1970:
a modelo Anak numa explosão de cores por Francis Giacobetti
1985:
Iman, a futura "senhora David Bowie", fotografada
por Norman Parkinson
1990:
homenagem aos Jogos Olímpicos, por Arthur Elgort
1995:
um maravilhoso devaneio de Avedon - modelo encarna o "Outono"
Por
Amanda França (22 de novembro de 2002)
Mulheres
com caras e bocas numa folhinha de calendário não
é exatamente sinônimo de glamour, certo? Errado! Existe
um calendário, desejado e cobiçado, que é considerado
"objeto-fetiche" do mundo da moda e da fotografia (já
que não é vendido, somente distribuído para
clientes e colecionadores) - o Calendário Pirelli.
A primeira versão do calendário foi publicada em 1963
pela filial inglesa da empresa que estava em busca de uma nova estratégia
de marketing no mercado. No ano seguinte, tudo mudou: transformar
essa jogada promocional em algo realmente importante tornou-se um
desafio para fotógrafos, diretores e produtores artísticos.
Assim, em 1964, nascia o conceito do Calendário Pirelli como
é conhecido hoje, ainda que sem um tema principal, com imagens
despojadas, modelos pouco famosas, o olhar de um fotógrafo
importante já estava lá: Robert Freeman, capturador
de famosas fotos dos Beatles. As fotografias foram feitas em Mallorca,
na Espanha, e são sensuais, dentro do limite possível
na década de 60.
A partir daí, a produção do calendário
não parou mais de evoluir. A cada ano, os produtores se esmeravam
mais, sempre convocando um grande fotógrafo (geralmente um
de moda), uma locação estupenda e as melhores modelos.
É interessante observar a evolução do trabalho
ao analisar as fotos ano a ano - fica muito clara a mudança
da sociedade que ora torna-se mais conservadora, ora mais liberal.
O próprio avanço da tecnologia e da linguagem fotográfica
podem ser apreciadas no conjunto de fotografias feitas ao longo
desses 39 anos.
Na década de 70, por exemplo, as cores das imagens estão
mais fortes, mais quentes, as modelos cada vez mais despidas e sensuais.
Entre 1975 e 1983, devido à crise do petróleo que
golpeou a economia mundial, o calendário teve sua publicação
suspensa, tendo sido retomada somente em 1984.
A década de 80 foi palco do nascimento das super-modelos
- mulheres magérrimas, lindas, glamourosas, com cachês
cada vez mais altos e que passaram a ocupar o lugar, que antes era
das grandes atrizes de cinema, no imaginário masculino. Modelos
como Iman (em 1985), Naomi Campbell (em 1987, então com 16
anos, num ensaio só com mulheres negras) começaram
a aparecer nas cobiçadas páginas do calendário.
A década de 90 foi marcada por imagens que tornaram-se antológicas,
referências, como o ensaio realizado em 1990 inspirado nos
Jogos Olímpicos (fotografado por Arthur Elgort) ou as fotos
produzidas pelo lendário Richard Avedon, em 1995, inspiradas
nas quatro estações do ano. As imagens feitas em preto
e branco nessa década emprestavam cada vez mais o caráter
artístico às fotografias do calendário.
Em 1998, num ensaio quase todo em p&b, o fotógrafo Bruce
Weber colocou pela primeira vez homens nas fotos clicadas para a
Pirelli - não modelos simplesmente, mas figuras importantes
como o músico B.B. King, o ator Ewan McGregor e o vocalista
do grupo U2, Bono Vox. O calendário tornou-se pop.
Por falar em pop, em 2000, a convidada a fazer o calendário
foi a fotógrafa Annie Leibovitz, conhecida por suas fotos
na revista "Rolling Stone". Surpreendentemente, Annie
tratou os modelos como se fossem peças de um taxidermista.
Ela fotografou os corpos como objetos, recortando-os e ainda aplicando
uma espécie de textura nas imagens deixando-as ainda menos
humanas - foi a primeira vez que registrou nu feminino. Aliás,
até hoje, apenas três mulheres tiveram o privilégio
de realizar fotografias para a Pirelli: Sarah Moon (1972), Joyce
Tenneson (1989) e Leibovitz.
Em 2001, uma explosão latina -o fotógrafo peruano
Mario Testino, a locação Nápoles (Itália)
e entre as modelos: Gisele Bündchen, Mariana Weickert, Fernanda
Tavares e Ana Claudia Michels. Todas fotografadas sob o tema do
glamour na Nápoles das décadas de 40 e 50.
Em 2002, o glamour continuou com Peter Lindberg. Ele fotografou
atrizes, algumas usando lingerie "by Giorgio Armani",
numa grande homenagem a Hollywood.
Agora, para 2003, temos o retorno de Bruce Weber, mais uma vez com
a inovação em sua mente. Pela primeira vez, homens
e mulheres foram fotografados juntos para o calendário. Mais
brasileiros estão lá: Alessandra Ambrósio,
Isabelli Fontana e Marcelo Boldrini. A sensualidade está
de volta, em cores e em preto e branco, mais uma vez na Itália,
na costa de Cilento. A inspiração de Weber veio do
cinema italiano, de filmes como "Rocco e seus irmãos"
(1960), clássico de Luchino Visconti. O que fica para nós
é mais um belo ensaio, sensual sem ser vulgar (embora chegue
muito perto disso em alguns momentos). Tante grazie Pirelli!
1998:
o ator Ewan McGregor por Bruce Weber
2001:
a brasileira Mariana Weickert posa para Mario Testino
2000:
a "taxidermia" de Annie Leibovitz
2002:
homenagem ao glamour de Hollywood, por Peter Lindberg
2003:
da esq. para dir.: Alessandra Ambrósio,
Marcelo Boldrini e Isabelli Fontana - muita sensualidade
em ensaio de Bruce Weber