COMPOSITORES MODERNOS

HENRI SAUGUET

Publicado na Folha da Manhã, domingo, 24 de junho de 1951

Neste texto foi mantida a grafia original

Henri Sauguet, um dos grandes nomes da musica francesa contemporanea, nasceu em Bordeaux, a 18 de maio de 1901.
Desde jovem, dedicou-se à musica, iniciando sua carreira com estudos de piano e, posteriormente, de orgão. Aprendeu harmonia e com posição com Canteloube de Malaret. Em 1922, instalou-se em Paris, onde se tornou aluno de Charles Koechlin. Darius Milhaud, que se tornara seu amigo, aproximou-o de Erik Satie. A partir de então, Sauguet, com Maxibo Jacob, Cliquet-Pleyel e Désormière, formou o grupo que veio a denominar-se "École d'Arcueil".
Datam dessa epoca suas primeiras composições. Sauguet dedica-se inteiramente à arte de criar. Surge, em 1924, sua primeira opera-bufa: "Le Plumet du Colonel", representada nesse mesmo ano no Teatro dos Campos Elisios e, no ano seguinte, no Trianon-Lyrique.
Surgem mais tarde, "Françaises", peças para piano; uma sonata para piano, "Sonatina", para flauta e piano, "Melodias", sobre poemas de Paul Eluard e A. Copperie. Dessa fase, de intensa atividade criadora do novo compositor, são ainda: "Parafrase", sobre a Valsa das Rosas de Metra, para os espetaculos do Conde de Beaumont; "La Chatte" (1927), balé escrito para Serge Diaghilef, representado sucessivamente em Monte Carlo e Paris; "Melodias", sobre sonetos de Louise Labé.
Em 1928, escreve um balé: "David", dedicado a Ida Rubinstein. Representado inicialmente em Paris, o novo balé corre quase todas as capitais da Europa, alcançando sucesso. Os poemas de Schiller inspiram ao compositor uma serie de "Melodias", extremamente ternas e delicadas.
A obra de Sauguet é abundantemente e pessoal. Em 1929 compõe uma suite: "Près du Bal". Seguem-se-lhe: "Trois Feuillets d'Albums" para piano; "Deux Mélodies" ("Présence", sobre um poema de René Laporte, e "Amour et Sommeil", sobre um poema de Swinburne); "La Nuit", balé apresentado em Londres por Serge Lifar; "La Contrebasse", opera-comica; "Divertissement de Chambre", para cinco instrumentos; "Énigme", balada para coro e orquestra, sobre um poema de Heri Heine; "La Voyante", cena para canto e pequena orquestra; "Concerto", para piano e orquestra; "Les Ombres du Jardin", para soprano, tenor, baritono, baixo, pequeno coro misto e pequena orquestra; um quarteto de cordas; "Interludes", para orgão, guitarras e tamborins; "Fastes", balé em um ato de André Derain; "La Chartreuse de Parme", opera em quatro atos e onze quadros, com libreto de Armand Lunel; "Cartes Postales", balé burlesco, em seus quadros, representado no Teatro das Artes, em 1941; "La Cigale et la Fourmi", balé em um ato para marionetes, com cenario de Jacques Chesnay; "La Gageure Imprévue", opera-comica em um ato, libreto de Pièrre Bertin. Compôs ainda uma serie grande de melodias inspiradas em textos de Heine, R. M. Rilke, Rabindranath Tagore, Mallarmé, Laforgue e Baudelaire.
Destaca-se da obra de Sauguet, principalmente, seus "Quatro Poemas de Schiller" e a sonata em ré maior para piano. "Sua musica é simples, direta e sincera" - diz Paul Landormy. Dos quatro poemas de Schiller, o primeiro sobretudo, "Le Souvenir", e o ultimo, "Les Guides de la Vie", são de uma grande beleza e de rara profundidade de sentimentos.
Observa-se que essa atitude seria e meditava de Henri Sauguet, que faz lembrar Schubert, é nova entre os novos compositores franceses.
"La Chartreuse de Parme", uma das obras de folego do compositor, contem paginas marcantes. Extremamente belas, meditativas e sinceras são as "Melodias" sobre texto de Rabindranath Tagore.
É interessante colher o pensamento do proprio compositor sobre sua arte. Sauguet assim se expressa, numa correspondencia com Paul Landormy:
"Não possuo idéias sobre a musica. Considero minha arte como um meio, e não como um fim. Um meio de enternecer um pais onde sonho e no qual me sinto inteiramente integrado. Amo toda musica que enternece meu coração: a musica de Mozart, de Bach, de Beethoven, de Weber, de Chopin, de Schumann, de Schubert, de Debussy. Por que citar nomes?... Eu desejaria ser um grande compositor. É dificil e, creio, jamais o serei."
Mas a verdade é que Henri Sauguet ocupa hoje o seu lugar entre os grandes compositores contemporaneos.

- M.C.


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