"Um 
                mestre, em toda a extensão do termo" - assim se refere 
                Paul Landormy ao compositor frances Charles Koechlin, falecido 
                recentemente em Camaden, no Departamento de Var.
                Charles Koechlin, filho de pais alsacianos, nasceu em Paris a 
                27 de novembro de 1867. Ingressando na Escola Politecnica de Paris 
                em 1887, abandonava os estudos dois anos depois para consagrar-se 
                inteiramente à musica.
                De 1890 a 1898 foi aluno do Conservatorio de Paris, onde estudou 
                harmonia com Taudou, contraponto, fuga e composição 
                com Massenet e Gédalge. Posteriormente, foi aluno de Gabriel 
                Fauré, ao mesmo tempo que Ravel, Roger-Ducasse, Ladmirault 
                e outros.
                As primeiras composições de Koechlin datam de 1900. 
                Nesse ano apareceu um volume, publicado pela editora Baudoux, 
                contendo dez melodias de dez diferentes autores, todos eles desconhecidos 
                ainda do grande publico francês: Pierre de Bréville, 
                Chausson, Vincent d'Indy, Alexandre Georges, Georges Guiraud, 
                Georges Hue, Ernest Le Grand, Guy Ropartz, Duprac e Charles Koechlin. 
                
                Koechlin ali aparecia com uma melodia, "Le Thé", 
                com versos de Banville. O compositor já demonstrava nessa 
                obra uma personalidade marcante.
                Seguem-se depois muitas outras obras, Koechlin mostrava-se um 
                compositor seguro, prolífico. Escreveu varias melodias, 
                coros, ensaios sinfonicos, obras dramaticas e estudos de toda 
                especie.
                Sendo pobre, não dispondo de recursos proprios para dar 
                maior expansão à sua vontade criadora, Koechlin 
                resolve, depois de 1914, dedicar-se ao ensino para ganhar a vida. 
                Esse tempo de professorado, segundo revela o proprio musicista, 
                foi-lhe muito util. Teve tempo para aperfeiçoar consideravelmente 
                sua arte. Para aprender melhor, nada como ensinar os outros. Escreveu 
                nesse periodo numerosas peças de musica de camara e outras 
                para orquestra, fugas, corais e a lista de suas diversas composições 
                é interminável.
                Possuia grande facilidade para compor e uma extraordinaria capacidade 
                de trabalho. Ao mesmo tempo que compunha, escrevia artigos de 
                critica ou para a historia de musica, sempre excelentes, obras 
                ricas de ensinamentos. Escreveu tambem varios livros sobre musica 
                e compositores. A biografia de Gabriel Fauré, escrita por 
                Koechlin, é uma obra-prima de penetração 
                psicologica e estetica.
                Que dinamismo, que força extraordinaria havia nesse homem! 
                Compunha, ensinava, escrevia artigos, livros, realizava conferencias 
                e viajava. Sua vida era um verdadeiro motocontinuo. Sua "Teoria 
                de Musica"; seu "Tratado de Harmonia" e seu "Tratado 
                de Orquestração", fizeram e farão epoca.
                Em 1918 viaja para os Estados Unidos, onde realiza uma seria de 
                conferencias. Retorna a esse país, com o mesmo objetivo, 
                em 1929 e depois em 1937.
                Espirito enciclopedico, todas as questões de que tratou, 
                ele as renovou. A harmonia, o contraponto, a orquestração 
                foram enriquecidas com novos elementos graças a ele de 
                ponto de vista imprevisiveis.
                De acordo com os criticos franceses, o que havia de notavel na 
                atitude de Charles Koechlin em face dos problemas esteticos era 
                a largueza de seu espirito. Nada de fechado, nada de estreito, 
                em sua concepção do belo musical. acomoda todas 
                as formulas, todos os sistemas. Compreende tudo. Admite tudo. 
                Ele proprio, quando escrevia musica para satisfazer-se, não 
                empregava uma linguagem única; ia da simples monodia ou 
                da harmonia a mais classica à politonalidade mais desenfreada. 
                Conservava uma concepção toda pessoal da liberdade.
                Entre as obras principais de Charles Koechlin podemos citar: "Suite 
                Legendaria" e "Danças Antigas", balés; 
                "Sol e Danças na Floresta", "No Mar", 
                "As Estações", obras sinfonicas: três 
                corais para orquestra e orgão; três quartetos de 
                cordas, "Jacó em Casa de Laban", pastoral biblica; 
                treze sonatinas, para piano;. "Sonata", para violino, 
                violoncelo, coro e flauta. 
                É autor, tambem, da orquestração de "Pelles 
                et Melisande", de Gabriel Fauré, do qual, como dissemos, 
                foi aluno.
                Charles Koechlin foi, outrossim, membro do juri musical de Cambridge, 
                professor de harmonia na Universidade de California e de musica 
                modal em San Diego.
                
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                M.C.