1934 - A cisão atrapalhou


Publicado na Folha da Tarde, domingo, 29 de junho de 1958

Neste texto foi mantida a grafia original

"Rio, 1 - Tem havido entendimentos com o excelente zagueiro vascaíno Domingos. A C.B.D. já está tratando de conseguir do Nacional de Montevidéu o passe dele. Domingos pediu uma quantia elevadíssima a título de luva. Se descer para 20 contos, o assunto será resolvido imediatamente, e ele jogará ao lado de Junqueira ou de Luís Luz". (Transcrito da Folha da Manhã de 2 de maio de 1934)

*

Rio, 1 - Ontem, cerca de 20 horas, o emissário da Confederação esteve em conferência com o guardião Rei, na Praça Tiradentes. Este declarou-lhe que havia resolvido voltar a defender as cores vascaínas. O emissário ponderou-lhe o compromisso firmado e outras coisas mais. Rei chegou a ficar um tanto impressionado pelo que convidou o emissário a acompanhá-lo até a sua residência. O emissário ficou um tanto desconfiado, acabando por dizer-lhe que os seus serviços não seriam mais necessários à entidade cebedense.

Rei, no entanto, ainda não devolveu os 20 contos da Confederação que, a respeito, vai agir. Ao que parece, depois do sucedido nem a C.B.D. nem o Vasco pretendem mais incluir Rei em sua turma."(Transcrito da Folha da Manhã de 2 de maio de 1934)

*

"A força que a C.B.D. apresentará no certame mundial em Roma, força aliciada, não inspira confiança ao bom brasileiro, porque é mercenária, fictícia, força aparente, mas fraqueza autêntica, dissimulada, que tem que periclitar, porque os propósitos e as finalidades não são positivamente patrióticos. A lição dos argentinos devia Ter repercutido no espírito dessa gente.

A única solução que vejo para o brasil comparecer a Roma forte, integralizado na sua força futebolística, será a da pacificação antes, para depois irmos à Itália. Embora com prejuízos técnicos para a delegação, essa reconciliação ainda pode ser feita. Fora disso, o Brasil não pode e não deve comparecer ao Campeonato Mundial, porque vai jogar numa aventura o prestígio de seu futebol, que já não é continental, mas sim mundial. "(De um artigo de Fausto Várzea, transcrito da Folha da Manhã de 5 de maio de 1934).

"Rio, 11 - Acompanhado dos srs. Luís Aranha e Lourival Fontes, estiveram à tarde no Palácio Guanabara, onde apresentaram despedidas ao chefe do governo provisório, os jogadores brasileiros que vão disputar, em Roma, o Campeonato Mundial de Futebol e que partirão amanhã.

Logo após a chegada ao Guanabara, a embaixada esportiva foi recebida pelo sr. Getúlio Vargas, que se achava acompanhado do ministro José Américo e do interventor Pedro Ernesto. Depois de fazer a apresentação dos jogadores, o sr. Luís Aranha expôs as demarches feitas para a organização da embaixada, descrevendo as dificuldades encontradas pela Confederação, em vista da oposição de vários elementos."

O sr. Getúlio Vargas falou em seguida, dizendo aos esportistas que a missão não era somente de caráter desportivo, mas envolvia um dever cívico em prol da representação brasileira no estrangeiro.

"Ides para um país - diz o chefe do governo provisório - que se renova moral e materialmente. O italiano que se sentia deprimido antes do advento do fascismo, sente-se agora orgulhoso de sua própria raça. É esse o exemplo que deve guiar os esportistas brasileiros".

*

"Gênova, 27 - Os brasileiros empreenderam esforços vigorosos e tiveram várias oportunidades de fazer valer a sua perícia incontestável, mas sua fragilidade, em comparação com os espanhóis, era patente, e assim, terminado o primeiro tempo, estes mantinham ainda a contagem de 3 a 0 em seu favor. No segundo tempo, os brasileiros iniciaram imediatamente o ataque e o meia esquerda brasileiro, Leônidas da Silva, consegue onze minutos depois de iniciado o meio tempo, aproveitar passe da ala direita, marcando um ponto em favor de seu quadro. Estimulados pela vitória, os brasileiros atacavam a cidadela espanhola, conseguindo marcar mais um ponto, que foi, no entanto, anulado pelo juiz, devido a uma falta do jogador brasileiro que marcou o ponto. O guardião Zamora e os zagueiros defendem valorosamente as redes espanholas contra as investidas dos adversários. Os brasileiros não lançam a bola a grande distância e driblam com excesso os adversários, mas jogam com muita habilidade, despertando interesse entre os espectadores. Todavia, não conseguem desalojar a superioridade manifesta dos seus adversários, e assim termina o jogo com a vitória dos espanhóis pela contagem de 3 a 1. A impressão geral é de que os espanhóis mostraram-se muito mais calmos, mas o jogo dos brasileiros foi mais brilhante, conquanto conservassem a bola muito ao centro". (Transcrito da Folha da Manhã de 29 de maio de 1934)

"Roma, 27 - O sr. Lourival Fontes, chefe da delegação esportiva brasileira, em declarações feitas à Agência Havas sobre o resultado do jogo disputado em Gênova, observou que os espanhóis haviam certamente demonstrado perfeita coesão. Os nossos jogadores tinham, por sua parte, sido vítimas de condições desfavoráveis. Em primeiro lugar, as penalidades ao campo contrário e, em segundo, a anulação do segundo ponto obtido no momento em que os brasileiros procuravam igualar a contagem. Acentuou, outrossim, que o quadro fora constituído à última hora, o que não dera aos jogadores a possibilidade de um treino em comum. Aliás, o jogo comportava sempre uma porcentagem de sorte." (Transcrito da Folha da Manhã de 29 de maio de 1934) "

 

 

© Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.