VERUSCHKA, O MITO, É VISTA POR RUBARTELLI

Publicado na Folha de S.Paulo, quarta-feira, 8 de novembro de 1972


As mais sensacionais e famosas manequins desta decada estão deixando as passarelas e tomando novos rumos profissionais. Jean Shrimpton, Twiggy e agora Veruschka, que ao longo de varios anos têm dominado o espaço dos mitos que desfilam a moda, os cosmeticos e produtos variados, foram lentamente conquistadas pelo cinema. Primeiro, Shrimpton, depois Twiggy, que filmou com Ken Russel o musical "The Boyfriend" (O Namoradinho), uma das proximas atrações em São Paulo.
Veruschka, que muitos chamam de "a Greta Garbo do ano 2000", apareceu nas telas pela primeira vez com Michelangelo Antonioni em "Blow Up". Agora, Franco Rubartelli, com quem ela vive e sempre trabalhou, fêz um filme que leva seu nome, "Veruschka" e que é dedicado a ela. A obra será apresentada hoje no cine Marachá, às 22h, na sessão "maldita" daquela sala.

A Mulher e o Mundo

Veruschka não ama completamente o seu companheiro, no filme interpretado pelo ator Luigi Pistilli. Durante uma viagem, ela passa em revista as coisas que lhe aconteceram e acontecem, filtrando as experiencias com sua sensibilidade. Depois de um longo periodo de vida em comum com o homem, a mulher percebe a situação em que está envolvida e que a aprisiona.
É uma mulher impossibilitada de adaptar-se a qualquer situação presente. Esconde em sua insegurança uma ilusoria marca de liberdade e decide abandonar o amante, no qual vê a barreira e o limite para os seus desejos de voar. Mas retorna, porque não tem capacidade para tomar decisões. Na verdade, a mulher Veruschka ainda não é suficientemente madura para estar livre.
Esta é a história que Rubartelli, o fotografo, desenvolve em sua estreia no cinema. Para ela, não há nenhuma diferença entre fazer fotografia e cinema. E Veruschka, como manequim, já atingiu o apogeu. Em 1967, no festival de Veneza, ele apresentou um curta-metragem sobre a mulher Veruschka, que serviu de piloto para a realização do filme longo. Testou, assim, as reações do publico e dos criticos sobre as suas experiencias com a cor e a montagem. O filme é como uma historia em quadrinhos, desenvolvendo as experiencias excentricas, oniricas, reais e sexuais da mulher diante de um universo ao qual ela não está definitivamente integrada.

Receita de Mito

Olhos muito azuis, cabelo de brilho e tonalidade incomuns, alta, com uma postura elegante e roupas de "fouquet", Veruschka é, com Shrimpton e Twiggy, a parte final de um trio de manequins que provocou desde seus aparecimentos, revoluções na concepção da modelo. Inteligente, fala cinco línguas fluentemente, é tímida, é sexy, meiga e descontraida. Gosta dos cabelos longos, é magerrima e, consciente de sua condição de mito confessa não saber como responder aos "experts" que a vêm como a mulher do ano 2000.
Condessa, alemã, filha de um dos generais que conspiraram contra Hitler e que por isso foi fuzilado em 1944, Veruschka preferiu outro campo de batalha: o da moda, da beleza, da fotogenia. Cursou a "American Musical and Dramatic Academy" e não resistiu ao convite que Antonioni lhe fêz quando preparava "Blow Up". Estreou, assim, num novo campo: o da interpretação, fazendo o papel que está acostumada a viver na realidade, o de manequim.
Há anos ela vive com Rubartelli, responsável por seu exito, ou pela maior parte dele. Antes, Veruschka posava para Richard Avedon. E, antes ainda, para Diana Vreeland, que foi quem a descobriu e a lançou nas paginas da revista "Vogue". Daí em diante tudo foi relativamente facil para esta mulher: altissimos salarios, fama, cinema e, aos poucos, a conquista do lugar entre os mitos contemporaneos.
O filme de Rubartelli traz Veruschka nua em varias cenas, o que não deixou a manequim perturbada. Ela se diz a mais ardorosa fã do fotografo e acha que, entre os melhores, ele é o melhor.
"Por isso nada que ele faz é condenavel, mesmo quando essa não é a exata impressão que dá aos conservadores".
Veruschka gosta de Greta Garbo mas ão quer ser uma replica daquela atriz. Conseidera-se uma mulher sensual, superável como Twiggy - "no campo da moda todos desaparecem". Para enfrentar a queda, acha o cinema uma saida. Gosta de Fellini, de Godard e Buñuel, não aprecia James Bond, embora considere que seu tipo fisico cai bem nas aventuras de espionagem.
"Sou uma mulher do presente. Poucas vezes posei despida. Não acho isso tão importante. Minha timidez é um fenomeno particular e não influi na minha profissão. Quando poso nua não sou timida. A nudez é linda, um fato natural em torno do qual se faz excessivo misterio. Não gostaria de posar para "Playboy": ela apresenta a nudez friamente".


© Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.