Logo após marcar na vitória sobre a Turquia, com a vaga garantida
na final da Copa do Mundo, Ronaldo afirmou que o pesadelo havia
acabado. Ele estava recuperado para o futebol.
Mas
faltava algo. Sobre seus ombros ainda restavam 170 milhões de brasileiros
que esperavam dele um título do Mundial, já que em 1994, no triunfo
da seleção nos Estados Unidos, Ronaldo não saiu da reserva. "Não
era dívida. Havia um peso na consciência", declarou o atacante após
o término da partida contra a Alemanha, ao ser questionado sobre
a relação entre as duas finais que efetivamente disputou, a de 1998,
na França, e a redentora, no Japão.
Ronaldo
fez ontem os dois gols da vitória brasileira e surpreendeu-se. "Nem
no melhor dos meus sonhos aconteceu assim", disse o jogador da Inter
de Milão.
Pudera,
o atacante foi artilheiro do Mundial, com oito gols, igualou Pelé
em gols anotados em Copas: 12 cada um no mesmo número de jogos,
14 _média de 0,86 gol por partida.
A marca
de Ronaldo neste Mundial é a melhor de um artilheiro desde 1974.
Desde então, nenhum dos goleadores do torneio havia feito mais do
que sete gols em cada edição do torneio.
Surpreendente
para quem quatro anos atrás deixava o gramado da partida decisiva
do Mundial contra a França abatido, sob o estigma de ter "amarelado"
na final.
Na
ocasião, antes do jogo decisivo, Ronaldo, já então o maior astro
brasileiro, teve uma crise nervosa que o levou a um hospital de
Paris. "Acho que o destino já havia reservado para a gente 2002",
afirmou o atacante ontem.
Depois
do vice-campeonato de 1998, o atacante sofreu duas cirurgias no
joelho direito e ficou quase três anos parado.
Até
os títulos de melhor jogador do mundo, conferidos pela Fifa em 1996
e em 1997, foram colocados em questão. "O título da Copa veio coroar
a minha luta, a minha recuperação", disse Ronaldo.
Com
um corte de cabelo de gosto no mínimo duvidoso, que lhe valeu o
apelido de "Cascão" (personagem das HQs de Maurício de Souza), o
jogador foi enfático ao dedicar a vitória a seu fisioterapeuta particular,
Nílton Petrone, o Filé. "Ele me acompanhou em todos os momentos,
não me abandonou", disse. Em seguida, Ronaldo enfatizou também a
importância de sua mulher, Milene Domingues, e de seu filho, Ronald.
"Família é tudo."
Com
apenas 25 anos _dois títulos de Copa do Mundo, como Pelé na mesma
idade_, Ronaldo promete mais para o futuro. "Sou ambicioso." Contudo
evita falar sobre um curto prazo. "Hoje quero apenas comemorar.
Estou muito feliz, foi duro. Fizemos um grande trabalho."
Amanhã,
o brasileiro deve ser anunciado o melhor jogador da Copa-2002 pela
Fifa. Seu maior adversário na disputa é Rivaldo, autor do chute
a gol que propiciou o rebote aproveitado por Ronaldo para marcar
o primeiro da vitória sobre a Alemanha _ao lado dele, Ronaldo forma
a dupla que mais gols fez na história do Brasil em Mundiais: 19.
A participação do artilheiro na jogada não se resumiu "apenas" ao
toque final, já que foi ele quem roubou a bola que deu início à
trama.
A Copa
da Coréia do Sul e do Japão também marcou o amadurecimento do jogador,
que se incorporou ao esquema de trabalho do técnico Luiz Felipe
Scolari como se fosse um novato.
"Não
existe conquista individual alguma que supere a importância do grupo",
disse.
Sob
o rígido comando de Scolari, Ronaldo foi enquadrado nas regras do
treinador quanto à privação de sexo, já que as mulheres dos jogadores
foram proibidas de visitar a concentração.
Questionado
sobre o que havia sido mais difícil, ganhar a Copa do Mundo ou ficar
quase 50 dias sem sexo, Ronaldo não se intimidou. "Acho que a Copa
foi mais difícil. Sexo daqui a pouco a gente vai fazer. Além disso,
o Mundial só existe de quatro em quatro anos", afirmou o atacante.
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