QUASE
CEM ANOS DE PIXINGUINHA, O IMORTAL
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Publicado
na Folha de S.Paulo,
sábado, 23 de abril de 1977
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''Músico,
intérprete, orquestrador, compositor e condutor de conjuntos,
da maior competência - segundo o musicólogo Mozart de
Araújo - Pixinguinha hoje completaria 97 anos. E, certamente,
ainda seria um dos fregueses mais queridos do "Bar do Gouveia",
no Rio.
Ali, onde se reuniu com amigos e recebeu vários admiradores
para uma conversa informal, durante anos seguidos, até sua
morte, em 1973, o mestre do choro ganhou uma placa para lembrar eternamente
sua presença.
A Secretaria de Educação da prefeitura do Rio lembrará
o aniversário de Pixinguinha com um concurso de conjuntos de
choro e com festejos sobre o centenário desse gênero
musical. Para Mozart, a existência desses novos grupos reflete
bem a preocupação que o "mestre" sempre teve,
no sentido de preservar o choro herdado de artistas anteriores, como
Calado e Batina.
"As gerações anteriores - explicou Mozart - foram
as de Antônio da Silva Calado... (1880) e Irineu Batina (1900).
Com o aparecimento profissional de Pixinguinha, pela primeira vez,
em 1910, aos doze anos de idade, o choro ganhou seu terceiro grande
nome, em ordem cronológica. Começou como flautista no
conjunto "Pessoal do Bloco" e apresentou, de inicio, criações
modelos, como os lundus, sambas, maxixes e choros.
Mozart acredita que o choro sempre sofreu pequenas fases de recesso,
devido aos modismos musicais importados, mas ele volta em seguida
com a mesma força.
"É, por exemplo o que acontece agora - disse - quando
há oito conjuntos formados. A nova geração começa
a não mais se contentar com a repetição dos processos
elementares do "rock". As fontes históricas para
esses movimentos pelo choro - continuou - nós vamos encontrar
na obra desse admirável Pixinguinha, cuja atuação
pode-se comparar a uma verdadeira escola de música brasileira
autêntica".
O choro, para Mozart de Araújo - que organizou um album duplo
sobre Pixinguinha - não vai desaparecer, pois relembra um ambiente
carioca que já não existe. Acredita inevitável
a renovação desse tipo de música que, no fim
da década de 1870, começou a aparecer nos subúrbios
cariocas, num ambiente de classe média que procurava imitar
as músicas dos salões burgueses.
Para mostrar essa atualização, Mozart apontou a diferença
entre os estilos do tradicional Luperce Miranda e do renovador Jacó
do Bandolim. "O choro - disse - é um grupo de músicos,
como também um gênero musical. Desse tipo de música,
os críticos são unânimes em apontar Pixinguinha
como, talvez, o maior mestre".
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