Para mencionar-se este compositor francês, é preciso
não esquecer o cinema, o café-concerto e o radio.
Eles nos darão um exemplo, um pouco excepcional é
verdade, de Manuel Rosenthal.
Manuel Rosenthal nasceu em Paris, a 18 de junho de 1904. Em sua
familia existiram poucos musicistas. Entretanto, sua mãe,
amante da boa musica, decidira que seu filho aprendesse musica
e, entre os nove e dez anos, Rosenthal começava a aprender
a tocar violino com um modesto professor, que não possuia
outra ambição senão a de fazer de seu aluno
um bom amador.
Aos 14 anos, Rosenthal perde seu pai. A situação
da familia, privada de seu chefe, torna-se extremamente difícil.
O jovem Manuel se vê obrigado a trabalhar, para o sustento
dos seus, sua mãe e uma irmã.
Entretanto, Madame Marcou, professora de solfejo no Conservatorio
de Paris, toma-o sob sua proteção, fazendo-o ingressar
em sua classe. De outro lado, Rosenthal se dedica seriamente ao
estudo do violino, com Alterman. Ao cabo de um ano, o futuro compositor
estava em condições de trabalhar numa orquestra
de cinema (o cinema mudo de então, com suas pitorescas
orquestras). Ao mesmo tempo, começa a estudar harmonia
com Madame Marcou. Aos 16 anos, ingressa na classe de violino
de Boucherit.
Mas aqui começa o drama. O violino não lhe interessa
mais. Ele sonha com a composição. Já havia
escrito alguma coisa. Nessa ocasião, entra em contacto
com Honegger e Milhaud. Ignorava, então, totalmente, a
existencia de Debussy, Ravel e dos compositores da mesma geração.
Em 1921, durante uma temporada da Sociedade de Arte e Ação,
tem oportunidade de apresentar a primeira peça. Foi a sua
estréia como compositor.
Aos 18 anos, escreve uma "Sonatina" para dois violinos
e piano, que mostra a seu mestre Boucherit, que lhe declara: "É
preciso apresentá-la em publico". Rosenthal entrega
o manuscrito à Sociedade Musical Independente e a "Sonatina"
é apresentada durante o 99.o concerto dessa sociedade,
em fins de outubro de 1924. O compositor tinha então 24
anos. E sua "Sonatina" alcança sucesso. Logo
que termina a execução, Rosenthal se precipita de
seu "foyer" para cumprimentar os interpretes. Surpreende
então Nadia Boulanger dizendo à pianista: "Então
vejamos! É verdade que este senhor Rosenthal existe?"
A primeira obra de Rosenthal provoca comentarios os mais diversos
entre os famosos compositores de então. Há mesmo
uma especie de debate entre Ravel e Roland Manuel.
Após esse primeira exito, Rosenthal é obrigado a
fazer o serviço militar. Nem assim abandona sua musica.
Durante o seu tempo de serviço escreve algumas melodias,
que são levadas pelo radio, em 1926, cantadas por Marcelle
Gerar. Nessa ocasião, é o proprio Ravel que declara
ao compositor: "Vós sois um verdadeiro compositor.
É preciso trabalhar e continuar". São palavras
de estimulo, partidas de quem são. E Rosenthal segue seus
conselhos. Após uma "tournée" realizada
por Ravel, os dois compositores encontram-se novamente. Nessa
ocasião, o autor de "Bolero" demonstra seu desejo
de dirigir os estudos do jovem compositor. Rosenthal trabalha,
pois, durante três anos seguidos, sem descanso, com uma
vontade indomavel de aperfeiçoar seus estudos. Entrementes,
como é pobre e precisa trabalhar para manter seus estudos
e subsistencia, continua como violinista do Moulin Rouge e do
Cassino de Paris.
Mais tarde, com o auxilio de Ravel, conquista o premio Blumenthal,
que lhe dá uma bolsa de vinte mil francos. A interferencia
de Ravel em sua carreira fora decisiva. O proprio Ravel, de uma
dedicação admiravel por seu aluno e amigo, interfere
junto aos diretores da Opera Comica de Paris, Ricou e Masson,
para que estes aceitem "Rauyon des Soiries", cuja partitura
havia sido terminada por Rosenthal em fins de 1928.
"Rayon des Soiries" foi representada em junho de 1930
ao mesmo tempo que "Fou de la Dame", de Lelannoy, e
"Angelique", de Jacques Ibert. No mesmo ano, Rosenthal
apresenta a Jacques Rouché um balé em um ato, "Un
Baiser pour Rien", representado em 1936.
Entrementes, ele conquista o cargo de regente. Ao mesmo tempo
compõe musica para o cinema. Em março de 1933, ingressa
para a orquestra nacional de radiodifusão, constituindo-se
num dos melhores regentes de então.
O mais belo, o mais magnifico sucesso de Rosenthal, entretanto,
foi sua obra "Joana D'Arc", executada pela primeira
vez sob a direção do autor. É um drama musical
inspirado no texto de Joseph Delteil.
Rosenthal é um apaixonado pela orquestra. Tem sempre algo
de novo a encontrar na orquestração. Acredita que
a orquestra é o unico meio de comover as multidões.
É de opinião que sua musica não deve ser
uma arte de elite. Sem nenhuma concessão ao efeito facil,
ele se convenceu de que a musica pode empolgar o grande publico.
É pois para o grande publico, para a massa, que ele escreve.
- M. C.