Compositores Modernos

Manuel Rosenthal

Publicado na Folha de S.Paulo, domingo, 10 de junho de 1951

Neste texto foi mantida a grafia original


Para mencionar-se este compositor francês, é preciso não esquecer o cinema, o café-concerto e o radio. Eles nos darão um exemplo, um pouco excepcional é verdade, de Manuel Rosenthal.
Manuel Rosenthal nasceu em Paris, a 18 de junho de 1904. Em sua familia existiram poucos musicistas. Entretanto, sua mãe, amante da boa musica, decidira que seu filho aprendesse musica e, entre os nove e dez anos, Rosenthal começava a aprender a tocar violino com um modesto professor, que não possuia outra ambição senão a de fazer de seu aluno um bom amador.
Aos 14 anos, Rosenthal perde seu pai. A situação da familia, privada de seu chefe, torna-se extremamente difícil. O jovem Manuel se vê obrigado a trabalhar, para o sustento dos seus, sua mãe e uma irmã.
Entretanto, Madame Marcou, professora de solfejo no Conservatorio de Paris, toma-o sob sua proteção, fazendo-o ingressar em sua classe. De outro lado, Rosenthal se dedica seriamente ao estudo do violino, com Alterman. Ao cabo de um ano, o futuro compositor estava em condições de trabalhar numa orquestra de cinema (o cinema mudo de então, com suas pitorescas orquestras). Ao mesmo tempo, começa a estudar harmonia com Madame Marcou. Aos 16 anos, ingressa na classe de violino de Boucherit.
Mas aqui começa o drama. O violino não lhe interessa mais. Ele sonha com a composição. Já havia escrito alguma coisa. Nessa ocasião, entra em contacto com Honegger e Milhaud. Ignorava, então, totalmente, a existencia de Debussy, Ravel e dos compositores da mesma geração.
Em 1921, durante uma temporada da Sociedade de Arte e Ação, tem oportunidade de apresentar a primeira peça. Foi a sua estréia como compositor.
Aos 18 anos, escreve uma "Sonatina" para dois violinos e piano, que mostra a seu mestre Boucherit, que lhe declara: "É preciso apresentá-la em publico". Rosenthal entrega o manuscrito à Sociedade Musical Independente e a "Sonatina" é apresentada durante o 99.o concerto dessa sociedade, em fins de outubro de 1924. O compositor tinha então 24 anos. E sua "Sonatina" alcança sucesso. Logo que termina a execução, Rosenthal se precipita de seu "foyer" para cumprimentar os interpretes. Surpreende então Nadia Boulanger dizendo à pianista: "Então vejamos! É verdade que este senhor Rosenthal existe?"
A primeira obra de Rosenthal provoca comentarios os mais diversos entre os famosos compositores de então. Há mesmo uma especie de debate entre Ravel e Roland Manuel.
Após esse primeira exito, Rosenthal é obrigado a fazer o serviço militar. Nem assim abandona sua musica. Durante o seu tempo de serviço escreve algumas melodias, que são levadas pelo radio, em 1926, cantadas por Marcelle Gerar. Nessa ocasião, é o proprio Ravel que declara ao compositor: "Vós sois um verdadeiro compositor. É preciso trabalhar e continuar". São palavras de estimulo, partidas de quem são. E Rosenthal segue seus conselhos. Após uma "tournée" realizada por Ravel, os dois compositores encontram-se novamente. Nessa ocasião, o autor de "Bolero" demonstra seu desejo de dirigir os estudos do jovem compositor. Rosenthal trabalha, pois, durante três anos seguidos, sem descanso, com uma vontade indomavel de aperfeiçoar seus estudos. Entrementes, como é pobre e precisa trabalhar para manter seus estudos e subsistencia, continua como violinista do Moulin Rouge e do Cassino de Paris.
Mais tarde, com o auxilio de Ravel, conquista o premio Blumenthal, que lhe dá uma bolsa de vinte mil francos. A interferencia de Ravel em sua carreira fora decisiva. O proprio Ravel, de uma dedicação admiravel por seu aluno e amigo, interfere junto aos diretores da Opera Comica de Paris, Ricou e Masson, para que estes aceitem "Rauyon des Soiries", cuja partitura havia sido terminada por Rosenthal em fins de 1928.
"Rayon des Soiries" foi representada em junho de 1930 ao mesmo tempo que "Fou de la Dame", de Lelannoy, e "Angelique", de Jacques Ibert. No mesmo ano, Rosenthal apresenta a Jacques Rouché um balé em um ato, "Un Baiser pour Rien", representado em 1936.
Entrementes, ele conquista o cargo de regente. Ao mesmo tempo compõe musica para o cinema. Em março de 1933, ingressa para a orquestra nacional de radiodifusão, constituindo-se num dos melhores regentes de então.
O mais belo, o mais magnifico sucesso de Rosenthal, entretanto, foi sua obra "Joana D'Arc", executada pela primeira vez sob a direção do autor. É um drama musical inspirado no texto de Joseph Delteil.
Rosenthal é um apaixonado pela orquestra. Tem sempre algo de novo a encontrar na orquestração. Acredita que a orquestra é o unico meio de comover as multidões. É de opinião que sua musica não deve ser uma arte de elite. Sem nenhuma concessão ao efeito facil, ele se convenceu de que a musica pode empolgar o grande publico. É pois para o grande publico, para a massa, que ele escreve.

- M. C.


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