Por
FERNANDA MAYER
(22.mar.2003)
A
História costuma ser uma rica fonte de inspiração
para a moda. Muitas coleções reinventaram roupas e
cortes do passado, restaurando estilos, recuperando
tradições. Hoje, vemos a moda se debruçar sobre sua
própria história, recriando tendências de um passado
bem recente.
Na última São Paulo Fashion Week, Alexandre Herchcovitch
trouxe referências dos anos 50 na sua coleção
com cara de "Bonequinha de Luxo" e a Cavalera,
a Londres dos anos 60.
Já a Triton, André Lima e Ricardo Almeida, no Brasil,
e Dolce & Gabanna e Gucci, na Itália, fizeram interessantes
releituras dos anos 80 em algumas de suas mais recentes
coleções.
Claro, recordar é viver, e nós, que ainda nem tínhamos
nascido em 1950 e éramos ainda bebês ou simples criancinhas
nos 60, resolvemos mergulhar de cabeça na década de
80, quando já podíamos nos considerar participantes
desta história.
Passados já 20 anos da "new wave", do surgimento dos
yuppies (young urban professionals), da geração saúde
e da febre da ginástica aeróbica, devemos agora fazer
uma ressalva: nem tudo nos anos 80 foi um mar de rosas,
por isso, vamos procurar submeter nossas lembranças
ao filtro da memória, trazendo de volta apenas o que
ainda parecer significativo aos nossos dias.
Para os economistas, os anos 80 no Brasil são considerados
a "década perdida". Paradoxalmente, as roupas procuraram
expressar justamente o contrário: alegre, esportiva,
versátil, divertida e ao mesmo tempo, sofisticada,
sensual e ousada, reflexo, talvez, da abertura democrática.
A ambiguidade foi um traço marcante desta moda: estampas
de oncinha, cores cítricas, ombros largos, pernas
longas, cortes de cabelo assimétricos e acessórios
"fake" conviviam com discretos tailleurs e com roupas
de moletom e cotton-lycra recém-saídas das academias.
O surgimento de novos tecidos, como o stretch, dava
um ar futurista às roupas, mas, ao mesmo tempo, muitas
de nós voltaram ao armário da vovó, promovendo a onda
dos brechós.
Tudo é experimentação, inovação e transformação. Até
na alta-costura, em que se destacaram Christian Lacroix,
Karl Lagerfeld e Jean Paul Gaultier, com suas criações
arrojadas, tudo era meio barroco, exuberante e dramático.
O outro lado da moeda foram os estilistas japoneses
- Yohji Yamamoto e Rei Kawakubo - com roupas de uma
simplicidade lírica e desconcertante perto de tanto
exagero.
Já o estilista italiano Giorgio Armani, que em 1981
lançou a sua grife Emporio Armani, garantiu com seus
cortes sóbrios e impecáveis a elegância de homens
e mulheres de negócios nos anos vindouros.
No universo musical, uma infinidade de bandas surgiram
na década, com as mais diversas tendências: new romantics,
darks, góticos, metaleiros e rastafaris. Ao contrário
das passarelas, o tom da música pop era mais melancólico,
representado por bandas como Joy Division, Echo and
The Bunnyman, The Smiths e The Cure, entre outras.
A música, assim como o cinema, foi um importante meio
para a difusão das modas, especialmente pela transmissão
dos videoclipes, unindo o som à imagem. Filmes como
"Blade Runner" (1982) reafirmaram e divulgaram algumas
das tendências mais fortes da moda, servindo também
de trampolim para astros da música, como Madonna em
"Procura-se Susan Desesperadamente" (1985).
A afirmação da idéia da imagem como meio de comunicação
se cristalizou nos 80, quando o corpo se tornou uma
vitrine de tudo o que viesse à própria cabeça. A partir
de então, quando alguém nos perguntava a respeito
de moda, o que começamos a responder foi: "sou eu
que faço a minha moda".
Este conceito está presente até hoje, na costumização-mania,
na mistura de estilos e até na própria negação da
moda enquanto norma, presente em movimentos como o
"grunge", no início dos anos 90.
A releitura de antigos clichês, a exploração das ambiguidades,
a reflexão sobre conceitos como bom gosto e mau gosto,
assim como a mistura de tendências a partir dos anos
80, provaram que todos os limites são relativos e
que a moda não é mais que a projeção de nossos sonhos,
idéias e aspirações, e que, afinal, tudo é mesmo possível
no mundo da criação.
Não resistimos e fizemos uma lista de algumas
coisas ótimas e outras nem tanto que são
a cara dos 80. Esperamos que os que viveram a "década
perdida" e também os que nunca compraram
um vinil na vida se divirtam conosco. Boas recordações!!!
QUEM
NÃO SE LEMBRA?
-Calça
baggy e semi-baggy
-Sandália de plástico (Melissinhas
em geral)
-Ombreiras (tinha até sutiã de
ombreira)
-Manga morcego
-Saia balonê
-Legging
-Batom 24 horas (não saía da boca
nem com sabão)
-Scarpin
-Cores ácidas
-Mochilas e carteiras emborrachadas
-Tule no cabelo
-Faixas
na testa
-Gola canoa
-Gel "New Wave"
-Polainas
-Walkman Sony amarelo
-Atari
-Pastilhas Supra-Sumo
-Balas Soft
-Cubo Mágico
-Mobilete
-Lolo (atual Milkybar)
-Cabelos assimétricos
-Rock in Rio
-Relógio
Champion (aquele que trocava as pulseiras)
-Tênis iate (tinha um da OP quadriculado
que era uma febre)
-Tênis All Star (de todas as cores imagináveis)
-Falcon
-Susi
-Genius
-Caloi Ceci e Caloi 10
-kichute
-Acquaplay
-Geleka
-Hello Kitty
-Coleção Moranguinho
-Fofoletes
-Franja repicada
-Luminárias de neon
-"Feliz Ano Velho" (o livro)
-"Blade Runner"
-"Top Gun - Ases Indomáveis"
-"Procura-se Susan -Desesperadamente"
-"E.T."
-"9 1/2 Semanas de Amor"
-"Armação Ilimitada"
-"Miami Vice"
-Chacrinha
-"De Volta Para o Futuro"
QUEM
BRILHOU
Banda
"new wave" B52
Grupo
inglês Duran Duran, ícone pop da década
de 80
Atitude
dark era a marca do grupo inglês
The Cure
-Boy
George
-Madonna
-Menudo
-Cindy Lauper
-Michael Jackson
-Lady Di
-Duran Duran
-U2
-Depeche Mode
-New Order
-Pet Shop Boys
-Information Society
-A-Ha
-The Smiths
-Prince
-B52
-Falco
-The Cult
-Billy Idol
-Noel
-Man at Work
-Fred Mercury (no Queen)
-George Michael (no Wham!)
-The Police
-Barão Vermelho (com Cazuza)
-The Cure
-Simple Minds
-Dire Straits
-Lionel Richie
-Bryan Ferry
-Steve Wonder
-Kim Bassinger
-Daryl Hanna
-Nastassja Kinski
-Isabelle Adjani
-Ultraje a Rigor
-RPM
-Magazine
-Kid Abelha e os Abóboras Selvagens
-Gang 90
-Blitz
-Guilherme Arantes
-Sempre Livre
-Metrô
-Ritchie
-Dalto
-Ronaldo Resedá
-Rádio Táxi
-Roupa Nova
-Viúva Porcina
-Xuxa
-A Turma do Balão Mágico
-He-Man
-Lulu Santos
-Marina
-Zero
-Ira!
-Titãs
-Paralamas do Sucesso
-Lobão
-Doris Giesse
-Luíza Brunet
-Monique Evans
-Cláudia Liz
ARTE
NOS 80
Exposição
"2080", que revê a arte produzida
no país durante os anos 80 - acontece no MAM
Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº,
portão 3, parque Ibirapuera, em São Paulo,
tel. 5549-9688). Ter., qua. e sex.: 12h às 18h.
Qui.: 12h às 22h. Sáb. e dom.: 10h às 18h. Até
5/4. Ingr.: R$ 5 (grátis qui. após 17h e ter.).
Estac. grátis.