MÚSICA BRASILEIRA TEM 72% DO MERCADO
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Publicado
na Folha de S.Paulo,
quarta-feira, 6 de novembro de 1996
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Neste texto foi mantida a grafia original
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DANIELA ROCHA
da Reportagem Local
O mercado fonográfico brasileiro nunca esteve tão
bem, ao contrário do que pensa o ministro da Cultura Francisco
Weffort.
O ministro afirmou ontem, em Brasília, que estaria buscando
formas de proteger a indústria fonográfica nacional
da atuação ''desigual'' da indústria internacional,
sobretudo a americana.
Números de venda e listas das músicas mais tocadas em
rádios provam que o quadro não é bem esse.
Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Discos
(ABPD), 72% das vendas no país são de discos de música
brasileira.
"É chato não concordar com o ministro. A realidade
é que o mercado para música brasileira vai melhor que
nunca. As emissoras de rádio dedicam 85% do seu tempo à
música brasileira. Artistas brasileiros vendem mais do que
qualquer intérprete americano", afirmou o presidente da
ABPD, Manuel Camero, 61.
Dados levantados pelo Rádio Link (o "Ibope" das emissoras
de rádio, ligado à ABPD) apontam que dez entre as dez
músicas mais tocadas nas 15 principais estações
de rádio de São Paulo são de intérpretes
brasileiros (veja ao lado).
No Rio, com exceção do sucesso do porto-riquenho Ricky
Martin ("Maria", tema da novela "Salsa e Merengue"),
todas as outras músicas da lista das mais tocadas são
brasileiras.
Segundo dados levantados junto às principais gravadoras, as
vendagens de discos de artistas brasileiros também é
superior a dos discos de intérpretes estrangeiros.
As gravadoras multinacionais no Brasil investem cada vez mais nas
bandas e cantores brasileiros.
O exemplo de fenômeno de vendagens recente é a banda
Skank, que já atingiu a marca do 1,15 milhão de cópias
vendidas. Da mesma gravadora, Sony, o megastar norte-americano Michael
Jackson, top nas vendagens, teve 180 mil cópias vendidas de
seu último álbum "HIStory", que é duplo.
Mas o Skank nem é o primeiro da lista dos mais comercializados
da Sony. Outros dois brasileiros dividem o trono: Roberto Carlos e
a dupla Zezé Di Camargo e Luciano. Roberto Carlos atinge tradicionalmente
a marca do 1,5 milhão.
Da EMI, os últimos lançamentos de Negritude Júnior,
que já alcançou a marca das 400 mil cópias vendidas,
do Paralamas do Sucesso, 350 mil, e de Marisa Monte, 265 mil, também
vencem de goleada o registro de 60 mil cópias vendidas no Brasil
do último disco do duo britânico Pet Shop Boys.
Os exemplos não param aí. As 800 mil cópias vendidas
pela dupla Chitãozinho e Xororó batem de longe os 350
mil discos vendidos aqui do norte-americano Bon Jovi, principal best
seller da PolyGram.
Na mesma gravadora existem outros disparates. Gera Samba vendeu 600
mil cópias de seu último disco contra 250 mil do Metalica.
Simone vendeu 1 milhão de cópias; Elton John, dez vezes
menos.
Segundo o gerente de marketing da gravadora Virgin, João Franklin,
33, 80% do mercado é de repertório nacional. "Música
brasileira vende mais, toca mais nas rádios e aparece mais
na mídia do que a estrangeira. Faltou informação
ao ministro", disse.
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PRESIDENTE
CITA LEON TROTSKY EM DISCURSO |
O presidente
Fernando Henrique Cardoso citou Leon Trotsky (1879-1940), um dos líderes
da Revolução Russa, de 1917, em seu discurso durante
a solenidade do Dia da Cultura, realizada ontem em Brasília.
''Trotsky dizia que o grande orador, quando fala por sua garganta,
passa a voz de Deus. Num dado momento, a criação é
obra divina, transforma a liberdade em algo que marca'', disse FHC
para uma platéia de artistas, políticos e intelectuais.
O presidente afirmou que o líder comunista nunca foi de seu
agrado pessoal, mas sempre respeitou sua inteligência e lhe
prestou ''muitas homenagens''.
Para FHC, o país vive num clima de liberdade e, por isso, passa
por transformações. ''Se a liberdade não for
aproveitada pela criatividade dos artistas, ela não resulta
em cultura.''
Na solenidade, foram condecorados com a Ordem de Mérito da
Cultura, entre outros, os artistas plásticos Carybé
e Athos Bulcão, a atriz Bibi Ferreira, o banqueiro Olavo Setúbal
e até o ministro das Comunicações Sergio Motta.
No fim da cerimônia, FHC assistiu a um concerto da Orquestra
Sinfônica Brasileira, que tocou composições de
Carlos Gomes.
Na cerimônia, o ministro Weffort afirmou ainda não haver
definido quais serão os critérios de distribuição
dos recursos oriundos da lei sancionada pelo presidente Fernando Henrique
Cardoso que destina 1% da renda de loterias federais para o Plano
Nacional de Apoio à Cultura.
O ministro anunciou a criação de um programa de incentivos
fiscais para o teatro semelhante ao que já funciona para o
cinema, conhecido como Lei do Audiovisual.
O programa funcionará com reduções das alíquotas
do Imposto de Renda para as empresas que investirem em teatro. |
REPERCUSSÃO |
José
Ramos Tinhorão, 68, crítico de música - A
música popular é um produto destinado ao mercado do
mundo capitalista, portanto obedece suas regras. Este modo determina
que quem pode mais, chora menos: o Brasil pode menos, portanto chora
mais. Quanto a equilibrar o desnível da balança entre
as matrizes das multinacionais do disco, produtoras de música
de massa e a produção nacional, já foi tentado
por meio de legislação desde o tempo do presidente Jânio
Quadros. Só tem uma coisa: lei escrita não corrige lei
de mercado. Se há um país dominado pelo capital estrangeiro,
você não pode ter nenhum produto em que o brasileiro
se reconheça. O sr. Weffort que se contente com a filosofia
do neoliberalismo e não venha com enganação.
Se quiser um Brasil brasileiro, que volte aos seus princípios
ideológicos e pense em revolução.
Gilberto Gil, 54, cantor e compositor - Em geral, a noção
de protecionismo sempre foi vista com simpatia. Ela foi justificada
em determinadas épocas porque a quase hegemonia da música
estrangeira era evidente. Recentemente, tive informações
de que a presença da música brasileira melhorou muito.
Acho que a MPB é a menina dos olhos e da alma nacional e isso
garante sua sobrevivência. É preciso saber em que o ministro
se baseia para ter uma atitude como essa. Se ficar comprovada uma
vantagem da música estrangeira, isso passa a ser uma preocupação
legítima. Agora um aumento do espaço não significa
que vá haver mais democratização. Com a restrição,
saem o rock e o pop estrangeiro, mas quem entra? Sertanejo? Pop nacional?
Samba? Para mim, é quem estiver mais articulado no setor executivo
e mais no coração da massa.
Darcy
Ribeiro, 73, senador (PDT-RJ) - Acho a discussão razoável,
precisamos defender a música brasileira. Para mim, isso não
é a exclusão do país do convívio mundial.
Outros países têm mecanismos com esse mesmo objetivo.
Como senador, sou favorável a uma legislação
e uma regulamentação que, por exemplo, estimulem as
rádios e televisões que dêem preferência
à produção nacional.
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