Lenita
Miranda de Figueiredo
Não
é uma tendencia exclusiva da musica contemporanea o
emprego da melodia e do ritmo do imenso tesouro folclorico
e popular pelos compositores classicos. Em todos os
tempos os musicos têm buscado novos alentos para suas
obras. Brahms, Weber, Grieg, Liszt, Rimsky-Korsakov,
Glinka e muitos outros plasmaram suas composições com
temas populares e folcloricos.
Segundo
Ortiz Oderigo, Dvorak teria sido um dos primeiros compositores
eruditos a vislumbrar no idioma musical afro-americano
uma riqueza ritmica e melodica, digna da atenção. Parece-nos
entretanto que o inglês Delius o antecedeu, incluindo
fragmentos do cancioneiro negro em uma de suas obras.
Nessa mesma epoca outros compositores modernos sentiram-se
atraidos pela musica negra de Lousiana.
O
compositor e pianista Louis Moreau Gotschalk, que nos
visitou no seculo passado e morreu no Rio de Janeiro
em 1869, harmonizou muitos temas negros para celebres
obras como "The Banjo", "Le Bananier" e "La Bamboula".
Nesta ultima o autor captou uma visão melodica das danças
do Congo Square. Foi em 1884 que Delius visitou Washington
e durante sua permanencia na Florida consagrou-se ao
estudo das improvisações e danças da gente de côr. Escreveu
então a opera "Koanga" que registra uma "calinda" e
o oratorio "Appalachia".
A
obra de Dvorak, nesse campo, reveste-se de maior trancendencia
porque desde o seu aparecimento difundiu-se pelos Estados
Unidos e Europa, marcando de tal maneira um estilo renovador
que logo, os compositores chamados "serios" começaram
a se interessar pela musica chamada "coisa de negros".
Dvorak, em diversas oportunidades, recolheu melodias
do folclore de seu pais e utilizou-as como tema principal
de suas obras. Morando nos Estados Unidos de 1892 a
1895, pôde, nesses quatro anos recolher, pesquisar e
utilizar fragmentos dos "folksongs" de afro-estadunidenses.
Na
direção do Conservatorio Nacional de Musica de Nova
York orientou seus alunos para os caminhos nacionalistas
e nativistas, destacando os reais valores dos temas
negros, populares e folcloricos como um inesgotavel
manancial de recursos. Foi quando nasceu a "Quinta Sinfonia"
chamada "Novo Mundo", apresentada com sucesso inedito
pela Sociedade Filarmonica de Nova York em 1893.
Harry
Thacker Burieigh, compositor e cantor negro, afirma
que nessa sinfonia foram utilizados varios temas que
costumava cantar para Dvorak; canções de trabalho e
em especial "Swing Low Sweet Charriot" e que o compositor
teria usado fragmentos desses "spirituals" em muitos
trechos de sua obra. No "Quarteto Americano, Op. 96"
e no "Quinteto em mil bemol, Op. 97" também prevaleceriam
as mesmas caracteristicas da musica negra.
As
obras classicas começaram então a aparecer e anotar
acentuada influencia do folclore afro-americano e mais
tarde do "ragtime". O jazz penetrava indiscutivelmente
no dominio da musica erudita.