Leia mais sobre
Odylo Costa, filho
Nomes e Datas

(1)
- Movimento militar, dirigido pelo marechal (então general) Henrique Teixeira Lott, como um contragolpe preventivo para garantir a posse do presidente eleito, Juscelino Kubitscheck. Com o movimento, Carlos Luz abandonou a presidência da República, que foi assumida por Nereu Ramos, então vice-presidente do Senado

(2) - Crise política
que culminou com o suicídio do presidente Getúlio Vargas

(3) - Café Filho assumiu a presidência da República com a morte de Getúlio Vargas e dela se afastou em 8 de novembro de 1955, por motivos de saúde. Era vice-presidente de Getúlio e presidente do Senado

(4) - Político e diplomata, Raul Fernandes foi ministro das Relações Exteriores do governo Getúlio Vargas

(5) - Ministro da Guerra dos governos Café Filho e Juscelino Kubitschek. Concorreu à presidência da República, mas perdeu para Jânio Quadros

(6) -
Nereu Ramos assumiu a presidência da República com o movimento de 11 de novembro e nela permaneceu até 31 de janeiro quando deu posse a Juscelino Kubitscheck

(7) -
Foster Dulles era secretário de Estado norte-americano no governo de Eisenhower

(8) -
Movimentos militares contra o governo de Juscelino Kubitscheck. O primeiro, ocorrido em 31 de janeiro de 1956, data da posse de JK, consistiu na tomada da base de Jacareacanga, na selva amazônica, por oficiais da Aeronáutica. No segundo, outro grupo de oficiais da Aeronáutica tomou a base de Aragarças, em Goiás. Nos dois casos, os revoltosos foram derrotados e procuraram asilo em países latino-americanos

(9) - Armando Falcão

___________
Leia também os
depoimentos de:


- Barreto Leite Filho
- Raimundo Magalhães
- Paulo Mota Lima
- Paulo Duarte
- Joel Silveira
- Hermínio Sacchetta
- Edmundo Moniz
- Breno Caldas
- Samuel Wainer
 
 

São Paulo, quinta-feira, 11 de janeiro de 1979

Jornalistas contam a História — 7

UMA NOVA IMAGEM DO GOVERNO JK

Depoimento de ODYLO COSTA, FILHO
ao repórter Gilberto Negreiros

1963/Folha Imagem
 
 
Juscelino Kubitschek
 

Ainda há quem veja o governo de Juscelino Kubitscheck (1956-1961) como uma espécie de idade de ouro da imprensa brasileira. Favorecidos pelo clima de tolerância e euforia desenvolvimentista da época, os jornais teriam saltado uma etapa em sua história, adquirindo feição gráfica e técnica, cujo sinal mais evidente estava na adoção do "lead" norte-americano, atenuado pelo brasileiríssimo "sublead" criado por Luis Paulistano no "Diário Carioca".

A renovação da imprensa inegavelmente aconteceu e seu marco mais festejado foi a reformulação do matutino carioca "Jornal do Brasil", tarefa entregue a Odylo Costa, Filho. Ele lembra que a filosofia editorial adotada então pelo JB podia ser resumida numa frase: "Um jornal que fosse de leitura indispensável tanto para a empregada doméstica quanto para a patroa".

Após ter ocupado a assessoria de imprensa do presidente Café Filho, Odylo foi para a direção da Rádio Nacional, onde o dever profissional o envolveria no episódio de novembro de 1955, quando um grupo de militares e políticos da extinta UDN tentou impedir a posse de Juscelino. O estopim do golpe seria a demissão do general Henrique Lott do Ministério de Exército, então da Guerra.

Odylo Costa, Filho determinou que fosse levado ao ar pela Rádio Nacional o relato, instante a instante, da espera do general Lott, numa ante-sala do Palácio do Catete, aguardando ouvir do presidente em exercício, Carlos Luz, a comunicação de que estava demitido. Horas depois, o que acontecia era o contragolpe e o demitido era Carlos Luz, num processo que alcançaria até o presidente Café Filho, impedido de retornar ao cargo por uma coluna motorizada do Exército que cercou sua casa em Copacabana.

*

Vamos iniciar falando sobre a imprensa durante o governo JK. Nesse periodo houve um processo de renovação, de transformação, que tem seu principal destaque na reforma do "Jornal do Brasil". Faça uma apreciação geral.

Odylo Costa, Filho —
Eu considero que a revolução do "Jornal do Brasil" não está ligada ao tão falado processo desenvolvimentista do governo Juscelino. Ela é um episódio de um processo que se inicia antes, com a queda do Estado Novo. Isto é, com a extinção do sistema de subvenção do DIP. Como você sabe, este processo viciou de tal maneira o funcionamento da empresa jornalística brasileira, que ela passou a não ter a menor independência. Ela era sempre deficitária e o "déficit" era coberto prontamente pelo DIP. Todos dependiam do DIP, isto é, todos dependiam do Estado, ou melhor, todos dependiam do Estado Novo.

À exceção do "Diário de Notícias", não é?

Odylo —
Certo. O "Diário de Notícias", tinha sido a grande exceção, recusando qualquer subvenção. E Orlando Dantas, o dono do jornal, tinha lutado com obstinação agressiva para manter a independência completa de sua folha, inclusive através de compressão das despesas. Mesmo nos salários que eram extremamente modestos, para não dizer miseráveis. Eu tive apreço por ele, trabalhei com ele, gostava dele, mas sempre defendi o aumento do salário do pessoal, porque eles não permitiam a profissionalização de quem trabalhava. Isso era generalizado, mas era mais acentuado no "Diário de Notícias". Quem trabalhava lá dificilmente podia ser profissional porque os salários não davam para a sobrevivência.

Mas, voltemos ao "Jornal do Brasil". Então, o processo se inicia com a necessidade de os jornais jornais como empresas, não como instituições sobreviverem. No caso do JB, a base pré-existe no Estado Novo, que era a do pequeno anúncio. No Rio, havia dois jornais que tinham pequeno anúncio, o JB e o "Correio da Manhã". O "Jornal do Brasil" tinha os anúncios, mas não tinha redação. Tinha redatores, alguns deles da mais alta categoria, mas não se sentia nele um jornal. A condessa Pereira Carneiro era filha de jornalista. Seu pai trabalhara longo tempo no próprio JB. Escreveu inclusive um folheto sobre o "Jornal do Brasil", sobre seu funcionamento, sobre como se fazia o jornal. De sorte que ela, desde viúva casou-se com o conde Pereira Carneiro, também viúvo pensou na renovação do jornal, de que ele era o único dono. Morto o conde e tendo recebido por testamento o jornal, a condessa se dedicou inteiramente à sua renovação. Desde o começo, ela procurou efetivar aquilo que sempre pensara, em fazer do "Jornal do Brasil" um grande jornal da cidade. Aquele jornal que ela dizia nós nos dissemos várias vezes que fosse indispensável, sem o qual ninguém pudesse participar da vida política, da vida social, da vida esportiva, um jornal para todas as classes. Mas ela já tinha base para isso, que era a situação de prosperidade financeira e de liberdade, de independência absoluta, assegurada pelo pequeno anúncio. Havia frases que ela gostava de citar. Por exemplo: "Viva a cozinheira". Porque era a cozinheira que tornava livre o jornal.

Mas tinha havido experiências anteriores (que não se pode chamar de pioneiras. A experiência do "Diário Carioca", com Danton Jobim e Pompeu de Souza, mais o Luís Paulistano. Danton e Pompeu, que foram os homens que projetaram e Paulistano que ajudou a realização. Houve ainda as experiências da "Tribuna da Imprensa" e da "Última Hora". Sobre essas duas últimas, há uma observação a fazer: a "Última Hora" não estava inteiramente no sistema de livre concorrência, porque ela recebeu recursos, com abundância, do poder público, através do Banco do Brasil, embora sob a forma de empréstimo. Isto se refletiu no futuro, com os problemas que o jornal veio a ter. E a "Tribuna de Imprensa", que tivera a contribuição anônima de milhares de pequenos acionistas, que subscreveram ações sem nenhuma esperança de receber dividendos. Mas apenas com o desejo de ajudar o que lhes parecia ser a causa da democracia e da liberdade, um desejo de que nunca mais se restaurasse a ditadura no Brasil, porque ela trouxe uma experiência dolorosa.

Então, confluem para o "Jornal do Brasil", fornecendo gente, fornecendo "know-how" de equipes, essas experiências anteriores. Por outro lado, o "Correio da Manhã" era um concorrente sério, também com pequeno anúncio. E "O Globo" também começava a penetrar na faixa do pequeno anúncio. Tanto que até hoje ele divide com o JB este mercado. "O Globo" é dirigido por um homem de imprensa, um homem sempre atento à renovação. Estabeleceu-se então uma emulação natural e o "Jornal do Brasil" foi o coroamento desse processo. Eu acredito que, ainda que não houvesse o surto desenvolvimentista, este episódio estaria enquadrado dentro da história de uma empresa privada, que é herdada por uma mulher excepcional, envenenada desde a infância pelo vírus do jornalismo, desejosa de ter um grande jornal nas suas mãos. De maneira que eu atribuo o "Jornal do Brasil" mais à presença da condessa Pereira Carneiro, ajudada por seu genro ou com a cooperação dele, o dr. Nascimento Brito.

Agora, fazendo um corte e saltando para a imprensa do atual momento, como você a vê?

Odylo —
Olha, eu acho que nós deveríamos fazer uma revisão séria da situação da imprensa brasileira neste momento. Mais do que nunca ela necessita de renovação. Ela é extremamente progressiva, mas ela não é tão exata quanto no início.

Mas, exata aí em que sentido?

Odylo —
Ela dá frequentemente uma informação inexata. Se você fizer uma conferência hoje, ela diz amanhã que fui eu quem fiz, com a maior boa fé, mas ela dará. Se você falou às cinco horas, ela poderá informar que foi às nove da noite. Quer dizer, não há você pensa, evidentemente, que isto é uma caricatura mas não há o cuidado da exatidão. Ela é capaz de dar uma notícia inexata e, no dia seguinte, se prestar, com graça e por vezes até sem constrangimento, a dar o desmentido a si própria. Mas, não aperfeiçoa os seus processos de controle da informação. Eu acho que o primeiro dever da imprensa é ter um pensamento livre, mas dando uma notícia exata.

Além disso, a nossa imprensa, ao contrário do que se afirma a cada instante no pensamento que se autodenomina esquerdista, não está sob controle de grupos econômicos, ela pertence a pessoas, a grupos familiares que em geral confiam a defesa dos seus melhores interesses a uma determinada pessoa. De maneira que é possível você encarnar cada jornal numa pessoa.

Por outro lado, pelo processo de evolução por que passou a imprensa, a opinião está concentrada, cada vez mais, em um ou dois jornais em cada centro importante do país: no Rio, "O Globo" e o "Jornal do Brasil"; em São Paulo, "O Estado" e as "Folhas"; em Pernambuco, curiosamente, o "Diário de Pernambuco" retomou o predomínio que tinha na opinião pública sobre o "Jornal do Comércio" que, a certa altura chegou a ascender. No Ceará, "O Povo", e assim por diante.

Para falar em liberdade de imprensa, voltemos ao governo JK e à liberdade de imprensa, considerando o seguinte: o Juscelino assumiu a Presidência depois de ter sua posse quase impedida pelo movimento de 11 de novembro de 1955 (1), movimento esse que era o prolongamento da crise de agosto de 54 (2), no qual toda a grande imprensa se posicionou contra Getúlio Vargas.

Odylo —
Pois é, se posicionou contra Getúlio Vargas. Em 55 eu sou muito suspeito porque fazia parte do governo posso assegurar que a intenção do governo Café Filho (3) era entregar o governo a Juscelino Kubitschek. Até posso lembrar uma frase de um grande brasileiro, que está morto, o Raul Fernandes (4), que me dizia: O ideal é não entregar a rapadura, mas temos de entregá-la. Café Filho, andando comigo pelo jardim do Catete, me dizia: Se quiserem, me deponham, mas eu entregarei o governo a Juscelino. Ele também se considerou um pouco atingido pelo movimento que demitiu o general Lott (5), e provocou a crise de novembro. De maneira que, na realidade, os sentimentos democráticos estavam com os homens que foram depostos a 11 de novembro. Eu vou lhe dizer por quê. Porque o presidente Café Filho se recusou, inclusive, a fechar os jornais comunistas. No dia em que ele adoeceu os três ministros militares tinham pedido o fechamento da imprensa comunista e o Café se recusou. Logo depois disso, ele teve o enfarte. Não sei até que ponto isso foi uma das coordenadas mas, de qualquer maneira, não houve nenhum jornal fechado durante o curto período do governo Café Filho. Ele se recusou a fechar, inclusive, a "Última Hora". De maneira que o governo Juscelino surgiu depois de um período em que a liberdade de imprensa tinha sido assegurada. Foi assegurada ao ponto de a "Última Hora" dar uma manchete onde me chamava de rato. "O rato Odylo Costa, Filho". O que, para quem quer que me conhecesse representava, realmente, uma clamorosa injustiça. Não houve nada, não se tomou nenhuma providência elementar que talvez devesse ter sido tomada.

Houve um período de censura durante o governo Nereu Ramos (6), porque houve, inclusive, o estado de sítio.

Devo reconhecer que o presidente Juscelino Kubitschek, de quem fui adversário, logo ao assumir suspendeu o Estado de sítio e concedeu liberdade de imprensa. Agora, essa liberdade de imprensa nunca foi total. No caso da famosa fotografia que o "Jornal do Brasil" publicou, ele chegou a ameaçar de processar o responsável, que era eu, por crime de traição à Pátria. Você vê por aí que a mentalidade não era das mais favoráveis à liberdade de imprensa. Essa fotografia foi encontrada por Aluisio Alves no sertão do Rio Grande do Norte, pregada numa casa de palha. Ela teve, realmente, uma profunda repercussão. Mas não era, evidentemente, um crime de traição à Pátria.

Mas, houve malícia?

Odylio —
Não creio, eu lhe asseguro que a fotografia...

Porque o Juscelino aparece suplicante diante de Foster Dulles (7).

Odylo —
Foi publicada porque era a melhor fotografia das que nós tínhamos. Era muito engraçada. Depois se generalizou uma versão inteiramente inexata de que o título da fotografia era: "Me dá um dinheiro aí". Não era. A fotografia era uma fotografia séria.

Nelson Werneck Sodré, na "História da Imprensa no Brasil", relaciona 60 processos contra jornalistas na época do governo Juscelino Kubitscheck. Isso é indicador.

Odylo —
Eu posso assegurar que no governo Café Filho nunca houve nenhum. No governo em que eu fui o secretário de imprensa, não houve nenhum. Agora, de maneira geral, o clima era de liberdade, excetuado, naturalmente, o episódio de luta política e o acesso de Carlos Lacerda aos órgãos de comunicação, que foi extremamente dificultado, chegando a ser proibido durante um largo período. Eu não posso precisar porque já passou bastante tempo, mas eu sei que durante um longo período, o Carlos não pôde ir nem ao rádio nem à televisão. Em todo caso, a "Tribuna da Imprensa" saiu normalmente.

 
01.set.60/Folha Imagem
 
 
O marechal Henrique Teixeira Lott
A participação do hoje marechal Lott nesses processos é bem marcante, não?

Odylo —
Acredito que sim. O general Lott era um homem muito intransigente e foi muito ferido. Eu fui um dos que o feriram, porque nós tínhamos sido também muito feridos pela atitude dele. Na verdade, ele faltou à confiança do presidente, para não usar uma expressão mais grave. Você sabe que a tradição no Brasil é a de que é preciso confiar desconfiando do ministro da Guerra. O ministro da Guerra evolui numa área que não é a da estrita liberdade, da estrita lealdade ao presidente. Ele se considera chefe do Exército e não secretário do presidente da República.


Nessa fase JK envia ao Congresso um projeto de lei de imprensa. O projeto foi sepultado em vista da oposição parlamentar, mas era um projeto que ia definir direitos e deveres da imprensa.

Odylo —
Mais deveres do que direitos. O projeto tinha aparência de ser um projeto de defesa da liberdade de imprensa e na realidade era defesa da coação. O projeto era uma tentativa de conciliar a imagem liberal que JK desejava que se formasse sobre seu governo, com as necessidades que ele sentia de estabelecer um processo coercitivo em relação aos seus oposicionistas, aos seus adversários. Mas, encontrou uma oposição muito grande.

No governo JK, houve os levantes de 1957 em Jacareacanga e em 1959, em Aragarças (8). Eram levantes contra o governo, se bem que sem profundidade. Mas, a imprensa teve liberdade ampla para tratar do assunto?

Odylo —
Teve, absoluta. Isso não se pode negar. Não esqueça que, quando houve Jacareacanga e quando houve Aragarças, toda a imprensa ficou contra os episódios, porque eles eram de tal maneirar o resultado de uma radicalização, que não havia quem fosse tão radical quanto o grupo militar que estava se levantando para fazer aquele movimento. O movimento só não se alastrou por isso mesmo. E porque ele não teve reação, não havia necessidade de estabelecer coação na imprensa. No último deles, estava-se nas vésperas da eleição do Jânio e ela era não para mim, mas para a maioria dos políticos que estavam em luta contra o governo Juscelino a grande esperança. Um movimento militar, naquela hora, prejudicava a eleição de Jânio.

Há também durante o governo Juscelino o famoso quebra-quebra dos bondes no Rio de Janeiro, com a participação ativa da UNE e, surpreendentemente, com a UDN ao lado dos estudantes.

Odylo —
Pois é. No fundo, havia um processo de grande inconformismo em relação ao Juscelino. Hoje, a gente olha para trás e acha que... Houve reconciliações, houve revisões de julgamento e muitos não planejavam fazê-las. Outros, por delicadeza, agora que o Juscelino está morto, deixam essa revisão para a história. Deixam para a história rever ou confirmar o julgamento que fizeram. Mas, não nos esqueçamos de que, realmente, na eleição de Juscelino, votaram contra ele milhões de eleitores. As correntes de opinião contrárias ao Juscelino muito numerosas no meio do povo, no meio dos brasileiros.

Por outro lado, havia também do lado do Juscelino quem não tivesse a bonomia dele. Eu admito que, pessoalmente, ele era um homem cordial, mas havia do seu lado o senhor ministro da Justiça, que é o atual ministro da Justiça (9), que nunca foi um homem de temperamento cordial, ele é um homem de temperamento duro, forte. De maneira que foi ele quem venceu. Ele e o seu chefe de Polícia, que não me lembro mais nem quem era.

Qual era o tratamento que a imprensa dava a esses fatos, porque foi uma sucessão de quebras...

Odylo —
A imprensa sempre foi muito apaixonada. A conquista da objetividade foi sempre extremamente difícil.

A imprensa apoiava a atitude dos estudantes?

Odylo —
A imprensa da época dividiu-se. Ele apoiava muito os estudantes, mas não esqueça que a imprensa da época era o "Correio da Manhã", não havia ainda o "Jornal do Brasil".

Não havia o "Jornal do Brasil" influindo, não?

Odylo —
É isso. O "Jornal do Brasil" não influía. Quem fluía era o "Correio da Manhã". O "Diário Carioca" estava com Juscelino.

E a "Notícia"?

Odylo —
O "Diário de Notícias" contra o Juscelino, muito contra. "O Globo" também contra, mas contra e a favor, um pouco dentro do tratamento de "O Globo". Isso é uma pesquisa a fazer, mas eu tenho a impressão de que quem comandou muito os acontecimentos foram o "Diário de Notícias" e o "Correio da Manhã".

O Juscelino foi acusado, quando de sua cassação, de ter sido eleito com o apoio dos comunistas. Como é que ele se relacionava com os comunistas? Você acabou de revelar que a imprensa do Partido Comunista, quem a garantiu foi o Café Filho, na verdade.

Odylo —
Foi. O Café Filho garantiu a imprensa do Partido Comunista. No tempo do Juscelino você sabe que esses entendimentos com o Partido Comunista sempre existiram. Hoje, não sei. Mas existiram sempre, através de elementos que, quando o Partido Comunista está na ilegalidade, circulam através de outros partidos. Eu não estava vinculado ao Juscelino para lhe assegurar como é que se deram esses entendimentos. Mas, eu nunca achei isso um pecado grave. Eu acho que pode haver entendimento com os comunistas. Eu sou pela legalidade do Partido Comunista, de maneira que sou um pouco suspeito para dar apreciações sobre esse fenômeno que, para mim, nunca foi um fenômeno fundamental.

Agora, como pergunta final, aquela CPI de 1957, que a Câmara dos Deputados fez para examinar o problema da desnacionalização da imprensa, das empresas jornalísticas.

Odylo —
Não me lembro, não tenho nenhuma idéia disso.

Eu vi essa menção no livro do Nelson Werneck Sodré. Era sobre uma ingerência da Esso...

Odylo —
Eu tenho sobre a Esso um depoimento a dar. Nunca ninguém da Esso me pediu nada, mas estritamente nada, que se relacionasse com os interesses da empresa, que se relacionasse com qualquer matéria jornalística. E eu fui diretor da redação de vários jornais, diretor da revista "Senhor". Evidentemente, pediam-me noticiário sobre o Prêmio Esso, pediam-me que fizesse parte de comissões de julgamento, mas eram coisas normais. Nunca houve a menor interferência. Aliás, eu devo dizer mais, isto é uma coisa que fala bem, a meu ver, do brasileiro, porque, em geral, eu não vi essa influência até das empresas de publicidade.


© Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.