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São Paulo, domingo, 7 de janeiro de 1979
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Jornalistas
contam a História - 3
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AS ILUSÕES DA CONSTITUINTE DE 46
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Depoimento
de PAULO MOTA LIMA
ao repórter
Gilberto Negreiros
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1955/Acervo
UH/Folha Imagem
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O
escritor Carlos Drummond de Andrade
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No dia
22 de maio de 1945, estampado na primeira página
uma fotografia de Luís Carlos Prestes e a convocação
para um comício que se realizaria no dia seguinte,
aparecia no Rio de Janeiro a "Tribuna Popular",
órgão mais importante de uma cadeia de jornais
publicados nas grandes cidades do país e através
dos quais o Partido Comunista Brasileiro, de volta à
legalidade, buscava ampliar sua ação política.
Na sua "direção coletiva" estavam
os nomes de Pedro Mota Lima, Álvaro Moreira, Aydano
do Couto Ferraz, Dalcídio Jurandir e Carlos Drummond
de Andrade.
O surgimento da "Tribuna Popular" e seus congêneres
foi consequência imediata da anistia decretada por
Getúlio Vargas, seis meses antes de ser deposto pelo
Exército. O desenrolar do governo do marechal Eurico
Gaspar Dutra, eleito em dezembro do mesmo ano, seria suficiente,
no entanto, para demonstrar o quanto a chamada redemocratização
era relativa.
Em dezembro de 1947, o PCB estava posto novamente na ilegalidade
e, posteriormente, a "Tribuna Popular" deixava
de circular, para reaparecer em 1953 com o nome de "Imprensa
Popular".
Uma das testemunhas dos acontecimentos dessa época
é Paulo Mota Lima que, até seu fechamento
foi o repórter destacado para a cobertura da Câmara
dos Deputados.
Paulo Mota Lima lembra que a "Tribuna" foi "um
jornal como outro qualquer", onde não havia
distinção entre comunistas e não-comunistas,
e que sobreviveu mudando de nome, "sem nunca deixar
de ser o que era".
O período durante o qual o jornal esteve em circulação
foi, contudo, marcado por um rápido processo de mutação
que estabeleceu um corte entre a euforia que se seguiu ao
término da 2ª Guerra Mundial e à queda
do Estado Novo e o envolvimento do Brasil na "guerra
fria".
Em seu livro, "História Militar do Brasil",
o general e historiador Nelson Werneck Sodré revela
que, enquanto a Assembléia Constituinte preparava
a Carta de 1946, as estações de rádio
permaneciam sob censura, a comemoração do
1º de maio era proibida pelo governo e o médico
Aluísio Neiva Filho era demitido do Instituto Osvaldo
Cruz, por ter atendido aos feridos do comício do
Largo da carioca, no Rio, dissolvido a bala pela polícia.
Foi nesse período tumultuado que a "Tribuna
Popular" surgiu e fez sua história."
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A criação
da "Tribuna Popular" ocorreu dentro de um clima
de euforia que fatos posteriores iriam desmentir, em síntese,
houve erro de avaliação no panorama?
PAULO MOTA LIMA A "Tribuna Popular"
foi efetivamente criada num clima de euforia. Agora, talvez
não se possa dizer que tenha havido um erro de avaliação,
em política, essas avaliações são
muito difíceis. Pode-se calcular o desdobramento
de uma situação política, mas nunca
se pode fazer profecia. Então, no Brasil, o que ocorreu
foi, no primeiro momento, uma euforia que não representava
sentimento apenas das pessoas empenhadas no lançamento
da imprensa popular.
Fatos posteriores levaram a modificação no
cenário político nacional e a recuos que estão
no conhecimento de todo o mundo. Talvez seja injusto falar
em erro de apreciação. O que houve foi uma
imprevisão compreensível.
A concessão da anistia, ainda que dentro do regime
do Estado Novo, contribuiu para esse erro de avaliação?
Ela trouxe ilusões?
MOTA LIMA A concessão da anistia foi um
acontecimento que não poderia deixar de ser recebido
num ambiente, vamos dizer, de euforia. Mas, depois da derrota
do nazismo seguiram-se acontecimentos que acabaram desembocando
na guerra fria. Então, o que para muitos poderia
parecer um avanço mais ou menos tranquilo, não
ocorreu. Depois vieram a se travar choques entre aquelas
mesmas forças que, durante a guerra contra o nazismo
lutaram juntas.
Como a "Tribuna Popular" se orientava editorialmente.
A ênfase era para a opinião ou para a cobertura
factual?
MOTA LIMA O jornal baseava-se principalmente
na cobertura de fatos. Agora, tinha, segundo um esquema
que não se diferenciava do esquema geral dos outros
jornais, a sua parte opinativa.
E de que maneira a redação se relacionada
com o Partido Comunista na redação?
MOTA LIMA Não, não havia representante
do partido na redação. O jornal tinha uma
direção coletiva e essa direção
coletiva era responsável pela linha política
do jornal, não só perante os leitores, como
perante a corrente que representava.
O pessoal da redação e oficina era recrutado
dos quadros do próprio partido?
MOTA LIMA Não, não nem todos os
redatores eram comunistas. Até mesmo entre os diretores
havia figuras que não pertenciam ao Partido Comunista.
O jornal, me parece, não conseguiu ter uma periodicidade
diária.
MOTA LIMA Não. Nos primeiros meses de
existência, saiu rigorosamente, nunca deixou de circular.
Agora, posteriormente esse jornal sofreu perseguições
políticas, até assaltos, como esta mesma redação
chegou a ser assaltada e depredada.
Isso em que época?
MOTA LIMA Foi nos primeiros meses de funcionamento
do jornal. A redação foi invadida, quando
houve um famoso quebra-quebra.
E como a "Tribuna Popular" era vista pela grande
imprensa?
MOTA LIMA A "Tribuna Popular" polemizava
com os jornais da grande imprensa. Havia divergências
de opiniões, havia debate.
Mas, essa polêmica se fazia através de editoriais
e artigos, ou havia uma seção específica
de crítica à grande imprensa?
MOTA LIMA Não havia seção
específica. Mas, evidentemente, até mesmo
na maneira de apresentação dos fatos no noticiário,
havia diferenciação. Muitas vezes isso suscitava
comentários da parte da imprensa popular criticando
este ou aquele jornal e, naturalmente, esses jornais também
replicavam. Havia divergência marcante de opinião
a respeito de certos problemas.
O assalto à redação o quebra-quebra,
demonstrava a precariedade da existência da "Tribuna"?
MOTA LIMA Sem dúvida, a liberdade de imprensa
ainda era uma coisa precária nessa época.
Tanto que se tornava possível a invasão, depredação
de jornais.
Na fase da Assembléia Constituinte, houve depoimentos,
relatando as torturas ocorridas durante o Estado Novo. Carlos
Marighella, que era então deputado do Partido Comunista,
fez. Contou o que sofreu na Polícia do Filinto Muller.
A "Tribuna Popular" divulgou, deu ampla divulgação
a esse depoimento?
MOTA LIMA Sem dúvida nenhuma, deu. Não
só deu divulgação em forma de reportagem
parlamentar, como também comentava.
E a grande imprensa acompanhava também? Tem lembrança,
assim de algum outro jornal que...
MOTA LIMA De um modo geral, a grande imprensa
nunca deixou de se referir de maneira enérgica às
torturas policiais ocorridas durante essa época.
Mesmo porque essas torturas, esses maus tratos não
atingiram apenas os comunistas durante o Estado Novo.
Segundo os registros da história da época,
durante todo o período de funcionamento de Assembléia
Constituinte, o rádio permaneceu debaixo de censura.
Isso é fato mesmo?
MOTA LIMA Havia censura ao rádio. Não
havia censura aos jornais, mas havia censura ao rádio.
Como a "Tribuna Popular" reagiu ao rompimento
de relações diplomáticas entre o Brasil
e a União soviética?
MOTA LIMA Condenando um ato que se apresentava
como um retrocesso na evolução política
processada no País, depois do Estado Novo. Esse rompimento
representou segundo opinião da imprensa
comunista daquela época um retrocesso
político. E nesse sentido foi combatida.
E a consequência imediata veio com a cassação
do registro do Partido Comunista e, logo depois, a cassação
dos mandatos dos parlamentares.
MOTA LIMA Sim. Foram fatos que tiveram um encadeamento
bem compreensível, tratando-se de uma situação
de retrocesso político.
Mas, ai então, o jornal já refletia essa
situação de endurecimento?
MOTA LIMA Refletia, o jornal...
E lutava contra ele?
MOTA LIMA O jornal registrava e combatia esse
processo de endurecimento, que não ocorreu apenas
no Brasil, foi um fenômeno internacional, relacionado
com o macartismo.
Foi nessa época, também, que as posições
emanadas do Exército vinham a público, elas
se caracterizavam, basicamente, por um nacionalismo econômico
muito forte e que depois disso viria até ser um dos
sustentáculos da campanha do petróleo, a campanha
pela criação da Petrobrás. De que maneira
a "Tribuna Popular" via esses fatos?
MOTA LIMA A "Tribuna Popular" apreciava
as manifestações surgidas nas Forças
Armadas, principalmente através do Clube Militar,
como uma contribuição muito valiosa à
campanha de nacionalização do petróleo,
elaboração do Estatuto da Petrobrás
e toda legislação que, afinal de contas foi
aprovada na Câmara, depois de um debate prolongado,
de uma votação memorável, em que muitas
pessoas do PSD e de outros partidos, tocadas pela influência
do debate, mudaram de posição e tomaram uma
atitude nacionalista, na própria hora da votação.
Mas, em que setor do Congresso se concentrava a resistência
ao monopólio estatal do petróleo? O debate
era, ou o monopólio estatal ou abertura ao capital
estrangeiro, não?
MOTA LIMA Sim. Aí havia opiniões
de personalidades destacadas, que muitas vezes, entravam
em conflito com o que hoje se poderia chamar, como está
na moda, fidelidade partidária, tanto que nós
vemos homens como Gabriel Passos, da UDN, que foram elementos
de maior influência na votação da lei
da Petrobrás. Conflitavam às vezes, entre
si, elementos, vamos dizer do PSD, e...
Mas, a resistência, a reação ao monopólio
estatal se concentrava no PSD? E a UDN se dividia?
MOTA LIMA Havia manifestações,
conforme eu disse, divergentes, em ambos esses partidos.
O PTB tinha maior número de deputados favoráveis
ao monopólio estatal do petróleo, mas dentro
do PSD e da UDN havia correntes nacionalistas, também.
A base principal, no entanto, eram os partidos chamados
naquela época de populistas.
Dava para sentir pressão desse setor nacionalista
do Exército sobre o Congresso?
MOTA LIMA Pressão, não digo, mas
havia influência representada pela opinião
de homens que, pela sua formação profissional,
tinham bastante conhecimento do que significava para a soberania
estatal o monopólio estatal do petróleo. Não
era pressão, era influência.
No âmbito do Congresso, como era a relação
entre o Partido Comunista e o Partido Socialista Brasileiro?
MOTA LIMA Em muitos casos, deputados comunistas
e socialistas defenderam as mesmas posições
tanto em relação a assuntos econômicos
quanto políticos.
Como é que se explica o fato de o Partido Comunista
ter sido cassado, o mandato de seus representantes também,
e a "Tribuna Popular" continuar, o governo permitindo
que ela continuasse a circular?
MOTA LIMA Era, justamente, porque a "Tribuna
Popular" não era órgão oficial
do Partido Comunista. Entretanto, depois de fechado o Partido
Comunista, a "Voz Operária", que era órgão
oficial do Partido Comunista foi proibida de circular, mas
a imprensa popular não, porque não era órgão
oficial do Partido Comunista.
Qual foi a tiragem máxima que a "Tribuna
Popular" alcançou?
MOTA LIMA Concretamente, em base de números,
não sei, não me lembro, mas sei que houve
fase em que tinha uma circulação bem apreciável.
Eu não me lembro em números.
O aspecto gráfico do jornal, como era? Era mais
para chamar atenção?
MOTA LIMA Não, não tinha um aspecto
gráfico espalhafatoso. Era feito, a princípio,
na oficina da "Folha Carioca". Os gráficos
eram dessa oficina, e a feição gráfica
não se diferenciava muito da feição
gráfica geral dos outros jornais.
Como a "Tribuna Popular" cobriu a campanha
do candidato indicado pelo Partido Comunista, engenheiro
Iedo Fiúza, à Presidência da República?
MOTA LIMA Evidentemente o jornal deu todo apoio
à essa campanha, ao lançamento dessa candidatura.
Todo apoio.
Mas esse apoio era especial? Havia recomendação
especial para um tratamento diferente em relação
aos demais candidatos?
MOTA LIMA Essa candidatura era a candidatura
da preferência do jornal e, portanto, o jornal defendi-a
e combatia as outras, como em toda campanha eleitoral.
Nessa época quem se notabilizava pelos ataques
ao Iedo Fiúza era o Carlos Lacerda, se eu não
me engano através do "Correio das Manhã",
não?
MOTA LIMA Sim. Realmente, no combate à
campanha da candidatura Fiúza. O Lacerda teve uma
posição destacada. Ele se colocava em defesa
da candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes. Agora, o que
se deve levar em consideração é que
no Rio de Janeiro e noutros centros eleitorais importantes,
a votação do nome Iedo Fiúza foi bem
significativa. Hoje, pode-se dizer que essa reação
era mais uma reação em favor dos elementos
que apresentavam aquela candidatura. Mesmo com toda campanha
de Lacerda e outras que foram feitas contra o candidato,
que foi atacado por várias formas, mesmo assim ele
conseguiu uma votação bem significativa no
Rio de Janeiro e em outros pontos.
Como é que a "Tribuna Popular" era abastecida
do noticiário internacional?
MOTA LIMA Tinha as agências telegráficas
normais.
Ela recorria a UPI?
MOTA LIMA Recorria. Era assinante dessas agências.
E nunca houve nenhum problema?
MOTA LIMA Não. Eram relações
normais. O jornal recebia o noticiário e aproveitava
o que era possível. No nosso caso muita coisa era
desprezada, pouca coisa era aproveitada.
Qual foi a razão da mudança de nome?
MOTA LIMA Foi em razão de o jornal ter
sido fechado. O jornal, então, saiu outro com nome
diferente, "Imprensa Popular", e a mesma orientação.
A mesma redação, o mesmo corpo de redação?
MOTA LIMA A mesma redação, o mesmo
corpo de redação. Às vezes, eventualmente,
havia umas mudanças de cargo, mas coisa sem importância.
Na bancada do Partido
Comunista na Assembléia, quais eram os deputados
que mais se destacavam?
dez.72/Folha
Imagem
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O
escritor Jorge Amado
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MOTA LIMA Na
Assembléia Constituinte e, posteriormente, no funcionamento
da Câmara e do Senado, o Prestes se revelou um bom
orador parlamentar. Além do Prestes, figuras que,
realmente, tiveram posição de destaque, eu
me recordo de Marighella, Jorge Amado, e pela espontaneidade,
pela sinceridade que transbordava de suas manifestações,
pela simplicidade que se tornava também muito atraente,
Gregório Bezerra, como ex-sargento do Exército,
e um outro militar que foi Trifino Correia, que foi um dos
combatentes mais destacados da Coluna Prestes. Não
eram oradores no sentido, vamos dizer assim, literário
da palavra, mas, eram homens que, pela sua franqueza, pela
espontaneidade brigavam como oradores parlamentares, isso
na constituinte. Posteriormente, em outras épocas,
entre as outras apresentações, já aí
num funcionamento da Câmara e do Senado, o Roberto
Morena foi um dos que mais se destacaram. Além de
se destacar como orador, ele era um homem que tinha uma
capacidade imensa de comunicação.
Um ponto muito importante para ser abordado é
o de como na cobertura sindical a "Tribuna Popular"
tratava a questão do trabalhador?
MOTA LIMA Naturalmente, essa questão era
tratada de acordo com a orientação do jornal
e, portanto, com muito interesse. Agora, do ponto-de-vista
técnico, não havia nenhuma diferença
essencial na maneira de fazer a cobertura.
Mas, de que forma era tratado esse noticiário?
Era sempre tomado a de defesa dos assalariados, dos empregados,
em sua luta contra os empregadores. Tinha posição
de classe, favorável aos empregados.
A cobertura de Polícia, como era feita?
MOTA LIMA O jornal não dava uma importância
muito grande ao noticiário policial e procurava,
também, não desprezá-lo porque seria
um erro técnico. Mas, tínhamos o mesmo sistema
de cobertura, tínhamos um homem no Pronto Socorro,
outro na Polícia, etc, e às vezes recebíamos
serviço de outros - parece que ainda hoje é
assim - o mesmo homem faz cobertura para diversos jornais.
Mas a questão do envolvimento social do crime,
por exemplo?
MOTA LIMA Aí nos tomávamos posição
de acordo com a nossa orientação. Quando havia
uma qualquer coisa que tivesse um fundo social, nós
tomávamos a nossa posição, evidentemente.
Qual era o nível de qualificação
do pessoal de redação, e de que maneira se
comparava ao corpo de redações dos demais
jornais?
MOTA LIMA Era exatamente o mesmo, não
havia diferença nenhuma. Na nossa redação
havia numerosos profissionais que não trabalhavam
só no nosso jornal, trabalhavam nos outros, também.
Houve também muitos profissionais que se iniciaram
na nossa redação e que depois, com o desaparecimento
do nosso jornal passaram a trabalhar noutros, onde alcançaram
posição de destaque como profissionais.
Houve algum momento em que a orientação
do jornal entrasse em conflito com diretrizes do Partido?
MOTA LIMA Não. Que eu me lembre, não.
E como era a "Tribuna Popular" como empresa?
MOTA LIMA A minha resposta vai ser a de um elemento
de redação. Como você sabe, a pessoa
de redação, geralmente, não é
enfronhada sobre a situação da empresa. Mas,
pelas aparências, pelo que aparentava era um funcionamento
semelhante ao das outras empresas, com a diferença
que, no nosso caso, o problema da publicidade era bem diferente,
nós nunca tivemos grande publicidade, nós
sempre nos mantivemos com uma pequena publicidade. E, como
todo mundo sabe, a publicidade é que sustenta economicamente
o jornal. Essa deficiência se fazia sentir no jornal.
E essas aperturas se agravavam à medida em que também
piorava a situação política, porque
muitos anunciantes nossos sofriam pressão e retiravam
os anúncios. Muitos anunciantes nossos eram chamados
à Polícia e "aconselhados" a deixar
de anunciar.
A "Tribuna Popular" chegou a ter oficina própria?
MOTA LIMA A "Tribuna Popular" rodava
noutras oficinas, mas depois passou a ter uma oficina precária,
que funcionava na rua dos Inválidos. Essa era própria;
uma oficina de material antigo, máquinas velhas,
rotativa velha, parte de linotipos, também precários.
Evidentemente, visitada muitas vezes pelas polícia,
não?
MOTA LIMA Não só visitada, como
mais de uma vez depredada.
O nível salarial, como ele era em relação
aos outros jornais?
MOTA LIMA No começo, era o mesmo nível
de salário. Mas, depois, a situação
econômica foi se apertando e, então, evidentemente,
não podia ser mantido o mesmo nível. Havia
dificuldade econômicas, que eram sentidas pelos redatores.
E isso é um fato que tem ocorrido em várias
épocas da vida da imprensa brasileira, em diversos
jornais de outras orientações.
A partir da guerra fria, dos reflexos no plano interno
do Brasil, deu para sentir uma mudança no comportamento
do governo em relação à "Tribuna
Popular"?
MOTA LIMA Deu para sentir e muito. Evoluiu a
tal ponto que, a certa altura, chegou a ser impossível
a sobrevivência desses jornais.
Na questão do esporte, a cobertura do esporte
na "Tribuna Popular" e especificamente o futebol,
dando o reflexo de massa que ele...
MOTA LIMA Essa cobertura era feita jornalisticamente;
assemelhava-se muito à dos outros jornais e nunca
através dele se pretendeu ou influir, ou fazer um
estudo a respeito de certos reflexos do futebol na conduta
geral das pessoas que apreciam o futebol como derivativo,
nada disso, nunca houve essa preocupação.
Nunca houve esse tratamento dado pelo jornal ao assunto
futebol.
Com relação a datas marcantes no Partido
Comunista no Brasil, o aniversário e o 27 de novembro,
o aniversário do movimento de 27 de novembro de 1935,
de que maneira a "Tribuna Popular" tratava esses
assuntos?
MOTA LIMA O movimento de 1935 nós não
tratávamos como um fato estritamente ligado à
atividade dos comunistas, porque, na realidade, o movimento
foi promovido pela Aliança Nacional Libertadora,
que tinha, sem dúvida nenhuma, influência dos
comunistas, mas que, em seu período de existência
legal, quando a Aliança Nacional Libertadora teve
sede aqui no Rio de Janeiro, era dirigida por figuras de
grande projeção e que, no entanto, não
pertenciam ao Partido Comunista. Como o movimento de 35
foi um movimento da Aliança Nacional Libertadora,
por isso mesmo, entre as pessoas que depois foram presas
em consequência da sua derrota, havia comunistas e
não comunistas, figuras destacadas, do movimento
antiimperialista, do movimento nacionalista brasileiro,
não filiadas ao Partido Comunista.
Nunca se procurou criticar e opinar sobre se teria sido
justo, oportuno ou não a deflagração
daquele movimento. É um assunto, hoje, que alguns
historiadores têm abordado, e muitos leitores de literatura
política comtemporânea, são informados
a esse respeito.
O jornal abordava, o acontecimento como fato, de um ponto-de-vista
jornalístico, mas com a orientação
do jornal. De um modo geral, esse levante era duramente
combatido pelos outros jornais. A "Tribuna Popular"
tomava a defesa do movimento.
Como era a relação entre comunistas e não
comunistas na redação da "Tribuna Popular"?
MOTA LIMA Na redação da "Tribuna
Popular" não poderia haver, o que se pudesse
chamar de relação entre comunistas e não
comunistas, porque, na realidade, os que estavam ali eram
redatores, membros da redação, embora uns
fossem membros do partido e outros não. Até
mesmo em posição de relevo, até mesmo
figurando com o nome no cabeçalho do jornal, houve
a inclusão de nomes de pessoas de grande projeção,
democratas de grande projeção, homens que
tomaram posição ativa em épocas anteriores
muitos difíceis, na luta contra o Estado Novo, na
luta contra o Nazismo, que não eram comunistas e
que no entanto, tiveram seus nomes no cabeçalho do
jornal, ou então assinando colunas, fazendo artigos
assinados.
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