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"Espaço
2" com Ronaldo Fraga
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Por
DANILO CORCI
(11 de outubro de 2002)
A década de 70 foi um período obscuro na história
do Brasil. Culturalmente, houve muito retrocesso apesar de inúmeras
reações pipocarem em diversos setores da área.
Na moda, por exemplo, um dos maiores nomes foi a mineira Zuzu
Angel, nascida na pequena Curvelo em 1921.
Estilista com mestria, ela criou figuras de anjinhos, crucifixos
e tanques de guerra, metáforas da triste história
de seu filho, Stuart Angel, um ativista político que foi
torturado e assassinado pela ditadura militar. Seus detalhes criaram
história e impressionam ainda hoje, quase três décadas
após a sua morte, em 1976.
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Peças
de Ronaldo Fraga da coleção "Cordeiro
de Deus"
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Tendo
como base este engajamento e a moda, Ricardo Resende preparou
uma mostra no MAM, em sua subsede em Higienópolis: "Ronaldo
Fraga, Política, Moda e Arte", usando os trabalhos
deste estilista como ponto de convergência com Zuzu Angel
e com diversos artistas plásticos.
Traçando o paralelo de décadas passadas com o que
Ronaldo Fraga apresenta hoje em dia, a exposição
se divide em duas partes. A primeira com trabalhos da coleção
"Quem Matou Zuzu Angel", apresentada na São Paulo
Fashion Week de 2001, onde toda a contestação da
estilista está representada nas peças de Fraga.
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"Bovinocultura
IV", de Humberto Espíndola
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"Eu
Quero Você", Marcello Nitsche
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A
segunda parte é uma colagem de obras das coleções
do próprio museu e da Galeria Fortes Vilaça. Ricardo
Resende usa "Cordeiro de Deus" (veja
as fotos do desfile), onde o estilista se apropriou
do imaginário dos presos do Carandiru em peças confeccionadas
por eles mesmos, como ponto de discussão. Contrapondo o
trabalho de Ronaldo Fraga estão "Realidade, Culpa?",
"Sem Saída" e "Personagem Contemporâneo",
três xilogravuras de Antônio Henrique Amaral produzidas
em 1967; "Multidão" (1968), acrílica de
Cláudio Tozzi; "Bovinocultura IV" (1968), óleo
e acrílica de Humberto Espíndola; "Eu Quero
Você" (1966), instalação em plástico
estofado de algodão e acrílica sobre PVC de Marcelo
Nitsche; quatro litografias em "Cárceres" (1977),
de Renina Katz; "Tatoo 1" e "Tatto 6A e B"
(fotografias p&b da série "Cicatriz/Museu Penitenciário"),
de Rosângela Rennó.
Para
Ricardo Resende, "a exposição pretende mostrar
uma aproximação criativa entre arte e moda como
uma expressão cultural, portanto artística".
Característica principal do MAM, que sempre abre as portas
para discussões como esta, sendo um dos poucos museus que
assumem o risco de tentar ampliar o conceito de arte. E você,
o que acha? Moda também é uma forma de arte? Uma
visita à exposição pode ser uma boa chance
de pensar neste assunto.
Ronaldo Fraga, política,
moda e arte
Espaço mam Higienópolis
Avenida Higienópolis, 698 - tel: XX/11/3662 5052
De Terça a Sábado, das 10h00 às 22h00
Domingo, das 14h00 às 20h00
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