FERNANDO DE BARROS E SILVA
especial para a Folha
''Fecha na Prochaska, fecha na Prochaska!'', gritava o
apresentador da TV durante o baile de Carnaval. O câmera
não teve dúvidas: deu um close na parte íntima da primeira
mulher que viu rebolando montada em alguma cadeira.
''Não,
não, é na Prochaska, na Prochaska!'', insistia o apresentador
aos berros. O câmera foi em frente: aproximou um pouco
mais a lente.
''Não!
É na Prochaska, na Prochaaaaaaska!!!'', desesperou-se
o apresentador. O câmera então radicalizou: a imagem da
tela foi inteiramente tomada pelo biquíni da moça. Não
se distinguia mais nada naquele ensaio ginecológico.
''É
na Cristina Prochaska, na Cristina Prochaska, meu filho'',
tentou pela última vez o apresentador. Dessa vez o câmera
entendeu a mensagem. Deslocou a imagem e capturou a atriz
Cristina Prochaska, que, encabulada, fazia as vezes de
apresentadora do baile para a TV. Sem jeito, ela emendou:
"E assim, com imagens ao vivo, encerramos nossa transmissão
desse sensacional baile de Carnaval. Amanhã tem mais.
Boa noite."
A
cena foi real. Aconteceu em algum ano da década de 80,
quando Otávio Mesquita, o apresentador em questão, ainda
novato, tentava firmar-se como colunista social eletrônico
perante o ''jet set'' local. De lá para cá, a coisa se
profissionalizou. Os atores cederam a vaga para os colunistas
de carreira. Otávio Mesquita, por exemplo, que também
começou nessa época, transformou-se num dos bajuladores
mais divertidos do ''star system''. Aprimorou muito, desde
então, o estilo abobalhado que o caracteriza. Deixou para
Amaury Jr. o título mais nobre de colunista oficial de
colunáveis. Formam um belo par. São um comovente exemplo
de divisão social do trabalho e falsa concorrência.
O episódio envolvendo Mesquita tem, por assim dizer, um
inestimável valor arqueológico. O mal-entendido do qual
foi vítima é uma espécie de marco na TV. Revela e antecipa
o que seriam dali em diante as transmissões televisivas
do Carnaval, cujo tema central são até hoje (e cada vez
mais) as estripulias do jet set flagrado na ''intimidade'',
em bailes fechados ou camarotes privês de sambódromos.
Esses
camarotes, aliás, estão cada vez mais ''fashion''. São
autênticos desfiles de egos patrocinados por companhias
de cerveja, que aproveitam os holofotes da TV para associar
a globete ''X'', o publicitário ''Y'' ou a cantora ''Z''
à imagem do produto que querem ver a galera (a coadjuvante
da festa) consumindo a rodo nas arquibancadas, onde se
acotovela. Hoje, mais uma vez, você verá figurinhas carimbadas,
disputadas a tapa pelas escolas de samba, exibindo suas
curvas na avenida. Verá também um ou outro favelado dançando
em ''slow motion'' na sua tela, com direito aos seus 15
segundos de glória.
Afinal,
o Carnaval não é a festa da comunhão nacional?
Todo
ano é igual, como são cada vez mais idênticos os sambas-enredo,
os comentários dos ''especialistas'' na TV, as reportagens
do ''Jornal Nacional'' sobre os estilos regionais de se
fazer folia.
Tudo
é tão padronizado e tão oficial que parece até que a festa
foi idealizada pelo Partido Comunista da ex-União Soviética
na época de Stálin.
Como
parece que a reeleição emplacou, o ministro Weffort que
se cuide. Do jeito que a coisa vai, Fernando Vanucci é
um sério candidato a ministro da Cultura no próximo mandato.
Depois... bem, depois haja Engov para tanto porre. Feliz
ressaca. Ou melhor, feliz Ano Novo, que, aliás, começa
na quarta-feira, depois do meio-dia.