Nova impressão põe a FOLHA na era eletrônica
Quando
as máquinas rodam, começa toda uma revolução. Só que, aqui, é
um movimento pacífico de criação de um novo jornal, a que a técnica
do "off set" veio trazer uma outra dimensão. Há uma pequena história
de lutas e trabalhos para explicar como as FOLHAS conseguiram
ter a melhor impressão do Brasil. É uma história escrita pelos
homens do jornal, que estão fazendo a imprensa brasileira ingressar
em uma nova era.
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Publicado
na Folha de S.Paulo, terça-feira, 30 de janeiro de
1968
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Neste texto foi mantida a grafia original
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O novo sistema de impressão que estamos agora utilizando - o que
V. certamente já notou - é do tipo "off-set", o que significa dizer
que é o mais moderno processo de impressão de jornais existente
no mundo, hoje. Existe aqui, na FOLHA DE S. PAULO, uma história
de 3 anos de marchas e contra-marchas. Uma verdadeira luta.
Hoje,
quando anoitece e o conjunto "off-set" começa a ser preparado para
uma tarefa de doze horas inteiras, noite adentro, quase ninguém
que veja o trabalho ruidoso das 24 unidades que compõem o conjunto
de três máquinas, pode imaginar quanto de ousadia e esforço foi
preciso para instalá-las.
A idéia
da "off-set" surgiu em 1962, quando representantes dos fabricantes
das impressoras "Goss" falavam sobre os seus equipamentos aos diretores
da FOLHA. Entre os vários tipos sugeridos, estava um conjunto "off-set",
pelo qual houve um interesse imediato. Mas os próprios representantes
o desaconselharam, porque - segundo suas razões - o equipamento
era muito moderno e ainda eram raros os jornais que o haviam adotado.
Mesmo nos Estados Unidos poucos eram os diários que já usavam o
sistema.
Havia
na época, entretanto, a necessidade de ampliação do equipamento
de impressão da FOLHA. Sua tiragem aumentava a olhos vistos e a
solução precisava ser dada. O assunto foi entregue a técnicos especializados,
para que o examinassem. Enquanto isso o presidente da Empresa visitou
o Japão e, em Saporo, acompanhou a impressão "off-set" de um dos
jornais de grande tiragem no país. Em face do que viu, uma conclusão
se impôs: ao invés de se continuar investindo em equipamentos de
superação técnica facilmente previsível, ficou evidente ser mais
acertado investir em equipamento moderníssimo, ainda que inédito
na América do Sul. E as técnicas oriundas foram examinadas na afirmação
de que o sistema "off-set" de impressão dos jornais afirmar-se-á
como o melhor existente no decorrer da próxima década.
Outras
razões colaboraram também para essa decisão. A facilidade de reprodução
é perfeita, ou pelo menos alcança um grau de perfeição impossível
de se obter com equipamento tipográfico.
A valorização
do material ilustrativo (fotos, mapas, gráficos) é tão marcada que
confere ao jornal uma dimensão realmente nova.
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As
primeiras dificuldades |
Depois dos primeiros entendimentos com os fabricantes das impressoras
"off-set", transcorreu quase um ano de intervalo até que se chegasse
à decisão. No espírito dos diretores do jornal, muito depois de
vencida a fase de compra do equipamento e de início de sua instalação,
surgiu muitas vezes a pergunta: como se conseguiu coragem de empreender
a implantação de "off-set"?
A direção
da FOLHA pesou todas as dificuldades e mediu todos os obstáculos
inerentes a um empreendimento pioneiro desse vulto e resolveu aceitar
o desafio. Tratava-se não apenas de uma inovação industrial, mas
realmente de uma revolução completa na imprensa.
No
início de 1964 tratou-se da obtenção de espaço para a instalação
do conjunto de rotativa "off-set". Uma área de 2 mil metros foi
destinada a abrigar as novas impressoras. A segunda etapa um pouco
mais complexa, foi a do financiamento do equipamento que foi adquirido
através do Banco do Brasil com aval de banco privado brasileiro.
Chegava-se
a certeza da compra, já víamos as máquinas rodando. Um equipamento
de três máquinas, de 8 unidades cada uma, num total de 24 unidades,
foi então encomendado pela Empresa Folha da Manhã S.A.. O vulto
da operação: cerca de 4 bilhões de cruzeiros antigos. Abria-se um
precedente: pela primeira vez importava-se equipamento para uma
empresa nacional, com financiamento da AID, com base em aval fornecido
por um banco brasileiro.
O Banco
que desempenhou tão importante papel foi o Banco de Investimento
Fiducial de Comércio e Indústria.
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A
instalação |
Durante
meses travou-se uma batalha surda: um equipamento absolutamente
novo chegava. Equipes precisavam ser preparadas; meios de transportes
e operação deveriam ser mobilizados (300 toneladas de máquinas).
Departamentos novos precisavam ser criados, organizados e colocados
em condições de funcionamento operacional.
As
grandes caixas começaram a chegar por navio ao Rio de Janeiro no
dia 2 de maio de 1967. Era a "off-set" que chegava. O segundo conjunto
de máquinas chegou no dia 8 e o terceiro no dia 11 de maio. Com
intervalo de seis dias elas eram entregues em São Paulo. O prédio
onde seriam instaladas estava em fase final de construção, numa
corrida contra o relógio, trabalhando-se 24 horas por dia. As grandes
caixas eram empilhadas no pátio do jornal.
Os
componentes da fotomecanica, um complexo conjunto de aparelhos eletrônicos
ultra-sensíveis, vieram por via aérea. Eram os primeiros a serem
exportados de seus países produtores: Itália, Alemanha Ocidental,
Inglaterra e Estados Unidos.
Pequenas
dificuldades surgiram então. O volume e o peso dos conjuntos de
máquinas exigiam um tipo especial de transporte, para transferí-los
do pátio para o edifício onde seriam instalados (cada conjunto de
duas unidades pesa 16 toneladas). Era impossível carregá-los a braço.
Com os guindastes comuns também não. O socorro a tempo veio da Construtora
Camargo Correia, que ofereceu dois tipos especiais de guindastes
de haste curta, utilizados em suas construções de pontes.
De
abril de 67, mês em que as últimas adaptações eram feitas no prédio
da "off-set", passando por maio, quando as primeiras unidades eram
montadas, a outubro, quando todo o sistema estava pronto, verificam-se
fatos históricos para a imprensa brasileira. No dia 9 de julho,
rodava o primeiro jornal em "off-set". Era a "Cidade de Santos".
A impressão visual provocada no leitor que se acercava das bancas
era de que ele se encontrava diante de algo inteiramente diferente.
Mas
para que esse jornal surgisse era preciso que os técnicos brasileiros
tivessem a grande capacidade de assimilação que os caracteriza.
Três técnicos estrangeiros vieram preparar mais de duzentas pessoas,
muitas das quais ainda completamente estranhas a esse sistema de
impressão. De repente, fotógrafos tornavam-se peças importantes
de um complexo maquinismo eletrônico, como é a fotomecanica. Pessoal
auxiliar de várias secções da FOLHA - até mesmo um motorista - aprendiam
quase do dia para a noite a movimentar máquinas que são desconhecidas
para a maioria dos trabalhadores brasileiros em jornais. Em outubro
a operação "off-set" estava praticamente concluída. Três anos para
as decisões superiores de negociações e compra; quase dois anos
para a preparação do ambiente da nova maquinaria; sete para recebê-la
e instalá-la.
E no
dia 1.o de janeiro deste ano, a FOLHA DE S. PAULO começava a ser
rodada parcialmente em "off-set". No primeiro feriado do ano e na
cidade quase deserta, um acontecimento revolucionário na imprensa
brasileira: era o primeiro jornal do mundo de grande tiragem a ser
rodado nesse sistema.
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Afinal,
o que é |
O sistema "off-set" não significa apenas um método de impressão
diferente. Sua principal característica está num equipamento auxiliar
chamado "fotomecanica", que prepara os fotolitos com os quais substituem
o molde de chumbo das páginas dos jornais. O chumbo, utilizado há
mais de um século e meio, saía de cena. Com ele, deixavam o palco
também o tradicional "flan" e sua companheira, a calandra. Personagens
do passado eram substituídos pelo filme e pelo alumínio.
O material
redigido é composto e paginado de forma tradicional - a chamada
"composição quente" - para que se obtenha a prova de página.
A prova
vai então à fotomecanica para ser corrigida no seu conjunto: todas
as falhas gráficas, o escurecimento de partes, a falta de nitidez
das linhas etc., são eliminadas. Pronta e retocada a página será
fotografada por uma câmara eletrônica gigantesca (7 metros), que
é inteiramente automática, pode tirar fotos de uma página inteira,
revelá-la e fornecer fotolito seco em 10 minutos.
Depois
de pronto, o filme da página é sobreposto em prensas especiais (alumínio),
de fina espessura, previamente sensibilizadas. Submetidos a uma
radiação de luz de determinada densidade, os fotolitos impressionam
a chapa de alumínio, numa operação que dura dois minutos - a qual
passará, em seguida, por um processo de revelação semelhante ao
de filmes comuns. A fase final da impressão será, então, a fixação
desta chapa à rotativa e a transmissão de seu conteúdo a um rolo
de borracha que, por sua vez, o transmitirá ao papel.
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As
fotos |
O espaço das fotografias está em branco. Esta separação do processo
é necessária porque há duas máquinas especiais "Klischograf", alemãs,
destinadas à operação em branco e preto. A função dessas máquinas
representa um trabalho de automação único no Brasil.
Para
a impressão a cores, na "off-set", as fotografias passam por uma
máquina "Scanner" - inglesa - que faz uma separação total de cores
a cada dez minutos (contra 24 do sistema convencional), corrigindo
o original fotográfico. Com a separação, obtém-se quatro fotolitos,
cada um corresponde a uma cor. Cada uma das cores será apresentada
num fotolito, que passará pelo mesmo processo já descrito, até ser
colocado numa unidade própria da máquina.
Para
a fotografia a cores, portanto, o papel passará pela impressão em
número correspondente às cores que deve receber. A superposição
das cores deve ser absolutamente precisa e para medí-la observa-se
uma pequena cruz - que pode ser vista nas dobras das páginas coloridas.
Tudo
pronto, as máquinas começam a rodar com uma produção de até 45 mil
exemplares por hora: nos três conjuntos, portanto, 135 mil exemplares
por hora, e até 64 páginas.
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O
feito |
Após 178 dias, chegou o dia D. Foi precisamente no último domingo,
dia 28 de janeiro de 1968, toda a tiragem da FOLHA DE S. PAULO rodou
em "off-set", exatamente 222.789 exemplares de 60 páginas. Conseguimos,
enfim, realizar o nosso sonho provando que o novo sistema funciona.
Às quatro horas da madrugada a máquina parou; cumprira a sua missão.
A FOLHA DE S. PAULO já estava circulando no Brasil, toda em "off-set".
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Os
homens |
Esse feito foi alcançado graças ao esforço comum de toda a equipe
de 2.200 funcionários, em todas as escalas hierárquicas e em todas
as horas.
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mais:
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