NO CARNAVAL, A TV SÓ "FECHA NA PROCHASKA"

Publicado na Folha de S.Paulo, domingo, 9 de fevereiro de 1997.


FERNANDO DE BARROS E SILVA
especial para a Folha

''Fecha na Prochaska, fecha na Prochaska!'', gritava o apresentador da TV durante o baile de Carnaval. O câmera não teve dúvidas: deu um close na parte íntima da primeira mulher que viu rebolando montada em alguma cadeira.

''Não, não, é na Prochaska, na Prochaska!'', insistia o apresentador aos berros. O câmera foi em frente: aproximou um pouco mais a lente.

''Não! É na Prochaska, na Prochaaaaaaska!!!'', desesperou-se o apresentador. O câmera então radicalizou: a imagem da tela foi inteiramente tomada pelo biquíni da moça. Não se distinguia mais nada naquele ensaio ginecológico.

''É na Cristina Prochaska, na Cristina Prochaska, meu filho'', tentou pela última vez o apresentador. Dessa vez o câmera entendeu a mensagem. Deslocou a imagem e capturou a atriz Cristina Prochaska, que, encabulada, fazia as vezes de apresentadora do baile para a TV. Sem jeito, ela emendou: "E assim, com imagens ao vivo, encerramos nossa transmissão desse sensacional baile de Carnaval. Amanhã tem mais. Boa noite."

A cena foi real. Aconteceu em algum ano da década de 80, quando Otávio Mesquita, o apresentador em questão, ainda novato, tentava firmar-se como colunista social eletrônico perante o ''jet set'' local. De lá para cá, a coisa se profissionalizou. Os atores cederam a vaga para os colunistas de carreira. Otávio Mesquita, por exemplo, que também começou nessa época, transformou-se num dos bajuladores mais divertidos do ''star system''. Aprimorou muito, desde então, o estilo abobalhado que o caracteriza. Deixou para Amaury Jr. o título mais nobre de colunista oficial de colunáveis. Formam um belo par. São um comovente exemplo de divisão social do trabalho e falsa concorrência.

O episódio envolvendo Mesquita tem, por assim dizer, um inestimável valor arqueológico. O mal-entendido do qual foi vítima é uma espécie de marco na TV. Revela e antecipa o que seriam dali em diante as transmissões televisivas do Carnaval, cujo tema central são até hoje (e cada vez mais) as estripulias do jet set flagrado na ''intimidade'', em bailes fechados ou camarotes privês de sambódromos.

Esses camarotes, aliás, estão cada vez mais ''fashion''. São autênticos desfiles de egos patrocinados por companhias de cerveja, que aproveitam os holofotes da TV para associar a globete ''X'', o publicitário ''Y'' ou a cantora ''Z'' à imagem do produto que querem ver a galera (a coadjuvante da festa) consumindo a rodo nas arquibancadas, onde se acotovela. Hoje, mais uma vez, você verá figurinhas carimbadas, disputadas a tapa pelas escolas de samba, exibindo suas curvas na avenida. Verá também um ou outro favelado dançando em ''slow motion'' na sua tela, com direito aos seus 15 segundos de glória.

Afinal, o Carnaval não é a festa da comunhão nacional?

Todo ano é igual, como são cada vez mais idênticos os sambas-enredo, os comentários dos ''especialistas'' na TV, as reportagens do ''Jornal Nacional'' sobre os estilos regionais de se fazer folia.

Tudo é tão padronizado e tão oficial que parece até que a festa foi idealizada pelo Partido Comunista da ex-União Soviética na época de Stálin.

Como parece que a reeleição emplacou, o ministro Weffort que se cuide. Do jeito que a coisa vai, Fernando Vanucci é um sério candidato a ministro da Cultura no próximo mandato. Depois... bem, depois haja Engov para tanto porre. Feliz ressaca. Ou melhor, feliz Ano Novo, que, aliás, começa na quarta-feira, depois do meio-dia.


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