê com grandes faniquitos, imaginem si as mulheres, dentro do credo futurista de madame Marinetti, devem ouvir os conselhos do illustre conselheiro.
Será um Deus nos acuda, será o mundo no avêsso, mais ainda: será o frége dos vestidos de meio palmo, o samba das blusas de 10 centimetros, o braçame nú, o collame nuérrimo, numa baita nuvação geral.
Que os lambeu! Vá p’r elle Migué! O coitado do Pato, que já anda na imbira dos soffrimentos moraes, entrará na agonia dos padeceres materiaes…
Os senhores sabem que uma creatura sem roupa constipa o juizo do proximo, além de attentar contra a soberania do côco.
E desde que o futurismo se metta na moda, adeus compostura do Juca, adeus austeridade do Pato, adeus familia, Juca, procotó familia Pato!
Vira tudo Adão e banca tudo a Eva. Que os barreu!
Senhores jurados! Isto prova que a humanidade está francamente maluca e que o globo terraqueo se transformou em manicomio… Dizem que o fim do mundo foi assim.
Começaram a despir primeiramente o pudor, a vergonha, o recato, a consciencia e o caracter.
Depois despiram o escrupulo, a honra, a tradição e o respeito.
Quando iniciaram o “despimento” da roupa, já tudo estava nos quintos dos infernos.
A roupa é a ultima cousa que se despe. No momento em que se fica nú de corpo, tudo mais já está nú de alma!!!
Emquanto o futurismo andou pelas babozeiras das reformas estheticas, ainda se lhe podia tolerar a burrice, mas metter-se em questões de vestuario, tenha paciencia, desculpe o mau geito, mas vá lamber sabão!…
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Veja uma sátira a uma poesia futurista feita por Belmonte

Imagem publicada na Folha da Manhã, 24 de maio de 1926

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