A MÚSICA

Publicado na Folha de S.Paulo, terça-feira, 24 de março de 1998.


A música é feita de sons, tradicionalmente descritos segundo quatro parâmetros:

Altura: freqüência definida de um som. É o que diferencia um som de um ruído. Não confundir com volume (intensidade)

Ritmo: distribuição inteligível dos sons (e silêncios) no tempo

Intensidade: a força relativa de um som em relação a outros

Timbre: qualidade dos sons. Diferencia a mesma altura tocada em dois instrumentos diferentes

 

Melodia

 

"Toda e qualquer sucessão inteligível de sons" é uma definição suficiente para abarcar os mais variados estilos. Na linguagem cotidiana, "melodia" refere-se a uma seqüência de alturas com ritmo definido e sentido de conjunto. A melodia é o que você assobia quando se lembra de uma canção. Por analogia à leitura de partituras, onde cada nota é escrita ao lado da outra, diz-se que a melodia representa a dimensão horizontal da música.

 

Harmonia

 

Combinação inteligível de várias alturas soando ao mesmo tempo. Cada combinação forma um acorde; a harmonia é a lógica da formação e seqüência dos acordes. Se a melodia é a dimensão horizontal, a harmonia é sua dimensão vertical. Ela não se limita à elaboração de acordes, mas também à relação entre eles. A harmonia é um sistema hierárquico: alguns sons são mais importantes do que outros para a música.

 

Contraponto

 

Arte de sobrepor duas ou mais melodias. Há vários tipos possíveis de contraponto (ou polifonia); a noção básica a todos é a criação de várias melodias independentes, que soam ao mesmo tempo na composição. Cada uma das quatro vozes de uma peça coral (soprano, contralto, tenor e baixo), tem sua linha melódica própria, que se combina com as demais. As "vozes" de uma composição instrumental seguem o mesmo princípio.

 

Tonalidade

 

Sistema de organização musical, predominante desde o período barroco (século 17) até o início do século 20. A tonalidade estabelece uma sintaxe da composição, baseada na hierarquia de notas e acordes. De acordo com esse sistema, a nota mais importante de todas é o primeiro grau da escala (tônica), seguida pelo quinto (dominante) e pelo terceiro. Outras notas geram tensão ('dissonâncias') e devem ser 'resolvidas' retornando às primeiras. Os acordes básicos são 'tríades': uma nota fundamental, mais a terça e a quinta (dó-mi-sol, ré-fá-lá, mi-sol-si etc). Toda peça tonal está centrada necessariamente no acorde de tônica; e tem de procurar maneiras de se afastar e retornar a ele. A hierarquia tonal reproduz, aproximadamente, a estrutura interna do som (que fisicamente é uma sobreposição de comprimentos de onda, alguns mais fortes do que outros). A tonalidade é, de fato, uma forma extraordinariamente integrada de pensamento musical: a organização interna de cada som espelha-se na hierarquia, seções e mesmo da forma musical inteira (as seções resolvem-se umas nas outras da mesma forma que os graus da escala). Esta dinâmica de atrações e repulsões promovida pela tonalidade permite a elaboração de narrativas musicais complexas. Escutar uma peça tonal é acompanhar (consciente ou intuitivamente) esse drama em notas. A enorme maioria das obras que se conhecem como 'música clássica' são tonais. Mas o período tonal não é muito longo na história da música: no sentido estrito, a tonalidade existe do meio do barroco ao fim do romantismo, aproximadamente 250 anos. Ainda hoje há compositores que escrevem música tonal, mas a tonalidade chegou a um limite com os compositores modernistas e deixou de ser a corrente mais importante do pensamento musical há pelo menos 70 anos.

 


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