1930 - A primeira decepção


Publicado na Folha da Tarde, domingo, 29 de junho de 1958

Neste texto foi mantida a grafia original

"O dia de ontem, em Montevidéu, onde se trava o primeiro Campeonato Mundial de Futebol, foi de surpresa e decepção para os esportistas sul-americanos, que viram derrotados os seus favoritos - os brasileiros e os peruanos.

"Não tanto pelos últimos, a estupefação deve Ter ido às raias do impossível no caso da derrota dos brasileiros, que eram considerados como prováveis candidatos às provas mais decisivas do importante certame organizado pela primeira vez pela Federação Internacional de Futebol Associação. Agora, está consumado o acontecimento, desagradável para que os que, cá de longe, aguardam o resultado dos esforços dos jogadores que a Confederação Brasileira de Desportos reuniu para representá-la em Montevidéu.

"Ao menos na estréia, a figura dos brasileiros não devia ter sido tão chocante como foi, infelizmente. Diante do triunfo dos iugoslavos, que se mostraram melhores, diante do quadro que os brasileiros lhes apresentaram, não se pode senão reconhecer a nitidez da vitória , que deu aos nossos adversários de ontem o direito quase líquido de se impor aos bolivianos, com certeza menos preparados para o grande certame e chegarem às semifinais do campeonato. Para outra vez, quando não se tiver consciência de que a nossa representação é a mais forte, a mais coesa, não se arroguem direitos de disciplina e de justiça para cair como aconteceu agora, por culpa da C.B.D., numa situação angustiosa como a que cerca o prestígio do futebol patrício no grande concerto internacional de Montevidéu." (Transcrito da Folha da Manhã de 15 de julho de 1930)

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"Rio, 29 - Pouco antes do desembarque dos jogadores brasileiros, o representante da Havas procurou e obteve alguns testemunhos sobre a atuação da equipe brasileira em Montevidéu. O primeiro com quem falamos foi Russinho.

A nossa pergunta inicial foi a seguinte:

- Que nos diz de novo, Russinho?

- Bom tratamento, muito frio e maior azar ainda, eis tudo que poderei dizer.

Logo a seguir, inquirimos Brilhante, estimado zagueiro vascaíno.

- E você, que diz?

- O que Russinho já disse, acrescentando que muito gostamos da viagem que fizemos, pois o que observamos em Montevidéu em matéria de futebol por certo muito proveito nos trará. No mais, azar, muito azar nos fez perder para os iugoslavos.

Logo após abraçamos Fausto e dissemo-lhe:

- Muita novidade?

- A maior foi o frio que sentimos. Era uma coisa horrível, deixando-nos quase insensíveis.

- E a derrota?

- Foi produto de pouca sorte. Creio, porém, que deixamos boa impressão, mesmo perdendo. Todos os jornais de Montevidéu e Buenos Aires fizeram boas referências do nosso quadro.

- Então você está satisfeito?

- Bastante, ainda mais que reinou sempre a melhor camaradagem entre todos.

Por último, ouvimos Poli.

- Infelizmente, estive sem sorte no jogo em que tomei parte. Também, meu amigo, o frio era tão intenso que Joel, quando terminou o primeiro tempo, tinha o rosto tão congelado que não podia falar. Foi necessário que Fortes lhe desse uma massagem bom violenta no rosto. Por aí se vê que o frio foi nosso maior adversário, terminou Poli, que embora sempre se tenha portado de maneira admirável nos treinos, fracassou por completo."

 

 

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