"La
Mer" (O Mar), de Claude Debussy, é uma suite em três
quadros sinfonicos, onde a fantasia não é mais do
que aparenta.
O espetaculo do mar se nos apresenta, simultaneamente, sob três
formas: o ruido das vagas, o seu movimento ondulante e, enfim,
o seu colorido, onde se combinam, numa permuta sempre instavel,
o reflexo da agua e do céu.
Para traduzir as três ordens de impressões que recebemos
deste espetaculo, a musica dispõe de três elementos:
suas sonoridades, para imitar a voz do mar; seus ritmos, para
sugerir o constante movimento das vagas, e suas harmonias e seus
timbres, para sugerir o equivalente das nuances e reflexos que
os olhos percebem.
Debussy, contemporaneo dos pintores impressionistas, utiliza-se
dos elementos de sua musica como os pintores de sua epoca, isto
é, com os elementos da pintura. O proprio carater dos três
quadros que constituem seu poema sinfonico mostra um desenho refletido:
a primeira parte se intitula: "Da Aurora ao Meio-Dia Sobre
o Mar"; a segunda: "Jogo das Ondas", e nos dá
bem a impressão de movimento do mar; e a terceira: "Dialogo
Entre o Vento e o Mar", apresentando-nos, sobretudo, o elemento
sonoro do espetaculo maritimo.
Estes três quadros não se limitam aos efeitos descritivos,
que são, forçosamente, sumarios: é na imaginação
que eles surgem, com raro poder de poesia, de impressões
mais que visões.