CONTRAPONTO

PIXINGUINHA ARTISTA


Publicado na Folha de S.Paulo, sábado, 21 de julho de 1973

Pixinguinha, como era conhecido Alfredo da Rocha Vianna Junior (1898-1973), um dos maiores nomes da musica popular brasileira, voltava para casa, de madrugada, depois de uma noite no famoso "Bar do Gouvêa" e, andando pelas ruas já desertas de seu bairro, o Engenho da Rainha, foi abordado por dois bandidos, de revólver em punho, que encostaram o artista contra um muro e foram tomando tudo o que ele tinha. Não adiantaram protestos nem pedidos. Mas a fraqueza se fez força quando os homens enfiaram a mão no bolso do paletó do criolo e tiraram de lá uma flauta de prata. Pixinguinha virou bicho. A flauta, não; então, que o matassem ali, naquela hora.
A resistência e o empenho em preservar a posse do instrumento revelaram, finalmente, a identidade da vitima. Um dos assaltantes, sem esconder seu espanto, exclamou:
- É o Pixinga!
Ali terminou a ação. O objeto do furto foi devolvido, os homens se desfazendo em desculpas. Era a dureza da vida, a falta de emprego, a necessidade de levar "algum" para casa e escapar da bronca da mulher, o filho doente e mal, sem remédio. Tantas foram as desgraças relatadas que Pixinguinha se comoveu. Convidou os algozes para um chopinho no boteco mais próximo. Em pouco tempo conversavam como velhos conhecidos: e ao raiar do dia eram amigos íntimos.



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