COMPOSITORES MODERNOS

LOUIS DUREY

Publicado na Folha da Manhã, domingo, 30 de setembro de 1951

Neste texto foi mantida a grafia original

Louis Durey formou ao lado de Honegger, Milhaud, Poulenc, Auric e Germaine Tailleferre, o famoso "Grupo dos Seis", o qual se propunha lutar por algo de novo na musica, renunciar às tradições estabelecidas, de fugir ao passado imediato, isto é, ao romantismo de Wagner e ao impressionismo de Debussy. Este grupo, na opinião do proprio Poulenc, criado durante a primeira guerra mundial, não tinha, em sua origem, outra caracteristica senão um agrupamento de amizades e não de tendencias. Posteriormente, pouco a pouco, idéias comuns foram se fixando e conduzindo seus integrantes à procura de novos caminhos na musica.
Louis Durey foi, por assim dizer, a alma do "Grupo dos Seis".
Nasceu em Paris a 27 de maio de 1888. De 1910 a 1914, dedicou-se ao estudo da harmonia, contraponto e fuga, alheio a qualquer escola, sob direção de Léon de Saint-Requier, o dirigente dos "Cantores de Salnt Gervais" e professor na "Schola Cantorum".
Nesse tempo, inicia sua carreira de compositor dando-nos "Dois Coros para Capela", inspirado em poemas de Henri de Régnier e Charles d'Orleans, e "Oferenda Lirica", seis melodias sobre poemas de Tagore.
Nessa epoca, Durey começa a sentir a influencia de Schoenberg e seu entusiasmo, ao mesmo tempo, pela escritura atonal. Desse periodo são "Três poemas de André Gide", melodias; "Deux Pièces pour Piano à Quartre Mains", "Éloges", três melodias; "Quarteto de Cordas" e "Images à Crusoé", sete melodias.
O segundo periodo da obra musical de Durey tem inicio com a influencia, completamente diferente, de Eric Satie e a essa fase pertencem: "Três Poemas de Petroneo", melodias; "Le Bestiaire"; "Segundo Quarteto de Cordas"; "Seis Madrigais", com poemas de Mallarmé; "Le Printemps au Fond de la Mer", para canto e dez instrumentos, letra de Jean Cocteau.
Durey passa, em seguida, por uma nova experiencia, que podemos denominar a terceira fase de sua obra. Esta fase caracteriza-se por uma reação contra uma simplicidade que estava ameaçada de descambar para a pobreza. O contraponto é muito complexo. Seu estilo torna-se romantico. Pode-se incluir nessa fase as composições: "Dois estudos para piano"; "Poema da Prisão", para canto e piano, inspirado em Guillaume Apollinaire; "Três Poemas de Rémy de Gourmont", para canto e instrumentos; "L'Occasion", drama lirico em um ato de Proeper Merimé; "Três Quartetos Vocais"; "Seis Poemas", para canto e piano, de Rainer Maria Rilke; "Seis Melodias", "Priére pour Dormir Heureux", com poema de Maurice Fombeure musica de cena para "O Intruso", de Maeterlinck.
Essas três fases, na opinião do critico francês Paul Landormy, marcam alguma indecisão e pouca resistencia às influencias de fora.
Segundo a unanimidade da critica. "Os Epigramas de Teocrito" e "Poemas de Petronio" estão entre as melhores composições de Durey.
Durey é um compositor de alma delicada; suas composições seguem uma linha simples, elegante e pura. É capaz de captar com extrema finura as nuances sutis da poesia mais delicada.
Sobre esse compositor extremamente simples e delicado, timido mesmo, diz Paul Landormy:
"As obras de Louis Durey seduzem -nos por seu encanto e sua discreta emoção. Por que não receberam elas o calor do aplauso publico? É que louis Durey nada fez para firmar sua reputação. Louis Durey é um timido, um modesto. Ele trabalha isolado, no silencio: ignora os salões mundanos; pouco frequenta as salas de concertos. Ele trabalha na sombra, assiduamente, pacientemente, raramente satisfeito com o que produz, sempre atento para fazer o melhor possivel com sua obra, num esforço perpetuo para chegar à perfeição. Não é absolutamente um homem de combate que se lança contra o publico até arrancar-lhe os aplausos."

- M.C.


© Copyright Empresa Folha da Manhã Ltda. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Empresa Folha da Manhã Ltda.