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A
compositora e instrumentista Chiquinha Gonzaga
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Chiquinha
Gonzaga
A
mulher ousada que sacudiu o Rio de Janeiro na segunda
metade do século 19 com sua música atendia pelo nome de
Francisca Edwiges Neves Gonzaga, ou então, pelo carinhoso
diminutivo de Chiquinha Gonzaga.
Sua
passagem pela música nacional é também um marco na história
das mulheres do país. Feminista, Chiquinha desafiou e
transgrediu muitos costumes machistas na época em que
viveu, e, ainda mais: é atualmente tida como uma das maiores
compositoras e instrumentistas da música brasileira. Sua
obra tem mais de 2000 composições.
Nascida
no Brasil ainda escravocrata, mais precisamente no dia
17 de outubro de 1847, Chiquinha era filha do rico militar
José Basileu Neves Gonzaga e da mulata Rosa Maria de Lima
Gonzaga.
Numa
época em que a mulher deveria se casar, ter filhos e sair
pouquíssimo de casa, devotando toda sua vida ao marido
e sendo obrigada a viver dentro de um sufocante regime
patriarcal, Chiquinha fez seus estudos de música. Seu
professor de piano foi o maestro Lobo.
Ela
casou-se aos 13 anos com o oficial de marinha mercante
Jacinto Ribeiro do Amaral, o qual nunca aceitou que sua
esposa fosse a rodas boêmias, fato que tornou o casamento,
imposto pelo pai de Chiquinha, rápido e cheio de brigas.
Aos
18 anos, Chiquinha deixou o marido e saiu de casa. Desfeito
o casamento, ela se apaixonou por um engenheiro de estradas
de ferro e os dois passaram a viver juntos.
Enquanto
ele construía a estrada de ferro da Serra da Mantiqueira,
viveram juntos e felizes, percorrendo o interior por causa
da obra. Mas quando a construção acabou e eles voltaram
ao Rio de Janeiro, o confronto com uma sociedade que os
conhecia e os condenava, fez o amor durar pouco tempo.
Separaram-se e ela passou a trabalhar, vivendo pobremente.
Sozinha,
Chiquinha foi obrigada a dar aulas de piano para sustentar
os filhos. Conheceu então o flautista Antônio da Silva
Calado, que a introduziu nas festas e rodas de chorões.
Num desses encontros com os músicos boêmios do Rio, em
1877, ela compôs, de improviso, a polca "Atraente", seu
primeiro grande sucesso.
Foi
também nesse período que Chiquinha Gonzaga, desejando
entrar no teatro [na época era um tanto fechado às mulheres],
musicou o libreto de Artur Azevedo "Viagem ao Parnaso",
o qual, apesar de ser esplêndido, foi recusado por vários
empresários de teatro por ter sido feito por uma autora,
uma mulher. Mas isso não a fez desistir. Escreveu e musicou
a peça em um ato "Festa de São João", em 1883.
Dois
anos mais tarde, musicou a opereta de costumes "A Corte
na Roça", com poesia de Francisco Sodré. A estréia dessa
obra ocorreu no Teatro Imperial (mais tarde São José),
no Rio de Janeiro, pela companhia portuguesa Souza Bastos.
Foi com essa opereta que Chiquinha conseguiu impor-se
no mundo musical brasileiro. No mesmo ano, dirigiu os
músicos do teatro e a banda da Polícia Militar, tornando-se
a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. Em
1887, fez no Teatro São Pedro, no Rio, um concerto com
100 violões. Nessa época, Chiquinha participava ativamente
do movimento pela libertação dos escravos. Vendia de porta
em porta suas partituras a fim de angariar fundos para
a Confederação Libertadora (organização antiescravista).
Com o dinheiro que conseguiu ao vender a partitura de
sua música "Caramuru", Chiquinha Gonzaga comprou, em 1888,
a alforria do escravo e músico José Flauta, antecipando-se
poucos meses à Lei Áurea. Foi também uma participante
ativa da campanha pela proclamação da República.
Em
1897, compôs no ritmo rural estilizado do corta-jaca o
tango "Gaúcho", lançado na peça "Zizinha Maxixe", de Machado
Careca, o qual fez, na época, muito sucesso ao dançar
esta música com sua parceira Maria Lino. Machado Careca,
quatro anos mais tarde, faria uma letra para a composição,
que passaria a se chamar "Corta-Jaca". Esta música fez
tanto sucesso que foi incluída na revista luso-brasileira
"Cá e Lá", encenada em Portugal e executada numa audição
no Palácio do Catete, feita pela esposa do presidente
Nair de Tefé. A execução da música de Chiquinha pela esposa
do presidente foi considerada na época uma quebra de protocolo,
causando escândalo nas altas esferas do poder brasileiro.
Rui Barbosa deu o seu "pronunciamento", após a quebra
de protocolo feito por Nair de Tefé, sobre a música e
a dança da moda "...a mais baixa, mais chula, a mais grosseira
de todas as danças selvagens, irmã gêmea do batuque, do
cateretê e do samba".
Em
1899, enquanto ouvia o ensaio do Cordão Rosa de Ouro,
no Andaraí, Chiquinha compôs a primeira marcha carnavalesca
intitulada "Ó Abre Alas". Depois, em 1902, fez uma viagem
à Europa, na qual visitou Portugal, Espanha, Itália, França,
Alemanha, Bélgica, Inglaterra e Escócia. Dois anos mais
tarde seria convidada para apresentar-se no salão Neuparth,
de Lisboa, e na igreja de Nossa Senhora do Amparo, em
Benfica, Lisboa. Em 1906, tornou-se muito conhecida do
público português ao musicar várias peças de autores portugueses,
entre elas, "As Três Graças e A Bota do Diabo". Voltou
ao Brasil somente em 1912, para assistir a estréia de
"Forrobodó" opereta em três atos escrita por Luíz
Peixoto e Carlos Bittencourt, a qual Chiquinha musicara.
A opereta uma proposital caricatura de um baile
da elite brasileira teve 1500 apresentações e foi
um grande sucesso popular.
Em
1915, Chiquinha musicou a peça "A Sertaneja", de Viriato
Correia. No dia 27 de setembro de 1917, participou da
fundação da Sociedade de Arrecadadora, o SBAT. Em 1919,
lançou campanha de fundos destinados à construção de uma
nova sepultura para Francisco Manuel da Silva, compositor
do Hino Nacional Brasileiro. Sua última obra, a música
da peça "Maria", de Viriato Correia, data de 1933. Chiquinha
morreu em 1935, mas seu trabalho está eternizado na história
da música brasileira. Durante a sua vida enfrentou todos
os tipos de preconceitos.
Teve
problemas com o governo, afrontou muitas "opiniões" maldosas
que a sociedade tinha a seu respeito e foi considerada
subversiva.
Tudo
isso a custa de sua genialidade e de seu espírito libertário.
Foi ela quem pela primeira vez promoveu concertos em teatros
onde não era permitido a apresentação de certos instrumentos
como o violão, pois estes instrumentos mais populares
eram considerados pertencentes a um mundo de marginais
e prostitutas. Chiquinha foi uma das pessoas responsáveis
pela nacionalização da música brasileira num tempo em
que tudo vinha da Europa
Renato
Roschel
do
Banco
de Dados