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São
Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1978
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O BRASIL, OS ÍNDIOS E FINALMENTE A USP
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Por
J. B. Natali
de Paris
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O
início da USP, segundo um de seus fundadores |
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Paul
Arbousse Bastide é um sociólogo veterano que os primeiros
alunos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras apelidaram
de "Bastidão". Não tanto por sua corpulência
até hoje impecável, apesar de seus 78 anos. É
que, na época, também integrava o contingente de "professores
importados" um outro francês com o mesmo sobrenome -
Roger Bastide, o "Bastidinho", que ao falecer recentemente
deixou uma enorme bibliografia sobre as religiões afro-americanas.
Pois bem, "Bastidão" é um poço de
recordações preciosas. Aposentado, mora sozinho e
rodeado de livros num apartamento do subúrbio parisiense
de Neuilly-sur-Seine. Não é apenas o analista de lucidez
demonstrada em suas pesquisas em Sociologia da Educação.
Permanece igualmente lúcido ao abordar seu passado paulista.
Reviveu, neste depoimento à Folha, um período em que
o francês era a língua oficial da USP na área
de ciências humanas, em que a consciência política
dos estudantes se definia em relação à Revolução
Constitucionalista de 1932 e em que os índios aculturados
de Itanhaém recusavam dos etnógrafos a oferta de cerveja
porque as garrafas não estavam suficientemente geladas.
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Folha - Em que circunstâncias o senhor foi parar em São
Paulo?
Prof. Bastide - Em 1934, eu lecionava Filosofia num liceu e
na Faculdade de Letras de Bensançon. Desejava abandonar a
França porque atravessávamos violências e incertezas:
a ascensão do fascismo, mortes em passeatas e uma atmosfera
política carregada. Queria prosseguir minha carreira, iniciada
em 1928, num país que estivesse vivendo um processo mais
dinâmico em sua maior virgindade histórica. Conhecia
o professor Georges Dumas, encarregado de contratar professores
para São Paulo. Como catedrático de Psicologia na
Sorbonne, ele havia viajado com frequência ao Brasil desde
1908. Em maio de 1934, ele telegrafou-me propondo meu embarque imediato.
Aceitei. O Brasil era para mim, então, a terra dos "possíveis"
em relação ao mundo fechado que a França representava.
Folha - Seus colegas de magistério chegaram a entender
seu embarque precipitado?
Prof. Bastide - Meus amigos realmente não entenderam
o porquê de minha partida para tão longe. Diziam: "não
conhecemos nenhum escândalo na vida dele". E empregavam
em relação a mim uma expressão comum na época:
"ele parte para as colônias". Até o fim,
suspeitavam que eu estivesse fugindo depois de ter aprontado algo
de condenável.
Folha - Ao chegar a São Paulo, o que era a Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras da USP?
Prof. Bastide - Simplesmente não era. Nada funcionava
porque nada existia ainda. Havia apenas o decreto do Diário
Oficial estipulando sua criação. Nada de prédio,
nada de estudantes. Entre os oito professores franceses que embarcaram
comigo, alguns entraram em pânico. Sentiam-se meio inseguros.
Mas uma outra ala, mais adepta das emoções de um início,
achava que tudo isso era formidável porque permitiria que
fizéssemos algo de novo, de mangas arregaçadas. Os
professores italianos e alemães que chegaram na mesma época
também se preparavam para a mesma aventura.
Folha - E o que vocês, docentes, fizeram antes que os cursos
fossem criados?
Prof. Bastide - Permanecemos em contacto permanente com o reitor,
prof. Porchat, e com o diretor da faculdade, prof. Almeida Prado.
Estávamos impacientes para começar a dar aulas, a
partir de programas já preparados. Tínhamos um pouco
de consciência pesada por não estarmos trabalhando
para retribuir a hospitalidade. Enquanto não ficava pronto
o anfiteatro que nos reservaram, no andar térreo da Faculdade
de Medicina, foi decidido que faríamos um ciclo de conferências
no Instituto de Geografia, que ficava, então, na rua Benjamin
Constant, não muito longe do Largo de São Francisco.
Folha - Diga, brevemente, quem integrava o grupo francês.
Prof. Bastide - Éramos, de certa maneira, ciceroneados
por Robert Garric, que já tinha visitado antes o Brasil e
era muito amigo de Tristão de Athayde. Havia dois historiadores,
Emile Gornat e Jean Gagé, um outro professor de filosofia,
Jean Mugue, o geógrafo Pierre Desfontaines - com quem, aliás,
ocorreu anos depois algo de curioso. Ele foi o primeiro a levar
seus alunos numa excursão ao Pico do Jaraguá. E, entre
eles, havia na época a chamada veia poética. Pois
surgiu um poema sobre o passeio chamando o Jaraguá de "Himalaia
Paulista".
Folha - Quanto às conferências preliminares, elas
eram concorridas?
Prof. Bastide - Tinha gente de não caber mais.
Folha - E qual era o público? Eram damas da alta sociedade
ou jovens da classe média?
Prof. Bastide - Claro que a dimensão mundana de nossa
presença atraia algumas senhoras da alta sociedade. Mas elas
eram excepcionais. O público era integrado de jovens intelectuais
que tinham, como nós na época, em torno de 30 anos,
estudantes da Faculdade de Direito e assim por diante. Tratava-se
de uma amostragem do que São Paulo tinha de classe média,
embora para a época essa designação não
tivesse o mesmo alcance de hoje.
Folha - E foi essa mesma gente que prestou o primeiro vestibular?
Prof. Bastide - O vestibular surgiu muito, mas muito depois,
na medida em que, ao dispormos de locais permanentes na avenida
Doutor Arnaldo, nossas aulas não eram frequentadas pelo que
se possa chamar de um público universitário. O "estilo
estudantil" foi por nós conhecido só em 1936.
Folha - Ou seja, inexistindo exames e diplomas, os primeiros
alunos da Faculdade de Filosofia eram apenas ouvintes?
Prof. Bastide - Exatamente. Eles se inscreviam e com eles estabelecíamos
imediatamente uma grande amizade. Não havia adolescentes.
Eram todos homens já entrando na maturidade. Havia advogados
e engenheiros formados e pouquíssimos professores secundários.
Folha - O senhor poderia descrever, em rápidas pinceladas,
as curiosidades dessa primeira geração e o ambiente
em que ela circulava?
Prof. Bastide - Os professores tiveram a impressão de
que algo de novo ocorria em São Paulo. Foi só aos
poucos que conseguimos interpretar o fenômeno fora de seu
parâmetro curricular. A fundação da Faculdade
de Filosofia, pouco depois da Revolução de 1932, possuía
o valor simbólico da afirmação cultural do
"patriotismo paulista". Algo de bem mais complexo que
o puro "bairrismo" (o prof. Bastide empregou esta palavra
em português). É como se a USP integrasse uma estratégia
ideológica pela qual se procurava demonstrar aos outros Estados
da Federação que São Paulo não era apenas
a locomotiva econômica de um trem pouco produtivo. Era preciso
forjar uma vanguarda para a cultura paulista. Era essa, pelo menos,
a consciência predominante entre os primeiros estudantes.
Os professores estrangeiros entraram sem querer nesse processo de
bandeirantismo.
Folha - Como o senhor situaria, numa escala esquerda/centro/direita,
o sentimento paulista daquele período?
Prof. Bastide - Não dá para aplicar essa escala
a um nacionalismo local. É claro que predominava um sentimento
que se dizia liberal, aberto, parlamentar e democrático.
Digamos que era um nacionalismo democrático-constitucionalista.
Empregando uma metáfora futebolística, nosso público
era a "torcida" do Estado de São Paulo.
Folha - Mas pelo fato de as conferências serem dadas em
francês, já havia uma limitação de camadas
sócio-econômicas que potencialmente poderiam encarnar
esse "paulistismo".
Prof. Bastide - Na época, vigorava ainda uma "universalidade"
da língua francesa que chegou a nos surpreender.
Folha - Universalidade relativa, porque é difícil
conceber que na Casa Verde ou no Brás os habitantes falassem
francês.
Prof. Bastide - É lógico que não. Não
vimos um só estudante de camadas populares. Mas ao mesmo
tempo, sem ser grã-finos, nossos alunos tinham um conhecimento
suficiente do francês. O mesmo não ocorria com os professores
italianos ou alemães que chegaram conosco. Os italianos,
por exemplo, acreditavam que a forte imigração favorecia
uma maior afluência em cursos naquele idioma. Não foi
o que ocorreu. Os imigrantes não sabiam sequer que havia
uma Faculdade de Filosofia. Nada de depreciativo nessa observação
minha. Quanto aos alemães, apesar da imigração,
a comunidade linguística também não chegou
a se formar. Lembro-me que, logo depois de minha chegada, conheci
Mario de Andrade e ele me disse que a hegemonia do francês
estava chegando ao fim. Não levei esse prognóstico
a sério. Ele acabou, porém, se confirmando. Quando
voltei ao Brasil em 1954, já era inconcebível dar
uma aula que não fosse em português. O que, aliás,
é natural.
Folha - De que maneira transcorreu a transição
em termos da língua em que se efetuava o ensino e em termos
da mudança da Avenida Doutor Arnaldo para locais definitivos?
Prof. Bastide - Há muitos anos entre esses marcos, da
mesma maneira com que esperamos um pouco até a estruturação
curricular das carreiras que a Faculdade formava. Em primeiro lugar,
passou a vigorar em 1936 um decreto obrigando que os estudantes
do Instituto de Educação Caetano de Campos, dirigido
na época pelo professor Fernando de Azevedo, frequentassem
cadeiras na Faculdade. Foi assim que tivemos nossos verdadeiros
estudantes. Eram normalistas representando nossa verdadeira clientela.
Depois, os estudantes de Medicina gentilmente nos expulsaram do
Sumaré e fomos parar num andar do Instituto, na Praça
da República, especialmente construído para nós.
Antes da Rua Maria Antonia, onde a Faculdade se encontrava até
1968, passamos ainda por um palacete no bairro dos Campos Elíseos.
Folha - Com o enquadramento da FFCL às normas que, apesar
das modificações, ainda vigoram atualmente, a nova
clientela estudantil apresentava um índice de politização
digno desse nome?
Prof. Bastide - Absolutamente. Ninguém era politizado.
A consciência dos problemas políticos chegou lentamente.
Por exemplo, quando a Prefeitura de São Paulo criou parques
infantis na periferia, nossos alunos deixaram de lado o "orgulho
paulista" para se interessarem, como estagiários e monitores,
por uma realidade social a que eram impermeáveis.
Folha - E, com a chegada do "Estado Novo", não
houve nenhuma grande manifestação estudantil?
Prof. Bastide - Nenhuma. E, aliás, a época também
não era para comícios do grêmio. Como estávamos
geograficamente compartimentados, não sei o que ocorreu na
Faculdade de Direito, onde o mito da politização maior
imperava.
Folha - Que imagem se tinha, na FFCL, da escola do Largo de
São Francisco?
Prof. Bastide - Ela nos era sempre apresentada como extremamente
tradicionalista. Um mundinho dos "bacharéis", que
chegava até nós como uma espécie de feudo de
um meio conservador. Essa era a imagem que tínhamos da Faculdade
de Direito.
Folha - Voltemos à Faculdade de Filosofia. Qual era a
consciência de seus primeiros estudantes sobre os fenômenos
artísticos da época?
Prof. Bastide - Era enorme. Entre os primeiros ouvintes, tivemos
pessoas do gabarito de um Sergio Milliet, que estabeleceu um contato
entre nós, os docentes, e todo um meio literário e
cultural. Cite-se também Rubens Borba de Moraes, Cruz Costa,
Caio Prado, Rui Coelho, Eurípedes Simões de Paula,
Lourival Gomes Machado, Antonio Cândido e outros que eram
grandes amigos.
Folha - De que forma o senhor via, 12 anos depois da Semana
de Arte Moderna, a influência dos que dela participaram?
Prof. Bastide - Duas respostas possíveis a esta pergunta.
De um lado, o grupo que primeiro nos frequentou sentia-se abertamente
tributário da Semana. Mas com a chegada dos universitários
de verdade, inexistia qualquer apego à explosão de
1922. Como havia passado muito tempo, tinha gente que até
a ignorava.
Folha - E quanto à estética forjada pela "ala
direita" da Semana?
Prof. Bastide - A turma que acabou caindo no Integralismo? Havia
alguns de seus defensores. Mas eles se manifestaram publicamente
bem depois, apesar de não ter havido grandes atritos ideológicos
dentro da faculdade.
Folha - E Oswald de Andrade? Ele chegou a frequentar suas conferências?
Prof. Bastide - Grande sujeito, o Oswald. Todos o consideravam
meio brigão. Aliás, ele colaborou mais do que ninguém
para enriquecer demograficamente a USP: convenceu suas sucessivas
mulheres e namoradas a se inscreverem...
Folha - De que maneira a ditadura estadonovista repercutiu em
pressões no ensino dos professores estrangeiros?
Prof. Bastide - Em 1937, desencadeou-se contra nós uma
ofensiva na imprensa. Ela foi liderada por Cásper Líbero
na "A Gazeta", que nos acusava de "subversivos",
porque não tínhamos qualquer tabú político.
Alguns ex-integralistas aderiram à campanha, alguns professores
integralistas daquilo que seria a PUC e diferentes alas da direita
também nos combateram.
Folha - E o interventor ou a polícia política?
Chegaram a pressionar diretamente?
Prof. Bastide - Não, nada de oficial a esse nível,
apesar de, com a nomeação do prof. Alexandre Correia
como diretor da FFCL, multiplicaram-se boatos de que os professores
franceses teriam seus contratos extintos. As pressões eram
sutis. Ele nos obrigou, por exemplo, a dar nossas aulas em português.
Por mais que o princípio fosse válido, sua aplicação
representaria a demissão de vários docentes. Os estudantes,
é lógico, ficaram do nosso lado.
Folha - Em termos nacionais, havia alguma restrição
idêntica à que vigora hoje, com uma lei permitindo
a censura dos livros importados?
Prof. Bastide - Isso não. Importávamos, sem problemas,
os livros de que precisávamos. A meu ver, o Estado Novo não
teve tempo de instituir uma estrutura de repressão cultural
capaz de atingir-nos como pequena minoria.
Folha - Além de lecionar, o senhor também pesquisava?
Prof. Bastide - Todos nós pesquisávamos. Lancei-me,
por exemplo, num levantamento sobre a imigração japonesa.
Roger Bastide começou a trabalhar sobre a macumba e assim
por diante. Além das pesquisas diretas, orientávamos
os trabalhos de nossos estudantes, que por sua vez também
pesquisavam.
Folha - E o senhor teve a ocasião de viajar pelo interior,
em suas pesquisas?
Prof. Bastide - Quando me lancei no trabalho dos imigrantes,
percorri o Vale da Ribeira de cabo a rabo. Certa vez, correndo pela
Praia Grande de automóvel, entre Santos e Itanhaém,
indicaram-nos a presença de "índios" que
poderiam nos narrar coisas curiosas. Lá fomos nós,
penetrando de barco por um pequeno rio em direção
à Serra. Um grupo de pseudo-índios, aculturados desde
os tempos de Anchieta, postou-se numa das margens como se aguardasse
nossa chegada. Então, como nos disseram que era preciso oferecer
presentes, eu gritei do barco: "Querem cerveja?". E um
índio perguntou: "Tá gelada?". Eu então
respondi: "Não!". E ele: "Então não
queremos"...
Folha - E viagem pra valer? O senhor chegou a fazer mais pro
interior?
Prof. Bastide - Sim, certa vez estive até Cornélio
Procópio, em companhia de Claude Lévi-Strauss e de
Eurípedes Simões de Paula. Lévi-Strauss viajou
bastante, porque permaneceu apenas um ano na FFCL e, como pesquisador
do Museu do Homem, de Paris, percorreu a trilha aberta por Rondon
- uma viagem da qual pouco se fala - antes de se estabelecer ao
lado dos Nhambiquaras.
Folha - Até que ano o senhor permaneceu na USP?
Prof. Bastide - Oficialmente, até 1946. Mas em 1942 fui
comissionado porque, com a Guerra e a ocupação nazista
na França, a embaixada francesa no Brasil recusou-se a obedecer
o governo de Vichy e aderiu ao governo no exílio, instalado
a princípio em Argel e depois em Brazaville. Então,
com a autorização da Reitoria, transformei-me em adido
de Informação e de Imprensa da embaixada. Isso ao
fim de um período ambíguo. Entre a queda de Paris
e a adesão de Getúlio às forças aliadas,
funcionou entre os franceses residentes em São Paulo uma
espécie de organização sigilosa, favorável
a De Gaulle. Quando fui para o Rio, no entanto, o Brasil já
havia entrado na Guerra.
Folha - Nesse intervalo, como "subversivo gaullista",
o senhor não chegou a ser atacado pelos que desconfiavam
de suas simpatias?
Prof. Bastide - Houve uma campanha da imprensa - novamente "A
Gazeta" - porque os professores franceses assinaram uma carta
aberta em que se referiam ao Eixo como "nosso inimigo comum".
Mas, paralelamente, nunca recebi testemunhos tão sinceros
de simpatia quanto no dia em que soubemos que Paris havia caído
em mãos das tropas de Berlim. O afeto que os estudantes demonstraram
para com a missão francesa foi um verdadeiro ato político.
Folha - E no Rio? Conte-nos alguma coisa da época...
Prof. Bastide - Há um episódio grandioso. Na madrugada
do dia 4 de janeiro de 1944, os lixeiros que recolhiam as latas
embaixo do meu prédio lançaram-se numa batucada delirante
aos gritos de "Invasão, Invasão". As luzes
dos apartamentos se acenderam e todo mundo ligou o rádio.
Leu-se no ar um telegrama anunciando que as tropas aliadas haviam
desembarcado na Normandia. E todos os aparelhos de rádio
começaram a tocar a Marselhesa. Eram 6 horas da manhã.
Amanhecia no Rio. O povo carioca manifestava uma alegria tão
grande quanto a minha.
Folha - E em 1946 o senhor voltou para Paris?
Prof. Bastide - Sim, e numa época dura, em que eu, minha
mulher e meus cinco filhos ainda precisávamos de fichas de
racionamento para comprar comida. Não havia óleo para
alimentar o aparelho de calefação. Foi duro o impacto.
Como eu havia me ligado à embaixada, permaneci dois anos
na rádio estatal, fazendo programas em ondas curtas para
o Brasil. Mas como o Ministério da Educação
forçou que eu optasse entre o magistério e o jornalismo,
voltei a lecionar. Até a aposentadoria.
Folha - E quantas vezes o senhor esteve novamente no Brasil?
Prof. Bastide - Voltei em 1954, em 1965, em 1971 e em 1975.
Nunca para períodos muito longos.
Folha - E São Paulo hoje? E a USP hoje?
Prof. Bastide - (respondendo num português propositalmente
caipira): "Tudo muito mudado. Tudo mudado".
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