OS COMUNISTAS

Publicado na Folha da Tarde, segunda-feira, 1º de julho de 1957.

Neste texto foi mantida a grafia original


RUBEM BRAGA

Chamam-me a atenção para um artigo do se. Jacob Gorender na "Imprensa Popular" em que há referencias a uma de minhas cronicas sobre a questão do petroleo. Diz ali o sr. Gorender que eu, citando as forças que sustentam a tese nacionalista, cometi a injustiça de omitir a presenças da classe operaria.

Na realidade, se não fiz referencia expressa aos operarios não os omiti; eles estão incluidos naquelas forças populares que eu disse terem sido mobilizados pelos politicos, jornalistas e intelectuais. O sr. Gorender afirma, e eu não o contradigo, que o Partido Comunista teve um grande papel nessa mobilização. Ora, os quadros de militantes do P.C.B. agiram exatamente em função de seus politicos, jornalistas e outros intelectuais; esses é que influiram sobre a massa a favor do monopolio estatal, como tinham influido a favor do engenheiro Fiuza, por exemplo. O que o sr. Gorender talvez não perceba é que, ao mesmo tempo que contribuiram e muito, para tornar popular a idéia do monopolio estatal, os comunistas tambem a prejudicaram em muitos setores populares, devido exatamente ao seu apoio. Para muita gente, não apenas da camada mais prospera, como tambem do proletariado, e principalmente da classe media, o apoio comunista torna qualquer tese suspeita. Isto é apenas um fato, que estou referindo e não discutindo.

O sr. Gorender diz que só por leviandade poderia eu aludir aos interesses da politica sovietica; para ele o nacionalismo comunista seria nascido aqui mesmo; não teria essa origem. Pergunto-lhe, então, que pensa do nacionalismo hungaro; ainda será capaz, o sr. Gorender, de sustentar com sinceridade que a revolução hungara foi obra de latifundiarios e agentes imperialistas, quando todas as evidencias mostram que foram as organizações operarias que a dirigiram com apoio maciço da população?

Quanto à antiga atitude comunista no assunto do petroleo não é exato o sr. Gorender quando, ao enumerar os projetos apresentados pela bancada comunista em 1947, diz que eles estabeleciam "em torno da iniciativa estatal e privada todo um sistema de defesa dos interesses brasileiros contra a ação dos trustes internacionais". Convido-o a reler com atenção os projetos 382 e 412 e verificar se não tem razão Gondin da Fonseca ao mostrar que eles - principalmente o primeiro - tornariam extremamente faceis as manobras dos trustes embora certamente, por inadvertencia.

O verdadeiro nacionalista tanto admite o nacionalismo na Guatemala quanto na Hungria. Nacionalismo como o entendo não é odio ao estrangeiro, xenofobia, e muito menos ditadura; é simplesmente defesa dos interesses do povo país contra a exploração economica ou a opressão politica por parte de outras potencias. Esse nacionalismo defensivo é o que é necessario ao Brasil. Ele deve ser objetivo, pratico, e não mistico. Nada me desgosta mais que o primarismo dos anti-comunistas que vêem tudo da Russia como obra de capetas ou o tom longamente adotado pela "Imprensa Popular" divisando em tudo que é norte-americano corrupção, imperialismo, bestialidade, ignorancia.

Tenho visto os comumnistas no Brasil lutarem ao lado dos democratas contra o fascismo e tambem já os vi ao lado da ditadura contra os democratas. Embora não seja um politico militante dou, às vezes, meus palpites; e prefiro tomar posição, tanto em questões politicas como economicas, sem ligar o fato de estar contra ou a favor dos comunistas. Assim acontece nesta questão do petroleo. Embora muito enfraquecido, o Partido Comunista ainda tem forças, organização e habilidade para atuar em uma campanha de massas. Que o faça no caso do petroleo mas sem pretender, como é seu vezo antigo, prejudicar uma boa campanha com palavras de ordem "a reboque" sobre assuntos que só interessam realmente sua politica propria ou suas vinculações internacionais.

Para imprimir este texto clique o botão direito do seu mouse.
 

© Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.