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Os
Capitéis do Coro de Cluny (Reprodução)
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Oito
modos, oito tons, oito partes do discurso, o legado
da ciência antiga e carolíngia é
chamado à zona mais sagrada do coro de Cluny
III. Uma das quatro face dos dois capitéis
que o ilustram associa o terceiro tom da música
ao saltério, a harpa triangular que os vinte
e quatro velhos do Apocalipse tangem.
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História da Música
A
história mitológica da música, no
mundo ocidental, começou com a morte dos Titãs.
Conta-se
que depois da vitória dos deuses do Olimpo sobre
os seis filhos de Urano (Oceano, Ceos, Crio, Hiperião,
Jápeto e Crono), mais conhecidos como os Titãs,
foi solicitado a Zeus que se criasse divindades capazes
de cantar as vitórias dos Olímpicos. Zeus
então partilhou o leito com Mnemosina, a deusa
da memória, durante nove noites consecutivas e,
no devido tempo, nasceram as nove Musas.
Entre
as nove Musas estavam Euterpe (a música) e Aede,
ou Arche (o canto). As nove deusas gostavam de freqüentar
o monte Parnaso, na Fócida, onde faziam parte do
cortejo de Apolo, deus da Música.
Há também, na mitologia, outros deuses ligados
à história da música como Museo,
filho de Eumolpo, que era tão grande musicista
que quando tocava chegava a curar doenças; de Orfeu,
filho da musa Calíope (musa da poesia lírica
e considerada a mais alta dignidade das nove musas), que
era cantor, músico e poeta; de Anfião, filho
de Zeus, que após ganhar uma lira de Hermes, o
mais ocupado de todos os deuses, passou a dedicar-se inteiramente
à música.
Se
estudarmos com cuidado a mitologia dos povos, perceberemos
que todo o povo tem um deus ou algum tipo de representação
mitológica ligado à música. Para
os egípcios, por exemplo, a música teria
sido inventada por Tot ou por Osíris; para os hindus,
por Brama; para os judeus, por Jubal e assim por diante,
o que prova que a música é algo intrínseco
à historia do ser humano sobre a Terra e uma de
suas manifestações mais antigas e importantes.
História
Não-Mitológica
A
origem mecânica e não-mitológica da
música divide-se em duas partes: a primeira, na expressão
de sentimentos através da voz humana; a segunda,
no fenômeno natural de soar em conjunto de duas ou
mais vozes; a primeira, seria a raiz da música vocal;
a segunda, a raiz da música instrumental.
Na
história não-mitológica da música
são importantes os nomes de Pitágoras, inventor
do monocórdio para determinar matematicamente as
relações dos sons, e o de Lassus, o mestre
de Píndaro, que, perto do ano 540 antes de Cristo,
foi o primeiro pensador a escrever sobre a teoria da música.
Outro
nome é o do chinês Lin-Len, que escreveu também
um dos primeiros documentos a respeito de música,
em 234 antes de Cristo, época do imperador chinês
Haung-Ti. No tempo desse soberano, Lin-Len -que era um de
seus ministros- estabeleceu a oitava em doze semitons, aos
quais chamou de doze lius. Esses doze lius foram divididos
em liu Yang e liu Yin, que correspondiam, entre outras coisas,
aos doze meses do ano.
Origem
Física e Elementos
A
música, segundo a teoria musical, é formada
de três elementos principais. São eles o ritmo,
a harmonia e a melodia. Entre esses três elementos
podemos afirmar que o ritmo é a base e o fundamento
de toda expressão musical.
Sem
ritmo não há música. Acredita-se que
os movimentos rítmicos do corpo humano tenham originado
a musica. O ritmo é de tal maneira mais importante
que é o único elemento que pode existir independente
dos outros dois: a harmonia e a melodia.
A harmonia, segundo elemento mais importante, é responsável
pelo desenvolvimento da arte musical. Foi da harmonia de
vozes humanas que surgiu a música instrumental.
A
melodia, por sua vez, é a primeira e imediata expressão
de capacidades musicais, pois se desenvolve a partir da
língua, da acentuação das palavras,
e forma uma sucessão de notas característica
que, por vezes, resulta num padrão rítmico
e harmônico reconhecível.
O
que resulta da junção da melodia, harmonia
e ritmo são as consonâncias e as dissonâncias.
Acontece,
porém, que as definições de dissonâncias
e consonâncias variam de cultura para cultura. Na
Idade Média, por exemplo, eram considerados dissonantes
certos acordes que parecem perfeitamente consonantes aos
ouvidos atuais, principalmente aos ouvidos roqueiros (trash
metal e afins) de hoje.
Essas
diferenças são ainda maiores quando se compara
a música ocidental com a indiana ou a chinesa, podendo
se chegar até à incompreensão mútua.
Para
melhor entender essas diferenças entre consonância
e dissonância é sempre bom recorrer ao latim:
Consonância,
em latim consonantia, significa acordo, concordância,
ou seja, consonante é todo o som que nos parece agradável,
que concorda com nosso gosto musical e com os outros sons
que o seguem.
Dissonância,
em latim dissonantia, significa desarmonia, discordância,
ou seja, é todo som que nos parece desagradável,
ou, no sentido mais de teoria musical, todo intervalo que
não satisfaz a idéia de repouso e pede resolução em uma
consonância.
Trocando
em miúdos, a dissonância seria todo som que
parece exigir um outro som logo em seguida.
Já a incompreensão se dá porque as
concordâncias e discordâncias mudam de cultura
para cultura, pois quando nós, ocidentais, ouvimos
uma música oriental típica, chegamos, às
vezes, a ter impressão de que ela está em
total desacordo com o que os nossos ouvidos ocidentais estão
acostumados.
Portanto
o que se pode dizer é que os povos, na realidade,
têm consonâncias e dissonâncias próprias,
pois elas representam as suas subjetividades, as suas idiossincrasias,
o gosto e o costume de cada povo e de cada cultura.
A
música seria, nesse caso, a capacidade que consiste
em saber expressar sentimentos através de sons artisticamente
combinados ou a ciência que pertence aos domínios
da acústica, modificando-se esteticamente de cultura
para cultura
Renato
Roschel
do
Banco
de Dados
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