Quando saímos para esta reportagem, notamos o ascensorista tranqüilo
como um hindu.
- O
jogo não o emociona?
- "Não
vou ouvir a irradiação. O coração, sabe?"
Saímos
à rua. Rostos pálidos, sorrisos forçados por todos os cantos. Percorremos
as praças e ruas do centro. Gente sentada na grama dos parques,
no chão, sobre carrinhos de ambulantes. Carros parados, homens nervosos
andando de lá pra cá. E o silêncio, um silêncio quase lúgubre. Finalmente,
começa o jogo. Aumenta o nervosismo, os gols se sucedem e os ataques
de lado a lado, sempre perigosos. Quando a Suécia abriu a contagem,
um jovem, na praça do Patriarca, jogou-se no chão. Ergueram-no e
ele, quase sem sentidos, começou a arrancar os cabelos de desespero.
- "Meu
Deus!... Meu Deus!... Estamos fritos!... Quando o Brasil empatou,
o mesmo jovem saiu em disparada, aos berros:
- "Ganhamos!...
Ganhamos!..."
- "Esse
vai enlouquecer hoje." Comentou uma senhora.
Vavá
marcou outra vez e colocou o Brasil em vantagem. Então todos enlouqueceram,
inclusive a senhora que temera pela razão do rapaz nervoso. Ela
abraçou um guarda.
A multidão
dançava na praça. A artilharia foi mais forte e a chuva de papel
picado desceu outra vez.
Acabou
o primeiro tempo, começou o segundo. Quase ninguém notou o intervalo:
- "Quanto
falta?"
- "Falta
muito?"
- "Meu
Deus, o tempo não corre!"
- "Goooooool!
Goooooool do Brasil!" - gritou o locutor. Aí, não pudemos notar
nada, nem registrar nada. Mal percebemos que fora Pelé o autor do
tento, porque um homem nos agarrou com lágrimas nos olhos e começou
a beijar-nos desesperadamente. Quando nos largou, ouvimos um homem
gritar:
-
"Adeus, vice"... Adeus, vice!... É nooosso! É nooosso!"...
Prossegue
o jogo e as perguntas se sucedem:
- "Quanto
falta?"
- "Faltam
dez."
- "Você
está louco" Está no finzinho, velho!"
As
cenas se repetiram na marcação dos outros dois gols.
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