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História :: Primavera de Praga

JOÃO BONTURI
da Folha Online


1968
Não havia festa sem baile. A lista de convidados era cuidadosamente preparada para que o número de garotos fosse semelhante ao de meninas, pois a dança é entre pares, obviamente de sexos opostos. Seguindo uma antiga tradição, os meninos tiravam as meninas para dançar. Aí, o óbvio acontecia: as bonitas não paravam uma música sequer. A garota mais cortejada de 1968 chama-se liberdade, e a mais feia ditadura.

A Tchecoslováquia namora a liberdade
Durante os anos 60, na época do primeiro ministro soviético Nikita Kruschev, quando muitos dos crimes do sanguinário ditador Stálin eram revelados, Alexander Dubcek, formado na Escola Superior de Política de Moscou e membro de uma comissão de investigação de crimes políticos cometidos durante os anos 50, crescia na Secretaria Geral do Partido Comunista, verdadeiro órgão de governo do país, acima da Presidência do governo.

Dubcek e sua equipe de economistas detectaram o crescente descontentamento social e o penoso estado da economia provocados por uma exagerada centralização, e também perceberam a apatia dos trabalhadores, desencantados com os grandes conceitos revolucionários. Antecipando Gorbatchev, Dubcek ousou reformar.

O Programa de Ação ou A Primavera de Praga
Esse projeto, que contava com cerca de 80% de apoio da população, liquidou com a censura à imprensa, abriu as fronteiras para o exterior, legalizou as pequenas empresas privadas do setor de serviços e nomeou uma comissão para redigir uma nova constituição que separaria o partido do Estado.

O então primeiro ministro soviético Brejnev o avisou sobre a "inquietude dos camaradas", mas Dubcek não acreditava na possibilidade de uma invasão do seu país. Pagou caro a sua fé: a Tchecoslováquia foi invadida por todos os lados. Tropas da URSS, Alemanha Oriental, Hungria, Polônia e Bulgária fizeram a festa.

Humilhação, Contradição e Ditadura
Dubcek foi sequestrado e conduzido à presença do "urso" Brejnev, no Kremlin. Posteriormente, o líder revelou que "até esse momento não acreditava estar lidando com gangsters".

Depois desse puxão de orelhas, o humilhado Dubcek volta a Praga e pronuncia um discurso radiofônico recomendando aos cidadãos a submissão, para evitar um banho de sangue. Durante o discurso, foram perceptíveis as suas lágrimas de vergonha e impotência. Os tchecos compreenderam que o sonho terminara.

Nesse momento, em todo o mundo, os que defendiam a revolução proletária engasgavam para explicar o fato. A coisa era tão contraditória quanto uma das bebidas mais populares da época, a Cuba Libre, na qual se misturava o rum, bebida cubana e caribenha por excelência, com a imperialista Coca-Cola.

 

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