"O dia de ontem, em Montevidéu, onde se trava o primeiro Campeonato
Mundial de Futebol, foi de surpresa e decepção para os esportistas
sul-americanos, que viram derrotados os seus favoritos - os brasileiros
e os peruanos.
"Não
tanto pelos últimos, a estupefação deve Ter ido às raias do impossível
no caso da derrota dos brasileiros, que eram considerados como prováveis
candidatos às provas mais decisivas do importante certame organizado
pela primeira vez pela Federação Internacional de Futebol Associação.
Agora, está consumado o acontecimento, desagradável para que os
que, cá de longe, aguardam o resultado dos esforços dos jogadores
que a Confederação Brasileira de Desportos reuniu para representá-la
em Montevidéu.
"Ao
menos na estréia, a figura dos brasileiros não devia ter sido tão
chocante como foi, infelizmente. Diante do triunfo dos iugoslavos,
que se mostraram melhores, diante do quadro que os brasileiros lhes
apresentaram, não se pode senão reconhecer a nitidez da vitória
, que deu aos nossos adversários de ontem o direito quase líquido
de se impor aos bolivianos, com certeza menos preparados para o
grande certame e chegarem às semifinais do campeonato. Para outra
vez, quando não se tiver consciência de que a nossa representação
é a mais forte, a mais coesa, não se arroguem direitos de disciplina
e de justiça para cair como aconteceu agora, por culpa da C.B.D.,
numa situação angustiosa como a que cerca o prestígio do futebol
patrício no grande concerto internacional de Montevidéu." (Transcrito
da Folha da Manhã de 15 de julho de 1930)
*
"Rio,
29 - Pouco antes do desembarque dos jogadores brasileiros, o representante
da Havas procurou e obteve alguns testemunhos sobre a atuação da
equipe brasileira em Montevidéu. O primeiro com quem falamos foi
Russinho.
A nossa
pergunta inicial foi a seguinte:
- Que
nos diz de novo, Russinho?
- Bom
tratamento, muito frio e maior azar ainda, eis tudo que poderei
dizer.
Logo
a seguir, inquirimos Brilhante, estimado zagueiro vascaíno.
- E
você, que diz?
- O
que Russinho já disse, acrescentando que muito gostamos da viagem
que fizemos, pois o que observamos em Montevidéu em matéria de futebol
por certo muito proveito nos trará. No mais, azar, muito azar nos
fez perder para os iugoslavos.
Logo
após abraçamos Fausto e dissemo-lhe:
- Muita
novidade?
- A
maior foi o frio que sentimos. Era uma coisa horrível, deixando-nos
quase insensíveis.
- E
a derrota?
- Foi
produto de pouca sorte. Creio, porém, que deixamos boa impressão,
mesmo perdendo. Todos os jornais de Montevidéu e Buenos Aires fizeram
boas referências do nosso quadro.
- Então
você está satisfeito?
- Bastante,
ainda mais que reinou sempre a melhor camaradagem entre todos.
Por
último, ouvimos Poli.
- Infelizmente,
estive sem sorte no jogo em que tomei parte. Também, meu amigo,
o frio era tão intenso que Joel, quando terminou o primeiro tempo,
tinha o rosto tão congelado que não podia falar. Foi necessário
que Fortes lhe desse uma massagem bom violenta no rosto. Por aí
se vê que o frio foi nosso maior adversário, terminou Poli, que
embora sempre se tenha portado de maneira admirável nos treinos,
fracassou por completo."
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