Smetana

 

Considerado o fundador da escola tcheca de composição, Bedrich Smetana, nasceu na Boêmia a 2 de março de 1824. Cresceu falando alemão e dando aulas de música para uma família de aristocratas em Praga.

Era um dos 18 filhos de Frantisek Smetana, gerente de uma fábrica de cerveja nos domínios do Conde de Waldstein.

Teve contato com a música desde pequeno, pois seu pai era violinista amador e de muito bom gosto, a julgar pelo repertório que, segundo os biógrafos, se praticava na casa onde o menino Smetana, além de músico de quarteto, era cantor e improvisador ao piano e ao violino, rivalizando na história com o próprio Mozart na condição de prodígio.

Smetana estudou musica na cidade de Pilsen, e lá ficou amigo da família Kolar, a qual seu pai conhecia desde 1831. A essa famíia pertencia Katerina, pianista de talento reconhecido em Praga, onde havia tido aulas com Josef Proksch. Katerina, com quem Smetana fizera, desde menino, duos, seria o grande amor de sua vida.

Foi graças aos Kolar que o futuro pai da música tcheca conseguiu terminar seus estudos na capital, orientado pelo mesmo professor de Katerina.

A sua decisão, porém, de dedicar-se inteiramente à música provocou sérios conflitos com seu pai, pois o antigo cervejeiro do Conde de Waldstein atravessava uma situação econômica dificílima.

Em 1843, então com 19 anos, Smetana participou como guerrilheiro dos levantes nacionalistas tchecos em Praga, ao ponto de tornar-se um terrorista urbano no combate aos austríacos.

Tornou-se um nacionalista ferrenho e, ao 24 anos, ele que praticamente só falava alemão, empenhou-se em estudar tchecho como forma de resistência.

Nesses intempestivos dias de Praga, a amizade e o relacionamento artístico entre Smetana e Katerina acabaria transformando-se em uma grande paixão que desembocaria no casamento, em 1849.

À época do casamento, Smetana já era uma personalidade em Praga.

Havia sido maestro residente da família do Conde Leopold Thun, era o autor, entre outras obras, de um ciclo de peças para piano e foi o fundador de seu próprio conservatório, o qual não foi tão bem quanto ele imaginara.

Com o insucesso do seu conservatório e como a revolta nacionalista da qual tomara parte foi ferozmente esmagada, fatos que tornaram a situação de seu país desanimadora, Smetana viu-se obrigado a mudar-se para Suécia, onde trabalhou como diretor da Sociedade Filarmônica de Göteborg.

Durante seu exílio Smetana perderia a mulher, vítima de tuberculose, e casaria-se novamente com Bettina Ferdinandova.

Voltaria para seu país, em 1861, casado com sua segunda esposa e com o ferrenho intuito de defender a cultura e a língua tcheca, chegando a ocupar a posição de porta-voz da cultura tcheca.

O grande sucesso do compositor Smetana só chegou em 1866, quando, aos 42 anos, viu sua primeira ópera, Os "Brandenburgos na Boêmia", agradar grandemente o público.

Sua ópera seguinte, "A Noiva Vendida", apesar de uma carreira inicialmente comprometida pela situação política da Europa Central, também acabaria alcançando grande repercussão. Algumas de suas outras criações para o palco, sobretudo "Dalibor" e "As Duas Viúvas", não tiveram a mesma sorte e foram tachadas de "wagnerianas".

Lutando contra várias dificuldades, uma delas era a defesa extremada de seu posto na casa de ópera de Praga, Smetana ainda conseguiu escrever uma nova ópera, "Libuse", e começar um projeto que o tornaria, anos mais tarde, uma celebridade internacional: o ciclo de poemas sinfônicos "Ma Vlast" ("Minha Terra"), o qual levou 7 anos para ser concluído.

Um desses poemas, "O Rio Moldavia", tornaria-se uma das obras mais populares de todo o repertório romântico de fundo nacionalista. Antes mesmo de conseguir completar esse seu grande projeto, em julho de 1874, Smetana começou a ter ulcerações na pele, problemas na garganta e, o que ainda era mais terrível, problemas nos ouvidos que acabariam deixando-o surdo: era a sífilis.

No fim de 1876, sob terríveis condições físicas, Smetana ainda conseguiria terminar o seu primeiro quarteto de cordas, "Da Minha Vida", em meio a abomináveis perturbações auditivas.

No ano seguinte, reuniria forças para escrever sua penúltima ópera, "O Segredo", e terminaria, em 1881, a oitava e última ópera, "O Muro do Diabo".

Em 1883, ainda tentaria compor outras obras, mas sua situação física tornava-se cada vez mais delicada.

Passou a ser vigiado noite e dia, pois havia sempre o perigo de que comete-se suicídio. Também passou a não reconhecer nem a própria família, sofria de intermináveis dores de cabeça e de violentas crise de nervos.

Trabalhou vários anos do fim de sua vida em adaptação da peça "Noite de Reis" de Shakespeare, intitulada "Viola". Ele já havia feito 363 compassos da obra, quando foi internado em um asilo para doentes mentais, vindo a morrer logo em seguida, em 1884, num "acesso furioso" segundo o seu não tão confiável diagnóstico.

Smetana não chegou a ser o Mozart como desejava quando criança, mas pode comparar-se a outro grandes nomes da música. Superou Glinka, Sibelius, Greig e Chopin na força do reconhecimento de seus compatriotas. Igualou Liszt em técnica pianística. E foi Beethoven, ao menos na surdez em que produziu as suas últimas obras, e Schuman, na loucura em que morreu.

O triste final da vida de um grande compositor como Smetana é a prova de que a surdez também pode enlouquecer, especialmente quando ocorre com um compositor no exato momento em que entra na fase mais madura de sua arte.

Smetana é tido em todo o mundo como o primeiro criador de um estilo musical autenticamente tcheco, suas obras são cheias de melodias brilhantes e alegres que lembram as danças campestres de sua terra natal.

Renato Roschel
do Banco de Dados


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