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Os anos 50 chegaram
ao fim com uma geração de jovens, filhos do chamado
"baby boom", que vivia no auge da prosperidade financeira,
em um clima de euforia consumista gerada nos anos do pós-guerra
nos EUA. A nova década que começava já prometia
grandes mudanças no comportamento, iniciada com o sucesso
do rock and roll e o rebolado frenético de Elvis Presley,
seu maior símbolo.
A
imagem do jovem de blusão de couro, topete e jeans, em
motos ou lambretas, mostrava uma rebeldia ingênua sintonizada
com ídolos do cinema como James Dean e Marlon Brando. As
moças bem comportadas já começavam a abandonar
as saias rodadas de Dior e atacavam de calças cigarette,
num prenúncio de liberdade.
Os anos 60, acima de tudo, viveram uma explosão de juventude
em todos os aspectos. Era a vez dos jovens, que influenciados
pelas idéias de liberdade "On the Road" [título
do livro do beatnik Jack Keurouac, de 1957] da chamada geração
beat, começavam a se opor à sociedade de consumo
vigente. O movimento, que nos 50 vivia recluso em bares nos EUA,
passou a caminhar pelas ruas nos anos 60 e influenciaria novas
mudanças de comportamento jovem, como a contracultura e
o pacifismo do final da década.
Nesse cenário, a transformação da moda iria
ser radical. Era o fim da moda única, que passou a ter
várias propostas e a forma de se vestir se tornava cada
vez mais ligada ao comportamento.
Conscientes
desse novo mercado consumidor e de sua voracidade, as empresas
criaram produtos específicos para os jovens, que, pela
primeira vez, tiveram sua própria moda, não mais
derivada dos mais velhos. Aliás, a moda era não
seguir a moda, o que representava claramente um sinal de liberdade,
o grande desejo da juventude da época.
Algumas personalidades de características diferentes, como
as atrizes Jean
Seberg, Natalie Wood, Audrey Hepburn, Anouk Aimée,
modelos como Twiggy, Jean Shrimpton, Veruschka
ou cantoras como Joan Baez, Marianne Faithfull e Françoise
Hardy, acentuavam ainda mais os efeitos de uma
nova atitude.
Na moda, a grande vedete dos anos 60 foi, sem dúvida, a
minissaia. A inglesa Mary Quant divide com o francês André
Courrèges sua criação. Entretanto, nas palavras
da própria Mary Quant: "A idéia da minissaia
não é minha, nem de Courrèges. Foi a rua
que a inventou". Não há dúvidas de que
passou a existir, a partir de meados da década, uma grande
influência da moda das ruas nos trabalhos dos estilistas.
Mesmo as idéias inovadoras de Yves Saint Laurent com a
criação de japonas e sahariennes [estilo safári],
foram atualizações das tendências que já
eram usadas nas ruas de Londres ou Paris.
O
sucesso de Quant abriu caminho para outros jovens estilistas,
como Ossie Clark, Jean Muir e Zandra Rhodes. Na América,
Bill Blass, Anne Klein e Oscar de la Renta, entre outros, tinham
seu próprio estilo, variando do psicodélico [que
se inspirava em elementos da art nouveau, do oriente, do Egito
antigo ou até mesmo nas viagens que as drogas proporcionavam]
ou geométrico e o romântico.
Em 1965, na França, André Courrèges operou
uma verdadeira revolução na moda, com sua coleção
de roupas de linhas retas, minissaias, botas brancas e sua visão
de futuro, em suas "moon girls", de roupas espaciais,
metálicas e fluorescentes. Enquanto isso, Saint Laurent
criou vestidos tubinho inspirados nos quadros neoplasticistas
de Mondrian e o italiano Pucci virou mania com suas estampas psicodélicas.
Paco Rabanne, em meio às suas experimentações,
usou alumínio como matéria-prima.
Os tecidos apresentavam muita variedade, tanto nas estampas quanto
nas fibras, com a popularização das sintéticas
no mercado, além de todas as naturais, sempre muito usadas.
As mudanças no vestuário também alcançaram
a lingerie, com a generalização do uso da calcinha
e da meia-calça, que dava conforto e segurança,
tanto para usar a minissaia, quanto para dançar o twist
e o rock.
O unissex ganhou força com os jeans e as camisas sem gola.
Pela primeira vez, a mulher ousava se vestir com roupas tradicionalmente
masculinas, como o smoking [lançado para mulheres por Yves
Saint Laurent em 1966].
A
alta-costura cada vez mais perdia terreno e, entre 1966 e 1967,
o número de maisons inscritas na Câmara Sindical
dos costureiros parisienses caiu de 39 para 17. Consciente dessa
realidade, Saint Laurent saiu na frente e inaugurou uma nova estrutura
com as butiques de prêt-à-porter de luxo, que se
multiplicariam pelo mundo também através das franquias.
Com isso, a confecção ganhava cada vez mais terreno
e necessitava de criatividade para suprir o desejo por novidades.
O importante passaria a ser o estilo e o costureiro passou a ser
chamado de estilista.
Nessa época, Londres havia se tornado o centro das atenções,
a viagem dos sonhos de qualquer jovem, a cidade da moda. Afinal,
estavam lá, o grande fenômeno musical de todos os
tempos, os Beatles, e as inglesinhas emancipadas, que circulavam
pelas lojas excêntricas da Carnaby Street, que mais tarde
foram para a famosa King's Road e o bairro de Chelsea, sempre
com muita música e atitude jovens.
Nesse contexto, a modelo Jean Shrimpton era a personificação
das chamadas "chelsea girls". Sua aparência era
adolescente, sempre de minissaia, com seus cabelos longos com
franja e olhos maquiados. Catherine
Deneuve também encarnava o estilo das "chelsea
girls", assim como sua irmã, a também atriz
Françoise Dorléac. Por outro lado, Brigitte Bardot
encarnava o estilo sexy, com cabelos compridos soltos rebeldes
ou coque no alto da cabeça [muito imitado pelas mulheres].
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Twiggy,
o rosto dos 60
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Entretanto, os anos
60 sempre serão lembrados pelo estilo da modelo e atriz
Twiggy, muito magra, com seus cabelos curtíssimos e cílios
inferiores pintados com delineador.
A maquiagem era essencial e feita especialmente para o público
jovem. O foco estava nos olhos, sempre muito marcados. Os batons
eram clarinhos ou mesmo brancos e os produtos preferidos deviam
ser práticos e fáceis de usar. Nessa área,
Mary Quant inovou ao criar novos modelos de embalagens, com caixas
e estojos pretos, que vinham com lápis, pó, batom
e pincel. Ela usou nomes divertidos para seus produtos, como o
"Come Clean Cleanser", sempre com o logotipo de margarida,
sua marca registrada.
As perucas também estavam na moda e nunca venderam tanto.
Mais baratas e em diversas tonalidades e modelos, elas eram produzidas
com uma nova fibra sintética, o kanekalon.
O estilo da "swinging London" culminou com a Biba, uma
butique independente, frequentada por personalidades da época.
Seu ar romântico retrô, aliado ao estilo camponês,
florido e ingênuo de Laura Ashley, estavam em sintonia com
o início do fenômeno
hippie do final dos anos 60.
A moda masculina, por sua vez, foi muito influenciada, nos início
da década, pelas roupas que os quatro garotos de Liverpool
usavam, especialmente os paletós sem colarinho de Pierre
Cardin e o cabelo de franjão. Também em Londres,
surgiram os mods, de paletó cintado, gravatas largas e
botinas. A silhueta era mais ajustada ao corpo e a gola rolê
se tornou um clássico do guarda-roupa masculino. Muitos
adotaram também a japona do pescador e até mesmo
o terno de Mao.
No Brasil, a Jovem Guarda fazia sucesso na televisão e
ditava moda. Wanderléa de minissaia, Roberto Carlos, de
roupas coloridas e como na música, usava botinha sem meia
e cabelo na testa [como os Beatles]. A palavra de ordem era "quero
que vá tudo pro inferno".
Os avanços na medicina, as viagens espaciais, o Concorde
que viaja em velocidade superior à do som, são exemplos
de uma era de grande desenvolvimento tecnológico que transmitia
uma imagem de modernidade. Essa imagem influenciou não
só a moda, mas também o design e a arte que passaria
a ter um aspecto mais popular e fugaz.
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Trabalho
de Andy Warhol, símbolo da pop art |
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Nesse contexto, nenhum
movimento artístico causou maior impacto do que a Arte
Pop. Artistas como Andy Warhol, Roy Lichetenstein e Robert Indiana
usaram irreverência e ironia em seus trabalhos. Warhol usava
imagens repetidas de símbolos populares da cultura norte-americana
em seus quadros, como as latas de sopa Campbell, Elvis Presley
e Marilyn Monroe. A Op Art [abreviatura de optical art, corrente
de arte abstrata que explora fenômenos ópticos] também
fez parte dessa época e estava presente em estampas de
tecidos.
No ritmo de todas as mudanças dos anos 60, o cinema europeu
ganhava força com a nouvelle vague do cinema francês
["Acossado", de Jean-Luc Godard, se tornaria um clássico
do movimento], ao lado do neo-realismo do cinema italiano, que
influenciaram o surgimento, no início da década,
do cinema novo [que teve Glauber Rocha como um dos seus iniciadores]
no Brasil, ao contestar as caras produções da época
e destacar a importância do autor, ao contrário dos
estúdios de Hollywood.
No final dos anos 60, de Londres, o reduto jovem mundial se transferiu
para São Francisco (EUA), região portuária
que recebia pessoas de todas as partes do mundo e também
por isso, berço do movimento hippie, que pregava a paz
e o amor, através do poder da flor [flower power], do negro
[black power], do gay [gay power] e da liberação
da mulher [women's lib]. Manifestações e palavras
de ordem mobilizaram jovens em diversas partes do mundo.
A esse conjunto de manifestações que surgiram em
diversos países deu-se o nome de contracultura. Uma busca
por um outro tipo de vida, underground, à margem do sistema
oficial. Faziam parte desse novo comportamento, cabelos longos,
roupas coloridas, misticismo oriental, música e drogas.
No
Brasil, o grupo "Os Mutantes", formado por Rita Lee
e os irmãos Arnaldo e Sérgio Batista, seguiam o
caminho da contracultura e afastavam-se da ostentação
do vestuário da jovem guarda, em busca de uma viagem psicodélica.
A moda passou a ser as roupas antes reservadas às classes
operárias e camponesas, como os jeans americanos, o básico
da moda de rua. Nas butiques chiques, a moda étnica estava
presente nos casacos afegãos, fulares indianos, túnicas
floridas e uma série de acessórios da nova moda,
tudo kitsch, retrô e pop.
Toda a rebeldia dos anos 60 culminaram em 1968. O movimento estudantil
explodiu e tomou conta das ruas em diversas partes do mundo e
contestava a sociedade, seus sistemas de ensino e a cultura em
diversos aspectos, como a sexualidade, os costumes, a moral e
a estética.
No Brasil, lutava-se contra a ditadura militar, contra a reforma
educacional, o que iria mais tarde resultar no fechamento do Congresso
e na decretação do Ato Institucional nº 5.
Talvez o que mais tenha caracterizado a juventude dos anos 60
tenha sido o desejo de se rebelar, a busca por liberdade de expressão
e liberdade sexual. Nesse sentido, para as mulheres, o surgimento
da pílula anticoncepcional, no início da década,
foi responsável por um comportamento sexual feminino mais
liberal. Porém, elas também queriam igualdade de
direitos, de salários, de decisão. Até o
sutiã foi queimado em praça pública, num
símbolo de libertação.
Os 60 chegaram ao fim, coroados com a chegada do homem à
Lua, em julho de 1969, e com um grande show de rock, o "Woodstock
Music & Art Fair", em agosto do mesmo ano, que reuniu
cerca de 500 mil pessoas em três dias de amor, música,
sexo e drogas.
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