30.abr.55/Folha
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Acompanhado
de outros músicos, o instrumentista e compositor
Pixinguinha toca um chorinho no 2º Festival
da Velha Guarda, no Clube dos Artistas, conhecido
como "Clubinho". O festival ocorreu em
abril de 1955 e foi uma iniciativa de Almirante
e da Rádio Record
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Pixinguinha
Alfredo
da Rocha Viana Filho nasceu a 23 de abril de 1898, no Rio
de Janeiro.
Recebeu
o mesmo nome do pai, mas a avó, quase centenária, trazida
da África para o cativeiro, deu para chamá-lo de Pizidim.
O apelido pegou. Já crescido Alfredinho indagou a avó o
significado de Pizidim e ela explicou:
-
Isso é nome africano, meu neto; pizin quer dizer bom
e dim menino. Você é um bom menino.
Porém
com passar do tempo apareceram as inevitáveis corruptelas.
Passaram a chamar Alfredo de Bexiguinha, quando contraiu
bexiga em uma epidemia no Rio e, finalmente, de Pixinguinha.
Alfredo
da Rocha Viana Filho, ou Pixinguinha, foi autor de dezenas
de valsas, sambas, choros e polcas. Compôs orquestrações
para cinema, teatro e circo, além de arranjos para intérpretes
famosos, entre os quais Carmen Miranda, Francisco Alves
e Mário Reis.
Considerado o maior flautista brasileiro de todos os tempos
e mestre do chorinho, Pixinguinha desde pequeno dedicou-se
à música. Aprendeu a tocar cavaquinho com os irmãos
Leo e Henrique e aos
11 anos já dominava o instrumento. Seu pai, um excelente
flautista, também foi mais um dos mestres que Pixinguinha
teve em seu ambiente familiar
Esse
ambiente musical que o envolveu durante a infância aparece
em um depoimento feito ao MIS (Museu da Imagem e do Som),
no qual ele afirma: "às vezes a turma de músicos tocava
até tarde e eu era mandado para a cama. Mas não dormia.
Ficava prestando atenção e no dia seguinte procurava tirar
em minha flauta de lata os chorinhos que tinha escutado
até de madrugada". É nessa época que Pixinguinha compõe
sua primeira música, Lata de Leite, na qual retrata musicalmente
a brincadeira de crianças que bebiam o leite que era deixado
no portão da casa dos outros.
Com
14 anos, Pixinguinha tocou no Cine Teatro Rio Branco e começou
a trabalhar na Casa Chope Concha, na Lapa. Depois, sempre
levado à Lapa pelo irmão China ou por algum músico de confiança
de seu pai, o jovem Pixinguinha começou a tocar nos mais
famosos cabarés do Rio como O Ponto, ABC, O Castelo, e daí
para O Cine Teatro Rio Branco, onde entrou na orquestra,
com a fama de grande flautista.
Ainda
adolescente, Pixinguinha já possuia um currículo
considerável e acumulava uma vasta experiência como músico
de cassino, cabaré, cine-teatro, casa de chope, diretor
de harmonia de ranchos e músico profissional.
Nessa
época, Alfredinho empinava papagaio, gravava discos e via
seu nome aparecer na imprensa de diversas maneiras. Foi
Pexeguim, Bexiguinha, Peixiquinha, Pechinguinha, Pizindim
etc. A
primeira gravação do garoto Pixinguinha foi o chorinho São
João Debaido d'Água, de Irineu de Almeida.
Como
todo grande criador, Pixinguinha enfrentou algumas polêmicas
durante sua longa carreira. A primeira delas foi com Antonio
Maria Passos, Flautista da orquestra do Teatro Rio Branco,
que, ao faltar nos ensaios da orquestra, foi substituí por
um garoto de 15 anos chamado Bexiguinha, ou Pixinguinha,
vindo a perder o emprego, logo em seguida, para o tal garoto.
Uma
outra polêmica em que Pixinguinha esteve envolvido nasceu
em uma noite de 1916, na casa da Tia Ciata, quando João
da Mata, Sinhô, Hilário Jovino, João da Baiana, Donga e
seu irmão China, improvisaram nos seus instrumentos. Ali
nasceu o samba Pelo Telefone, que Donga registrou
como sendo música de sua autoria, unicamente. O grupo dividiu-se
com isso, alguns defendendo Donga, outros atacando, porém,
tudo através da música. O maior sucesso do carnaval de 1919,
Já te Digo, de Pixinguinha e China, era, nada mais
nada menos, que uma agressiva e engraçada forma de ridicularizar
a figura de Sinhô, que também reclamava para si a autoria
da música Pelo Telefone.
A
história de Pixinguinha também conta com conjuntos
musicais que marcaram época, como os Oito Batutas (1919),
grupo formado por ele (flauta), Donga (violão), Nelson Alves
(cavaquinho), China (canto, violão e piano), Raul Palmieri
(violão), José Alves (bandolim e ganzá) e Luis de Oliveira
(bandola e reco-reco), tocando um repertório que incluía
maxixes, canções sertanejas, batuques, cateretês e choros.
Foi
em 1922, ano da Semana de Arte
Moderna, em São Paulo, que os Oito Batutas
ganharam o mundo. Em janeiro de 22, eles foram para Europa
como o primeiro regional brasileiro a sair do país para
uma excursão. Foram para ficar 30 dias e ficaram seis meses.
Tocaram só música brasileira para os nobres europeus. Só
voltaram por saudades do Brasil e para não perder as comemorações
do Centenário da Independência.
O
regresso da Europa, mesmo depois de tanto sucesso, também
gerou algumas polêmicas por aqui, pois Pixinguinha, ao chegar
ao Brasil, decidiu alterar a formação dos Oito Batutas,
introduzindo instrumentação nova e ampliando o número de
músicos para dez ou doze componentes. Isso foi o suficiente
para os puristas de plantão acusá-lo de querer copiar as
jazz bands americanas, o que era, no mínimo, uma demonstração
de total desinformação musical, pois sax e pistão já haviam
sido utlizados no choro por Anacleto de Medeiros, que morreu
em 1907.
Apesar
do sucesso, aqui e no exterior, os Batutas ganharam pouquíssimo
dinheiro. Uma mostra disso foi a excursão que fizeram
à Argentina, na qual foram enganados por um empresário
que acabou fugindo com tudo o que foi ganho na excursão.
Os Batutas acabaram por empenhar os instrumentos e foram
obrigados a ficar um bom tempo vadiando pelas ruas de Buenos
Aires até arranjarem uma forma de arrecadar dinheiro suficiente
para voltar para o Brasil.
Foi
também na década 20, durante algumas apresentações
em São Paulo, que Pixinguinha conheceu Mário de Andrade,
uma das maiores personalidades da Semana
de Arte de 22. Mário queria conversar com alguém
que lhe contasse coisas da macumba, de maneira que pudesse
sintetizar a cerimônia colocando as diversas formas coimo
se apresentava no país. O resultado desse encontro está
no sétimo capítulo de Macunaíma, onde "negrão filho de Ogum,
bexiguento e fadista de profissão" do texto, não é outro
senão Pixinguinha.
Entre
outros grupos famosos dos quais Pixinguinha fez parte também
estão a Orquestra Típica Pixinguinha-Donga (1928) e o Grupo
da Velha Guarda, este organizado em 1932 e reorganizado
em 1954. Sua obra está gravada em dezenas de discos. Sua
composição de maior sucesso é "Carinhoso", de 1924,
cuja letra foi feita por Braguinha, em 1937. É autor ainda
da trilha sonora do filme Sol Sobre a Lama (1962), em parceria
com Vinícius de Moraes.
Bom
de música, de amigos e de copo, Pixinguinha foi uma das
figuras mais representativas da cultura e da cidade do Rio
de Janeiro. Boêmio, tinha uma mesa no Bar Gouveia, uma uisqueria,
na Travessa do Ouvidor, na qual seu nome foi gravado em
ouro, marcando a mesa reservada para seus uísques.
Pixinguinha considerava-se um boêmio caseiro -daqueles que
vão da casa ao bar e do bar à casa- e era frequentador assíduo
de alguns bares determinados. Sua boêmia ficava ainda mais
brilhante e suntuosa em suas festas de aniversário -verdadeiras
comemorações a ele e à música popular. Nestas festas não
podiam faltar duas coisas: o uísque e uma frase que Pixinguinha
sempre dizia: "minha vida foi sempre bem vivida na boêmia".
Dentro
da nossa música Pixinguinha é um mundo. Ritmos músicais
como o samba não existiriam como são hoje se não houvesse
a figura de Pixiguinha em sua história. Mário de
Andrade dizia que Pixinguinha surgiu quando "a música popular
tornou-se violentamente a criação mais forte e a caracterização
mais bela da nossa raça, nos últimos dias do império e primeiros
da República".
Quando
Pixinguinha morreu, a 17 de fevereiro de 1973, aos 75 anos
de idade, encerrou-se uma das mais belas épocas da música
popular do Brasil.
Renato
Roschel
do
Banco
de Dados
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