Juca
Varella/Folha Imagem
|
|
Carnaval,
2000: Ala das Baianas da escola de samba Tradição,
que levou para a avenida um enredo em homenagem
aos negros, no Rio de Janeiro (RJ).
|
Carnaval
O
Carnaval teve origem nas festas em que os gregos e os
romanos comemoravam suas colheitas (saturnais a 17 de
dezembro e lupercais a 15 de fevereiro). Muitos séculos
depois, a celebração acabou tornando-se uma brincadeira
típica das cidades.
No Brasil, o Carnaval foi introduzido pelos portugueses.
Seu nome era entrudo palavra que vem do latim introitus
e que designa as solenidades litúrgicas da Quaresma.
O
Carnaval daqui foi, até a metade do século XIX, uma festa
de muita sujeira e molhação. Os escravos a festejavam
sujando-se uns aos outros com polvilho e farinha de trigo,
ou espirrando água pelas ruas com o auxílio de uma enorme
bisnaga de lata.
|
Pintura
de Debret que retrata o carnaval no Brasil escravocrata.
|
As
famílias brancas, refugiadas em suas casas, brincavam
o Carnaval fazendo guerras de laranjinhas pequenas
bolas de cera que se quebravam espalhando água perfumada,
ou então, jogando de suas janelas um líquido não tão cheiroso
na cabeça dos passantes.
Por
isso as pessoas evitavam sair às ruas durante os dias
do entrudo. Isso fez com que os bailes de máscara, realizados
apenas para a elite durante o Primeiro Império, e, a partir
da década de 1840, para a classe média, fizessem muito
sucesso.
Nesses
bailes, que eram pagos e feitos em teatros e hotéis do
Rio de Janeiro, não se dançava o samba, mas sim o schottische,
as mazurcas, as polcas, as valsas e o maxixe, que era
o único ritmo genuinamente nacional. Somente em 1869,
quando o ator Correia Vasques adaptou a música de uma
peça francesa e deu para essa adaptação o nome de Zé Pereira
mesma música que é cantada até os dias de hoje,
apareceu a primeira música de Carnaval. Até então, todas
as músicas eram instrumentais ou em outro idioma.
O
carnaval da rua, entretanto, quase não existia. Tudo à
custa da violência que tinha o entrudo [há no Recife,
atualmente, uma brincadeira sobrevivente do entrudo que
se chama mela-mela].
Alguns
jornalistas da época começaram a estimular a criação de
carnavais que imitassem os de Roma e de Veneza, onde as
pessoas saiam às ruas fantasiadas para tomar parte no
corso ou para realizarem batalhas de flores ou de confete.
Um
dos jornalistas que defendia ardorosamente esta forma
de Carnaval era José de Alencar, o qual escreveu na sua
coluna do "Jornal Mercantil" do Rio de Janeiro, às vésperas
do Carnaval de 1855, a seguinte frase: "Confesso que esta
idéia me sorri. Uma espécie de baile mascarado, às últimas
horas do dia, à fresca da tarde, num belo e vasto terraço,
com todo o desafogo, deve ser encantador". Foi assim,
após uma campanha dos jornalistas contra o violento entrudo
e a favor do elegante Carnaval veneziano, que os desfiles
de rua começaram a acontecer.
A
partir daí o Carnaval pode ser dividido em dois
tipos distintos de manifestação: um, feito pelas classes
mais ricas nos bailes de salão, nas batalhas de flores,
nos corsos e desfiles de carros alegóricos; outro, feito
pelas classes mais pobres nos maracatus, cordões, blocos,
ranchos, frevos, troças, afoxés e, finalmente, nas escolas
de samba.
Assim,
caótico desde seu princípio, o Carnaval brasileiro é também
marcado pela divisão das classes sociais.
Atualmente,
tanto nos desfiles das escolas de samba do Rio e de São
Paulo como nos festejos do nordeste, esta divisão ficou
um pouco mais sutil, o que tornou o carnaval mais democrático,
mas ainda há lugares em que ela persiste. Na Bahia, por
exemplo, só pode desfilar em alguns dos blocos quem tem
dinheiro para pagar pelo abadá, ou nas escolas de samba
do Rio que passam por um processo de embranquecimento
e de comercialização, há, vez por outra, lugares onde
apenas aqueles que tem dinheiro podem brincar os
camarotes dos sambódromos do Rio e São Paulo
são uma demonstração clara dessa divisão.
Renato
Roschel
do
Banco
de Dados