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Charge
de Villa-Lobos, feita por Osvaldo e publicada na Folha
de S.Paulo em 12 de abril de 1987.
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Villa-Lobos
Heitor
Villa-Lobos nasceu no Rio de Janeiro no dia 5 de março de
1887.
Sua
mãe, Noêmia Monteiro Villa-Lobos, sempre incentivou os estudos
do filho, pois tencionava vê-lo formado em medicina.
A
música, nesse caso, era um empecilho para os planos de dona
Noêmia, que chegou a proibir o filho de estudar piano.
Heitor
teve que fazer seus estudos às escondidas, principalmente
os de violão.
A
infância de Villa-Lobos foi feliz. Seu pai tocava violoncelo
e clarineta dois instrumentos que Heitor aprenderia
a dominar, e difícil era algum transeunte passar de
noitinha em frente a casa na rua Riachuelo, onde morava
a família Villa-Lobos, sem escutar alguma doce melodia.
Certamente
esse convívio com a música influenciaria o jovem Heitor,
principalmente seus primeiros contatos com a obra de Bach.
Heitor
também costumava acompanhar seu pai à casa de Alberto Brandão,
onde teve seu primeiro contato com a música nordestina Villa-Lobos
presenciou várias reuniões de cantadores e
seresteiros.
Essas
grandes noites recheadas de música nordestina foram vividas
por Villa-Lobos na sua infância de tal maneira que seria
inevitável a sua fascinação pela arte popular.
Tão
grande foi a fascinação de Villa-Lobos pela
música popular que, ao ser proibido pelos pais de
acompanhar aqueles cantadores mais de perto, decidiu praticar
escondido aquelas músicas em seu violão.
Com
a morte do pai de Villa-Lobos, o sr. Raul Villa-Lobos, homem
pródigo, que ganhava bem, mas gastava tudo, a vida da família
Villa-Lobos sofreu drásticas alterações.
Dona
Noêmia foi obrigada a trabalhar duro para sustentar a família:
pôs-se a lavar e a engomar guardanapos para a confeitaria
Colombo. Com
a falta do pai na casa e com a mãe a trabalhar duro para
sustentar os filhos, Villa-Lobos acabou conquistando uma
grande liberdade. Tratou de aproximar-se de seu ídolos:
os chorões.
Pagava-lhes,
sempre que podia, uma boa dose de pinga. Um dos grandes
problemas enfrentados pelo jovem Villa-Lobos na época era
como adquirir capital suficiente para financiar aquelas
tantas pingas.
E
aí que entra em cena a famosa biblioteca do falecido sr.
Raul Villa Lobos.
Villa-Lobos
fazia "módicos" desfalques à biblioteca e, com
isso, conseguia o aporte financeiro necessário para melhor
entabulação diplomática com os chorões.
Nessa
época, Villa-Lobos aprendeu alguns passos de capoeira com
seus novos amigos e fez uma grande amizade com seu parceiro
em caçadas de preás, o garoto Zé do Cavaquinho, que anos
mais tarde seria também um famoso chorão e
funcionário do Conservatório Nacional de Canto Ofeônico,
organizado e dirigido por Villa-Lobos.
Outro
grande amigo de Villa-Lobos durante sua mocidade foi o pianista
polonês Arthur Rubinstein. Villa-Lobos o conheceu em um
carnaval carioca. Rubinstein,
que saíra vestido de mulher, encontrou Villa-Lobos, que
enrolara uma cobra de verdade no pescoço, e foram, os dois,
pular o carnaval. Acabaram na delegacia de polícia.
Villa-Lobos
matriculou-se no curso de preparação para o exame vestibular
de medicina, obedecendo à vontade de sua mãe. No
entanto, aos 16 anos, fugiu
de casa e foi refugiar-se na casa de uma tia -Fifina-, a
fim de ter maior liberdade para frequentar os chorões e
tocar em pequenas orquestras.
Dos
18 aos 26 anos, Villa-Lobos viajou pelo Brasil se apresentando
como músico e teve um contato intenso com o folclore brasileiro.
É nesse período que Villa-Lobos compõe "Amazonas"
e "Uirapuru".
Depois
desse período de andanças, Villa-Lobos retornou ao Rio de
Janeiro, em 1913, e sua obra começa a avolumar-se com as
composições "Cânticos Sertanejos", "Brinquedo
de Roda", "Sonata Fantasia nº 1" e as óperas
"Aglaia" e "Elisa".
Villa-Lobos foi um dos mais importantes e atuantes participantes
da Semana de Arte Moderna de 1922. Ele
apresentou uma série de três espetáculos. Mostrou ao público
paulista as seguintes obras: no dia 13, a "Segunda
Sonata", o "Segundo Trio" e a
"Valsa mística" (simples coletânea), o
"Rondante" (simples coletânea), "A
Fiandeira" e "Danças Africanas";
no dia 15, "O Ginete do Pierrozinho", "Festim
Pagão", "Solidão", "Cascavel"
e "Terceiro Quarteto"; no dia 17, "Terceiro
Trio", "Historietas: a) Lune de Octobre, b)Voilà
la Vie, c)Je Vis San Retard, Car vite s'écoule la vie",
"Segunda Sonata", "Camponesa cantadeira"
(suíte floral), "Num Berço Encantado" (simples
coletânaea),"Dança Infernal" e "Quatuor"
(com coro feminino).
Villa-Lobos não foi o único compositor moderno interpretado
na Semana de Arte Moderna. Junto com suas obras foram interpretadas
obras de Debussy, por Guiomar Novaes, e obras de Eric Satie,
por Ernani Braga, o qual também interpretou "A Fiandeira",
de Villa-Lobos. O Teatro Municipal de São Paulo foi
o primeiro palco "erudito" a receber as obras
de Villa-Lobos.
No
anos seguintes, Villa-Lobos vai para Europa afim de mostrar
sua música por lá.
No
dia 30 de junho de 1923, Villa-Lobos embarcou no navio francês
Croix, deixando o Rio de Janeiro com destino ao velho continente.
Não viajou para lá estudar ou para aperfeiçoar-se.
Foi afim de exibir o que já havia produzido. Não agiu como
a maioria do brasileiros que voltam de lá vaidosos de seus
estudos. O autor de Fiandeira chegou à Europa já com a cabeça
feita e se impôs em menos de um ano. Aliás, nenhum outro
autor estrangeiro vindo de um meio atrasado musicalmente,
como o Brasil daquela época, teve tanto sucesso em Paris
como Villa-Lobos.
Ao
regressar ao Brasil, em 1930, Villa-Lobos já era um músico
em plena maturidade, consciente de seu valor e autor de
uma bagagem equivalente à produção total de muitos artistas.
Para
piano, tinha a numerosa série de peças infantis, entre elas,
"Cirandas", "Alma Brasileira", "Saudades
da Selva Brasileira" e "Rudepoema".
Trouxe
também na bagagem a composição de "Epigramas
Irônicos e Sentimentais", e, para música de câmara,
algumas dezenas de peças para instrumento solista e piano,
além de vários tercetos, quartetos, mais cinco sinfonias
e outros tantos poemas sinfônicos e peças corais.
No
mesmo ano em que retornou ao Brasil, Villa-Lobos fez uma
turne pelo país percorrendo 66 cidades. Também foi
neste ano que ele organizou a Cruzada do Canto Orfeônico,
no Rio.
Nos
anos seguintes, teve uma importante atividade como educador
e divulgador musical. Foi o responsável pela fundação
da Orquestra Villa-Lobos e pela audição da Missa Solene
de Beethoven. Foi também Secretário da Educação Musical
no governo Getúlio Vargas e tornou obrigatório o ensino
de musica nas escolas.
Muitos
afirmam que Villa-Lobos teria sido músico da corte de Vargas
durante o primeiro e real ensaio articulado de se implantar
um regime fascista no Brasil; para outros, Villa-Lobos era
um entre vários outros intelectuais que fizeram a
obrigatória passagem pelo Governo Vargas (pois a
conjutura daquela época exigia) para, desta forma,
alcançar seus ideais.
Em
1945, Villa-Lobos, infatigável, criou, no Rio, a Academia
Brasileira de Música e foi seu primeiro presidente. Dois
anos depois, foi convidado para ir aos EUA, afim de escrever,
junto com os Libretistas Forrest e Wright, a opereta "Magdalena".
Villa-Lobos
morreu no dia 17 de novembro de 1959, no Rio, vítima de
uma crise de uremia viria.
Renato
Roschel
do
Banco
de Dados
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