Um trabalho de equipe que faz um novo jornal


Publicado na Folha de S.Paulo, terça-feira, 30 de janeiro de 1968

Neste texto foi mantida a grafia original

Para o jornal chegar às mãos do leitor, todas as manhãs, com as últimas notícias, com as grandes reportagens, uma enorme equipe dedica-se a um trabalho contínuo, que começa às primeiras horas do dia, atravessa a madrugada e só cessa quando as folhas estão sendo distribuídas em todo o país.

Para esses homens, fazer jornal constitui uma rotina, mas na véspera do dia 1.o havia uma certa tensão, tanto na fotomecanica como na rotativa. Pela primeira vez a tiragem dominical da FOLHA DE S. PAULO ia ser rodada inteiramente em "off-set". Era a prova de fogo para homens e máquinas.

Gustavo Binder, austríaco, com 30 anos de profissão e apenas alguns meses na FOLHA, desde as primeiras horas da tarde já estava em seu posto, providenciando para que nada viesse a falhar no momento preciso. Ele é o chefe de fotomecanica e sua responsabilidade é no sentido de que as chapas cheguem à rotativa à hora e a tempo. Seu auxiliar direto, Roy Amâncio Ramalho, ocupava-se da sua parte: reprodução das fotos na câmara automática, cujos negativos irão ocupar as "janelas" abertas na prova de página.

Na sala da rotativa, Manoel Guedes, 8 anos de profissão, reunia seus homens para dar início ao trabalho. Manoel é o operador da máquina "A", da qual cuida com sua equipe de 14 homens. Tudo tem que ser providenciado com a devida antecedência, porque o jornal tem hora para rodar e nada deve ser deixado para o último momento. Para aquela edição de domingo, só a sua máquina iria consumir 100 bobinas de papel, de 420 quilos cada uma: 42 mil quilos de papel.

Antonio Marcondes, um moço que fez curso de eletricidade no SENAI, também estava a postos no subsolo do prédio. A ele cabe uma tarefa muito importante na rodagem da edição: fiscalizar o comando elétrico de toda a sala da rotativa, vigiando, na cabina de controle, os painéis de corrente contínua para determinar a maior ou menor velocidade das máquinas, o retintamento etc.

No comando de todos esses homens (120 na rotativa e 80 na fotomecanica), estão três jovens norte-americanos: Jack, Willie e Bob.

Eles vieram dos Estados Unidos ao mesmo tempo que o equipamento de "off-set". Cuidaram de toda a montagem do aparelhamento e agora orientam os profissionais brasileiros. Jack supervisiona, de modo geral, todo o sistema "off-set"; Willie dedica-se especificamente à impressão e Bob tem a seu cargo o zelo pelo equipamento eletrônico.

O grande momento


A movimentação que, durante a tarde notava-se na fotomecanica, transferiu-se, ao cair da noite, para a sala da rotativa. Manoel Guedes estava junto aos botões de comando da máquina "A". Vista de baixo para cima, a rotativa assemelha-se à ponte de comando de um navio e os homens que nela trabalham a marinheiros, subindo pelas escadas, atravessando os passadiços, colocando o papel, verificando a solução de água e bicromato, reajustando as peças. Não há necessidade de muitas ordens, gritadas em altas vozes: cada um sabe a tarefa que lhe compete. Se algum dos homens da equipe encontra uma dificuldade em seu trabalho, imediatamente ao seu lado surgem dois ou três companheiros, para ajuda-lo a resolver o impasse. O que mais se ouve é o toque das campainhas, anunciando a passagem de uma para outra fase do trabalho.

As chapas já estão chegando e imediatamente vão sendo colocadas na máquina. Faz-se os últimos ajustes; Manoel Guedes aperta mais uma vez a campainha. Depois o botão de comando e a máquina começa a girar lentamente. Os primeiros exemplares saem brancos; tudo está ajustado, a máquina dobrando e cortando bem. Então começa a impressão, ainda lentamente. Verificam-se as páginas onde há tinta em demasia e aquelas que têm pouca tinta. Nova ajustagem e agora está tudo perfeito. Então a velocidade vai sendo gradativamente aumentada e já não se pode mais acompanhar com os olhos as grandes letras impressas, as fotos e os anúncios. Na boca de saída, os carrinhos se enfileiram à espera dos exemplares do jornal que vão saindo. Dali para os carros da distribuição e para as mãos dos leitores em todo país.

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