Paulo Leite/Fola Imagem
Clube do Pagode no Salão São Paulo. À direita está Chic Talismã no violão, Boca Nervosa atrás dele no cavaco e Tobias, o Tuba, ao lado batucando com as mãos.


Pagode





O pagode surgiu das festas e comemorações feitas nos fundos dos quintais do subúrbio carioca, nas quais se cantava as alegrias e os lamentos das pessoas que lá viviam.

Muitos músicos que hoje são considerados grandes sucessos nas rádios e televisões brasileiras, nasceram exatamente dessa manifestação popular completamente marginal aos acontecimentos musicais da grande mídia.

Historicamente, pagode era o nome das festas de escravos nas senzalas. No Rio de Janeiro, o morro e a malandragem lhe deram outro significado, consagrado no final da década de 70, que significava festa regada a muita comida, bebida e samba.

Foi do bairro de Ramos, no subúrbio carioca, que esse tipo de música surgiu para as rádios, as gravadores e os canais de televisão.

Lá, sambistas anônimos e jogadores de futebol se reuniam nos finais de semana para comer, beber e cantar.

O pagode só apareceu na mídia depois que Beth Carvalho, numa quarta-feira de 1978, foi, a convite do ex-volante do Vasco da Gama, Alcyr, à quadra do bloco Cacique de Ramos para conhecer um grupo de pagodeiros que fazia um samba bacana.

Era o grupo Fundo de Quintal, que trazia como um de seus vocalistas o ex-diretor de bateria da Escola de Samba Unidos do Salgueiro, Almir Guineto.

Beth gostou muito daquele samba misturado com outros ritmos africanos não tão difundidos e da sonoridade nova que a introdução do banjo, do repique de mão e a substituição do surdo pelo tatãn davam à música.

Ela passou então a gravar as músicas desses compositores e acabou por revelar nomes como Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Grupo Fundo de Quintal e Almir Guineto, entre outros.

Hoje, há dois tipos de pagode.

Um é a continuação do trabalho desses músicos e compositores que Beth Carvalho trouxe para a mídia; o outro é o resultado de certos grupos, também do subúrbio, que, na década de 90, imitaram os conjuntos vocais norte-americanos como os Temptations, Stylistics, Take 6 e Four Tops em suas roupas e coreografias sob uma base rítmica próxima ao pagode dos anos 80.

Esse pagode dos anos 90 difere, principalmente, do pagode de cantores-compositores como Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Jorge Aragão e Bezerra da Silva na construção das letras e na harmonia mais "adocicada" e adaptada pelos constantes acordes sintetizados dos teclados eletrônicos, os quais dão a música um som muito mais próximo do pop que do samba.

Ao dar uma roupagem mais pop para o pagode esses músicos acabaram por torná-lo um produto muito distante de suas originais feições.

Os músicos do pagode dos anos 90 introduziram os instrumentos eletrônicos afim de viabilizar os grandes shows e com isso competir com os sertanejos.

A inovação no pagode neste caso veio a reboque das necessidades comerciais.

Renato Roschel
do Banco de Dados


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